Diante dos horrores cometidos pelo Estado Nazista de Israel contra a população indefesa da Faixa de Gaza, tornou-se comum na imprensa a discussão sobre uma tal “pausa humanitária”. A expressão, aparentemente progressista – afinal, quem iria ser contra algo que carrega “humanitária” no nome? -, é tão inofensiva para o imperialismo que o próprio presidente norte-americano Joe Biden, em um teatro muito mal ensaiado, chegou a afirmar que ela seria bem-vinda.
A pausa humanitária não tem nada de humanitária de fato. Tanto é que ela está sendo abertamente discutida pelos representantes do Estado norte-americano. Não apenas Biden falou em discurso a favor da pausa, como o seu secretário de Estado tem efetivamente um plano para ela.
Conforme apresentado pelo jornal The New York Times, Anthony Blinken advoga em favor da “pausa humanitária” porque a opõe ao chamado “cessar-fogo”. A pausa humanitária, denunciada pelos países árabes como extremamente insuficiente, nada seria além de um intervalo nos bombardeios de Israel sobre a Faixa de Gaza para que possa haver o deslocamento de refugiados e o envio de ajuda humanitária.
Não se trata de uma proposta de fim da guerra, mas apenas de uma “pausa” para reorganizar a guerra. Neste momento, o único efeito prático da pausa seria o de permitir a saída de alguns refugiados e o envio de alguns alimentos e remédios. No mais, em nada mudará a situação dos dois milhões de pessoas que estão em Gaza.
A farsa fica ainda mais evidente quando Blinken argumenta contra o “cessar-fogo”. Segundo ele, isso iria “simplesmente deixar o Hamas em paz e em condições de se reagrupar e repetir o que fez em 7 de outubro”.
Com essas palavras, Blinken revela que quem é a favor da “pausa humanitária” é, portanto, a favor da guerra. Blinken é contra a moderada proposta de um cessar-fogo porque não quer cessar-fogo algum: em essência, sua posição é a mesma do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, para quem os bombardeios à Faixa de Gaza só devem parar quando o Hamas for “exterminado”.
O que os Estados Unidos farão durante a tal “pausa”? Irão retirar todos os dois milhões de palestinos de Gaza e lhes fornecer passaporte e emprego para que sejam cidadãos norte-americanos, enquanto Israel persegue exclusivamente os membros do Hamas? É evidente que não. E se não é isso, não adianta Blinken falar que o problema é o Hamas, pois tão logo voltassem os bombardeios, continuariam morrendo crianças e civis.
Bem que os Estados Unidos gostariam que uma quantidade de palestinos migrassem para outros países durante a tal “pausa” – assim diminuiria a pressão na própria Faixa de Gaza. Mas por migrar, entenda, leitor, não o caso acima, em que o palestino iria virar um cidadão norte-americano ou europeu, mas sim o deslocamento para países vizinhos, onde terão uma vida miserável.
O problema é que nem mesmo essa possibilidade parece estar sobre a mesa, pois os países árabes, aliados há décadas do imperialismo, hoje veem com muita preocupação a imigração de refugiados, uma vez que poderá levar a uma futura desestabilização interna. Afinal, em todos os países da região, já há uma mobilização pró-Palestina muito intensa.
E se não serve de nada, por que os Estados Unidos estão discutindo a tal “pausa humanitária”? Por um único motivo: reduzir a pressão da opinião pública contra o regime. Em todo o mundo, incluindo os Estados Unidos, a mobilização popular contra o massacre do povo palestino não para de crescer. A crise é tão grande que uma pesquisa recente mostrou que 84% dos norte-americanos estariam preocupados com uma futura participação do exército de seu país na guerra.
E não é essa a única preocupação. Os Estados Unidos são um país com uma grande população imigrante, que tende a se radicalizar diante do que está sendo feito com o povo palestino.
Há não muito tempo, o assassinato de um negro por um policial serviu de estopim para uma onda de mobilizações, em especial da população imigrante e da população de ascendência africana. Algo parecido pode acontecer diante do apoio dos Estados Unidos ao genocídio em curso.
A preocupação com a situação interna não é uma exclusividade dos Estados Unidos e da Europa. Os governos árabes, que apresentam uma posição muito vacilante, quando não de cumplicidade com Israel, estão se sentindo pressionados pela sua população. Afinal, árabes e palestinos são um mesmo povo – e, portanto, a solidariedade com a causa palestina é total.
“Ao discutirmos medidas para parar a guerra, não podemos ignorar o contexto mais amplo e a necessidade de baixar a temperatura regional que está se aproximando do ponto de ebulição”, afirmou Noura al-Kaabi, ministro de Estado dos Emirados Árabes.
A “pausa humanitária”, portanto, permitiria aos Estados Unidos não apenas dar uma “pausa” nas tensões, possivelmente até esfriando as mobilizações, como ainda ajudaria a forjar a imagem de um país diplomático, sensato, que teria sido protagonista nos esforços para alcançar a “paz”.
A fraude norte-americana deve ser denunciada energicamente. A única política humanitária possível é exigir o fim imediato dos bombardeios, a saída de todas as tropas de Gaza e a condenação de Israel por seus crimes de guerra. Do contrário, rapidamente os ataques covardes de Israel irão voltar e continuar promovendo um banho de sangue.