Diante do cerco que setores golpistas da direita promovem contra Jair Bolsonaro, o qual tem como objetivo desgastar a imagem do ex-presidente e consequentemente diminuir a influência política do bolsonarismo no país, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) resolveu embarcar na fantasiosa política em defesa da prisão de Bolsonaro. Em nota divulgada na sua página oficial da internet e assinada pelo seu Comitê Central, o partido pediu “Punição para os crimes de Bolsonaro e seus comparsas” e, em alusão à suposta tentativa de golpe no 8 de janeiro, destacou a expressão “Sem Anistia”.
Para o PCB, as oitivas da “CPI do 8 janeiro” e as investigações da Polícia Federal estariam evidenciando pouco a pouco um esquema criminoso que teria sido orquestrado dentro do Palácio do Planalto. Entre as denúncias contra o ex-presidente, o partido destacou a venda de joias que teriam sido presentes de autoridades da Arabia Saudita em visitas oficiais realizadas por Bolsonaro e outros integrantes de seu governo. A prisão de Bolsonaro seria um “acerto de contas histórico com a extrema-direita e seu projeto reacionário de poder”. Mas quem é que vai punir o ex-presidente?
A questão das joias ganhou muita repercussão nas últimas semanas e está sendo utilizada pelo PCB para validar processos contra Bolsonaro que finalmente são políticos. O ex-presidente foi incluído nas investigações do “8 de janeiro” de forma totalmente arbitrária, Bolsonaro teria “instigado” seguidores para um golpe. Mesmo que o ex-presidente tenha cometido algum crime e é muito possível que sim, o processo deveria ser anulado por conter irregularidades do ponto de vista legal. Foi atropelando a lei que operações farsescas como o processo do Mensalão e a Lava-jato foram levadas a cabo contra os interesses da população.
O PCB aventa, assim como boa parte da esquerda, que Bolsonaro teria recebido as joias como pagamento por entregar a Refinaria Landulpho Alves na Bahia (RLAM) para o fundo árabe Mubadala ao menos pela metade de seu valor real. Então qual a relação das joias com o “8 de janeiro”? Fica evidente que Bolsonaro não está sendo julgado pelos verdadeiros crimes que cometeu, isso não interessa à burguesia. A reversão da entrega dessa refinaria poderia abrir uma crise muito grande e o caminho para anular todas as privatizações realizadas em seu governo como é caso da Eletrobrás.
Neste sentido, o PCB reconhece que os crimes mais deletérios de Bolsonaro, como a política genocida diante do período mais crítico da pandemia da COVID-19, ficaram de fora dos processos contra o ex-presidente. Ainda assim, chama as organizações populares, sindicais e da juventude a intensificar a suposta luta pela punição de Bolsonaro. Mesmo diante de dados concretos que evidenciam a farsa montada, o PCB se lança de cabeça e serve aos interesses da burguesia.
A esquerda pequeno-burguesa de conjunto não compreende que junto com o regime político brasileiro as forças de centro (a direita tradicional) também entraram em crise, a radicalização das bases desses setores levou a um esvaziamento muito considerável dos mesmos. Foi esse movimento que permitiu Bolsonaro capitalizar tal público e se tornar uma força política real e, mais, a principal dentro de todo espectro da direita. Diante disso, o centro político busca recuperar o terreno perdido para Bolsonaro se apresentando como defensor da “democracia” e a esquerda pequeno-burguesa tomada pela histeria do combate ao fascismo adere a essa política.
Para se combater o “Fascismo de Bolsonaro” vale até mesmo abraçar o capeta para o PCB, o partido chegou a assinar junto com os banqueiros, empresários e ministros do STF a carta em defesa da “democracia” com amplo apoio da imprensa golpista às vésperas das eleições.
A participação dos militares na sabotagem ao governo Lula no dia 8 de janeiro, um ato para desmoralizar o presidente da República recém-eleito e que foi apresentado como uma tentativa de golpe pelos bolsonaristas, também foi denunciada pelo PCB na nota publicada. O que não se viu foi qualquer reivindicação no sentido de acabar com a tutela militar que existe sobre o regime político no país desde sempre. A conclusão que poderia se chegar é que Bolsonaro seria o único responsável pelo golpismo no Brasil, caberia ao PCB esclarecer como é que se deu o golpe de 1964 sem o líder de extrema-direita para dirigir os generais das Forças Armadas.
Enquanto os verdadeiros criminosos continuam livres, sobra muita comemoração em virtude da condenação de uma faxineira e um manicure por Alexandre de Moraes, as quais seriam grandes golpistas do “8 de janeiro”. O ministro do STF passou a encenar um combate ao Bolsonaro depois da vitória de Bolsonaro em 2018, mais do que esquema de difusão mensagens falsas pra “fraudar” as eleições não faltaram, o grande herói da esquerda pequeno-burguesa não se inteirou sobre aprovação de um pacote bilionário no parlamento para compra de voto às vésperas das eleições.
Apesar de reconhecer a força política do bolsonarismo que estaria representada nos principais governos estaduais do país (SP, MG, RJ e DF) e também no parlamento, o PCB vê inegabilidade de Bolsonaro como algo a se comemorar, um equívoco político da maior gravidade. Basta ver o que ocorre com Donal Trump, o ex-presidente norte-americano é vítima de perseguição política em uma série de processos, no entanto, segue liderando a corrida eleitoral.
É isso que a esquerda pequeno-burguesa não capaz de compreender, esse tipo de medida, assim como foi a prisão de Lula, gera um clamor social no sentido oposto. As consequências num cenário de grande polarização, onde praticamente metade da população apoia Bolsonaro, pode ter consequências bastante adversas para o conjunto da esquerda. Por isso, o combate ao bolsonarismo deve se dar no terreno político, por meio da mobilização popular nas ruas de todo país.
Abandonar a luta política contra o bolsonarismo para confiar a resolução do problema às mãos do estado controlado pela burguesia, além de demonstrar uma completa falta de compreensão sobre a situação política atual do país e do mundo, mostra também que o PCB não é um partido sério e muito menos marxista. Recrutar seu público para a crença nas instituições somente fortalece as forças reacionárias representadas por Alexandre de Moraes e pelo Supremo Tribunal.