O PCB publicou, no último dia 6 de abril, uma nota política em que avalia o arcabouço fiscal apresentado pelo governo. O artigo, chamado “Pacote fiscal de Haddad é rendição à agenda neoliberal da burguesia”, critica a política econômica.
Pelo próprio título já fica claro que a posição do PCB retoma a velha fórmula que levou a esquerda pequeno-burguesa – incluindo o próprio PCB – a se colocar numa posição de aliança com a direita golpista quando Dilma Rousseff foi derrubada.
Para o PCB, Lula é “neoliberal” porque apresentou tal pacote, sua eleição foi um “estelionato eleitoral”. Todos esses termos, não por coincidência, foram repetidos pela esquerda pequeno-burguesa que se negou até o limite de lutar contra o golpe. O PCB diz o seguinte:
“Este é um exemplo típico de estelionato eleitoral, pois na campanha de 2022 o então candidato Lula fez severas críticas à lógica do teto de gastos, mas agora rende-se ao modo de agir da burguesia para manter a ‘confiabilidade’ do mercado.”
Criticar a política econômica de Haddad é fácil e dentro dos limites da política do governo Lula, ou seja, um governo de conciliação, pode-se e deve-se criticar à vontade. Mas o que o PCB faz não é uma crítica de fato.
O que o artigo mostra é que o PCB está procurando uma desculpa para se opor à luta contra um eventual golpe contra Lula. É exatamente o que fez Boulos, setores do PSOL, o PSTU e o próprio PCB quando Dilma estava sendo derrubada pela direita. Naquele momento, a desculpa era o “ajuste fiscal” de Dilma. Era um erro do governo? Claro! Era, inclusive, uma manobra dos golpistas para enfraquecer ainda mais o governo. A luta central, no entanto, seria contra o golpe, não os ajustes. Tanto que com o golpe, Temer e Bolsonaro, o Brasil foi devastado.
Quando o PCB diz que o governo Lula é neoliberal, está preparando mais uma desculpa para ficar ao lado da direita que se opõe ao governo.
Qual seria, então, a política correta de um partido revolucionário? O problema é como impulsionar entre os trabalhadores uma mobilização que permite que um governo de conciliação, como o de Lula, se apoie no povo para conseguir medidas de interesse da população. É preciso mostrar que medidas como a do arcabouço fiscal não são apenas ruins para os trabalhadores, mas inócuas até mesmo no que diz respeito de manobras para conter a política da direita.
A direita se articula para uma nova ofensiva contra o governo. A vitória de Lula foi uma derrota do golpe, mas não é o suficiente para conter a ofensiva direitista. Lula enfrenta a oposição da maioria no Congresso, a conspiração das Forças Armadas, a política “independente” do Banco Central. Nenhuma manobra institucional será suficiente para conter a direita. É preciso, então, convocar uma mobilização que coloque em marcha um programa de luta pelos interesses do povo e que consiga impor uma derrota aos golpistas.