Nesta quarta-feira (10), foi instaurada na Assembleia Nacional Francesa comissão parlamentar de inquérito para investigar manifestantes que combateram com convicção o aparato de repressão do Estado imperialista francês durante os protestos contra a reforma da previdência. Solicitada pela maioria presidencial, a CPI é destinada expressamente contra “pequenos grupos autores de violência durante as manifestações“.
Sob protestos de deputados da LFI (França Insubmissa), partido de esquerda fundado por Jean-Luc Mélenchon, a comissão foi aprovada por 204 votos contra 47. Os deputados do referido partido acusam a maioria presidencial de utilizar a comissão para “criminalizar as oposições” e “desviar” o desafio da reforma das pensões. Denunciam também que o governo Macron tem “uma pesada responsabilidade política pela violência“, afinal, foi ele quem impôs a reforma da previdência. Por fim, apontaram a responsabilidade da polícia pela violência, enfatizando que vários manifestantes foram mutilados.
Pondo às claras sua demagogia diante do acirramento da luta de classes, a extrema-direita, na pessoa do deputado Julien Odoul, apoiou a criação da CPI. Acho ainda que a maioria presidencial agiu de forma suave, pois não mencionou as “milícias de extrema-esquerda, antifas, black blocks, anarquistas, ecologistas extremistas” que “enganam movimentos sociais há anos“.
Está-se, aqui, diante de uma ofensiva do governo Macron e da burguesia contra a classe trabalhadora francesa, em especial seus elementos mais organizados e combativos.
Conforme noticiado no jornal Le Monde, a comissão visa focar na “a estruturação, o financiamento, os meios e as modalidades de actuação dos pequenos grupos responsáveis pela violência“, em especial durante os protestos que transcorreram entre os dias 16 de março de 3 de maio de 2023. Recordando, foi no dia 16 que Macron acionou o art. 49.3 da Constituição francesa, atropelando o parlamento e a vontade das ruas, para aprovar à força a reforma da previdência, o que levou a um acirramento das manifestações.
Para reprimir a justa revolta dos trabalhadores e do povo, o reacionário Macron jogou todos os gendarmes do Estado imperialista francês contra a população, gerando cenas abjetas de violência. Caso estas cenas fossem vistas em países como Venezuela, Irã, Nicarágua, Cuba etc, toda a imprensa pró-imperialista estaria fazendo uma intensa campanha de difamação. Contudo, como foi na França, estado central do imperialismo, pouco foi dito.
Apesar da extrema violência da polícia francesa contra a própria população, deixando inúmeros feridos e resultando na prisão arbitrária de várias pessoas, o governo e a Assembleia Nacional irão investigar apenas os manifestantes, por meio da CPI.
O caráter de classe do Estado fica claro nessas situações. A comissão parlamentar tem um claro objetivo de perseguição política contra os trabalhadores, estudantes e os elementos mais ativos dos protestos.
Busca intimidar e conter futuras manifestações.
O fato de que a CPI foi instaurada por maioria esmagadora demonstra a unidade da burguesia na repressão contra o proletariado francês.
É mais um sinal do acirramento da luta de classes no país europeu.
Diante disto, a esquerda e a classe trabalhadora da França não têm alternativa senão intensificar as mobilizações, e direcioná-las contra o governo Macron, levantando perante as massas a necessidade de sua deposição.