Nesse domingo, Santiago Peña, do Partido Colorado, de direita, foi eleito presidente do Paraguai. Segundo a Justiça Eleitoral do país após apuração de 99,89% das urnas, com 42,74% dos votos válidos, Peña ficou na frente de Efraín Alegre, com 27,48%, e de Payo Cubas, com 22,92%. O direitista assumirá o cargo no dia 15 de agosto em um mandato de cinco anos.
Peña é defensor da política oficial do imperialismo. Ele é um economista com formação nos Estados Unidos que, aos 30 anos, foi trabalhar no Fundo Monetário Internacional (FMI), umas das principais organizações imperialistas de intervenção econômica em outros países. Seu partido, o Colorado, domina a política paraguaia e está no poder há cerca de 50 anos.
Ao que tudo indica, sua eleição foi preparada pessoalmente pelos servições de inteligência norte-americanos. No começo deste mês, Mario Abdo, o atual presidente do país, revelou que foi visitado pelo vice-diretor da CIA David Cohen para discutir assuntos relativos à “segurança nacional”.
“Recebemos uma visita de David Cohen, vice-diretor da CIA dos EUA, com quem discutimos o fortalecimento da cooperação entre nossos países em questões de segurança nacional”, disse Abdo após encontro que foi confirmado pela embaixada dos Estados Unidos em Assunção.
Antes disso, o ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Julio Arriola, esteve em Washington, onde se reuniu com ninguém mais, ninguém menos que Antony Blinken, o secretário de Estado dos EUA.
Ou seja, o imperialismo estava acompanhando de perto a situação no país latino-americano. E não é à toa, já que o Paraguai é um dos únicos do mundo – e o único na América do Sul – que reconhece Taiwan como a “República da China”. É, acima disso, um importante parceiro comercial com a ilha roubada dos chineses pelos Estados Unidos que facilita o comércio taiwanês na região e no mundo.
Peña, diferente de outros candidatos, defendia a manutenção das relações entre Paraguai e Taiuan. Uma indicação clara de que sua eleição tem a digital dos Estados Unidos, seguindo sua longa tradição de intervenção em países atrasados, principalmente em suas eleições. E o povo paraguaio entende o problema dessa maneira.
Nessa segunda-feira, Dia Internacional do Trabalhador, manifestantes entraram em confronto com a polícia na capital do Paraguai contra o resultado eleitoral. Concentrando-se em frente à sede do Tribunal Superior de Justiça Eleitoral, o protesto acusou fraude e manipulação no processo eleitoral. Que foi, diga-se de passagem, realizado pela primeira vez com a utilização de urnas eletrônicas.
Ao menos 74 pessoas foram detidas até a manhã dessa terça-feira (02) segundo a Polícia Nacional do Paraguai. Os manifestantes, apoiadores do terceiro colocado na corrida eleitoral, Payo Cubas, bloquearam as ruas nos arredores da Corte Eleitoral, atirando pedras contra os policiais que, por sua vez, utilizaram balas de borracha e bombas de efeito moral.
Cabe ressaltar que Cubas, apelidado pela imprensa burguesa brasileira de “Bolsonaro do Paraguai”, é, como a alcunha indica, um candidato da extrema-direita. Acima disso, é um candidato direitista fora do controle do principal setor do regime político paraguaio, mais um motivo pelo qual os Estados Unidos poderiam ter golpeado o sistema eleitoral do país.
O segundo colocado, Efraín Alegre, que se diz de esquerda, também acusou fraude nas eleições. Em seu perfil no Twitter, exigiu recontagem dos votos com a contratação de uma auditoria internacional para revisar o processo.
“Continuamos atentos e mobilizados. A validade e legitimidade da proclamação dos resultados depende da adoção dessas medidas para que reflitam fielmente a vontade popular”, disse o agora ex-candidato.
O povo está descontente com o resultado que, “coincidentemente”, manteve o partido do regime, o partido amigo do imperialismo no poder, que agora vestiu uma roupagem super identitária, mas que é o mesmo velho Partido Colorado.
Antes disso, é preciso notar a ausência de uma verdadeira esquerda paraguaia no processo eleitoral. Afinal, os candidatos mais bem votados são 1) um direitista; 2) um frente-amplista; e 3) uma figura de extrema-direita. Nenhum deles representa os verdadeiros interesses da classe operária, jogada aos braços da direita e da extrema-direita na falta de uma política progressista de fato acertada.