A crise do Banco Central com seu presidente Bolsonarista, Campos Neto, levou a imprensa burguesa a defender avidamente a sua “independência”. O presidente Lula se chocou com o BC em fevereiro deste ano e desde lá o confronto só cresceu, já houve atos de rua em várias cidades do Brasil e para dia 20 a CUT convoca um ato nacional contra a “indepêndencia” do BC. A imprensa portanto para manter o governo Lula refem dos bancos usa o governo Boric como ferramenta para tentar convencer os esquerdistas a não se mobilizar contra o BC. É uma das grandes utilidades da esquerda pró-imperialista, usa como contraponto para atacar a esquerda nacionalista.
A Folha de São Paulo publicou um editorial atacando a política de Lula usando o governo Boric. O artigo intitulado “Seguro contra partidos” afirma que “Demagogia de Lula o impede de admitir que a autonomia do BC é aliada do governo”. A imprensa burguesa usa a frase do ministro da fazenda do Chile para atacar a política de Lula: “Apoiar bancos centrais independentes não é de todo alheio à política progressista, dado que a inflação é uma importante fonte de desigualdade econômica”. Segundo a Folha essa é a política do “governo esquerdista” do Chile.
É preciso ficar claro que Boric é um neoliberal de primeira linha. Ele é a alternativa esquerdista que o imperialismo teve de usar no Chile dado o tamanho da crise social no países, com mobilizações de rua constantes desde 2019. Mas Boric é o maior representante da esquerda pró imperialista, sua política de “esqueda” é ser identitário. Nas questões sérias, da economia, de revogar o neoliberalismo imposto pela ditadura militar de Pinochet, de defender a população indígena Mapuche que trava uma luta pela terra, de soltar os presos políticos do governo de extrema-direita de Piñera, nada disso é comentado por Boric. Por outro lado ele tem um ministério com paridade entre homens e mulheres, tatuagens e deixa o Banco Central do Chile sob o controle dos bancos internacionais, ou seja, muito progressista.
O interessante é que o Banco Central do Chile é “independente” desde 1989, ou seja, no fim do governo Pinochet. A burguesia não se importava quando quem controlava o BC chileno era um homem de sua confiança, mas quando esse teve de ser substituído dada a enorme crise social ela garantiu que o BC fosse autônomo. A Folha afirma que o BC “independente” é algo progressista, mas na verdade é a política da ditadura militar chilena, não é nem possível botar na conta de Boric. Mas o presidente neoliberal também não se incomoda com a situação dado que ele se queima menos não sendo ele o responsável por aplicar a política econômica neoliberal, mas sim Rossana Costa, a presidenta do BC.
O governo Boric que foi eleito para governar com uma tese de esquerda possui em uma de suas instituições mais importantes, se é que é possível dizer que ele faz parte do governo dado que é “autonomo”, uma mulher ligada aos bancos internacionais. Rossana trabalhou com o FMI na década de 1990 e depois no think tank Instituto Libertad y Desarrollo, uma organização ultra neoliberal do imperialismo. É semelhante a Campos Neto, o bolsonarista ligado a Paulo Guedes, que por sua vez também trabalhou no Chile durante a ditadura de Pinscher. O curioso é que não importa o governo o BC “independente” sempre termina com um presidente neoliberal.
O ministro da fazenda de Gabriel Boric portanto não considera ruim a política econômica dos bancos internacionais imposta por Rossana Costa. Por isso Boric é tão útil ao imperialismo, é o governo de esquerda ideal. Faz demagogia identitária mas na prática atua como um FHC mais inibido, mas com a sua mesma política. Boric é um homem do imperialismo governando o Chile, ele não deve ser admirado por nenhum trabalhador chileno, brasileiro ou de qualquer lugar do mundo. É fruto de um golpe bem-dado de convencer a população de que um direitista iria aplicar uma política de esquerda. É semelhante ao que era o PSDB em seu princípio, supostamente o partido da social-democracia, impôs uma verdadeira ditadura neoliberal.
A Folha termina o seu artigo com uma afirmação de primeira importância: “A demagogia do mandatário o impede de admitir que o Banco Central autônomo é um dos principais aliados do seu governo. A instituição protegeu o país e o chefe de Estado das ideias econômicas amalucadas e destrutivas do PT.” A própria imprensa burguesa afirma que o BC independente é um organismo ditatorial. No argumento da Folha o BC protege o Brasil do PT, ou seja, protege o Brasil do governo eleito. A Folha deixa nas entrelinhas que não se deve existir democracia, o povo, que elegeu Lula, não pode ter a sua política econômica aplicada. É uma ditadura velada dos bancos.
O Chile de Boric nesse sentido é um grande exemplo. Não importa que o governo seja fruto de uma imensa popular contra o regime político que surgiu para salvar a política neoliberal de Pinochet, quem manda são os mesmos bancos que mandam desde que Salvador Allende foi derrubado. Lula por sua vez tenta ter um governo independente, não ser um escravo dos bancos, e por isso quer o controle do Banco Central, que seria uma ferramenta para impedir que os banqueiros controlem o Brasil. Por isso Boric é tão adorada pela imprensa e Lula tão caluniado.