No dia 22 de abril, o PSTU publicou um artigo em seu sítio na internet procurando analisar a crise envolvendo o governo e os vazamentos do vídeo do general Gonçalves Dias, agora ex-GSI: “Crise no GSI: A relação de capitulação do governo Lula à cúpula militar”.
O episódio foi para o PSTU a oportunidade de mais uma vez criticar o governo Lula e chama-lo de direitista. É como se o PSTU fizesse o papel invertido do bolsonarismo. Enquanto estes afirmam que Lula foi responsável pelo 8 de janeiro, já que seu general “de confiança” ajudou os manifestantes, o PSTU afirma que Lula é culpado por “blindar” os militares:
“Esse episódio todo mostra que o governo Lula blinda os militares; não combate os golpistas e o bolsonarismo nem o mais minimamente à altura do que seria necessário. E com isso abre espaço inclusive para as fake news bolsonaristas.”
O interessante do PSTU não são apenas suas posições políticas erradas, mas a maneira de fazer política totalmente fora da realidade. Primeiro, antes de acusar Lula de “blindar” os militares seria preciso compreender a realidade. Lula nem poderia ter essa política, justamente porque os militares são contra ele. O que Lula está fazendo é tentar a todo o momento manobrar com um situação muito delicada. Ele tem o grosso das Forças Armadas contra ele, dominadas pelo bolsonarismo.
A natureza política do governo Lula, ou seja, de conciliação de classes, o faz acreditar que essas manobras serão suficientes para resolver o problema. Como ficou claro tanto no dia 8 como com esse vazamento, essas manobras não serão suficientes para frear a ação golpista dos generais.
Ao acusar Lula de blindar os militares, o PSTU desvia a atenção do problema central, que é justamente as investidas golpistas contra o governo, acusando Lula de ser cúmplice dos militares golpistas. Cúmplice do próprio golpe que está sofrendo.
Como o PSTU propõe que Lula, lembrando ser ele um governo de conciliação, combata os militares, diante de tal situação delicada?
“A classe trabalhadora deve confiar nas suas próprias forças, na sua mobilização, defender e exigir efetivamente nenhuma anistia a golpista.
“E devemos debater e organizar a autodefesa nas organizações operárias e populares: sindicatos, movimentos populares, indígenas, camponeses, estudantis, negro e negras, mulheres, LGBTIs etc. A classe trabalhadora e a juventude não devem confiar no governo Lula, nem no STF ou nessa democracia dos ricos para derrotar a extrema-direita, e sim na sua mobilização e organização.”
É certo que é preciso uma mobilização e que os trabalhadores devem confiar nas instituições burguesas. Mas como relacionar isso ao governo Lula, um governo de conciliação que foi eleito como uma reação ao golpe de Estado?
Ao dizer que não se deve confiar em Lula, o PSTU não está chamando o povo que confia em Lula a se mobilizar e é esse justamente o ponto central da política.
É preciso impulsionar uma mobilizar não para “não confiar em Lula”, mas para impulsionar uma política que seja de interesse dos trabalhadores. O combate aos generais golpistas, inclusive, deve se dar no marco dessa mobilização. O governo só terá forças para enfrentar os militares com mobilização e esse enfrentamento é inevitável, independentemente da política de Lula.