Uma das lideranças da OTAN, Gunther Fehlinger, defendeu nesse dia 26 de agosto, em suas redes sociais, a separação do Brasil em cinco estados diferentes. Seria, em sua argumentação, uma punição necessária para conter a aproximação do Brasil com a Rússia no BRICS, o que ele chama de “eixo corrupto e genocida”.
Não é a primeira e provavelmente não será a última vez que o imperialismo demonstra seu interesse em destruir completamente o Brasil, assim como fez com diversos outros países no mundo. Entretanto, desta vez, não foi uma campanha ideológica identitária ou uma picuinha de algum jornalista da imprensa burguesa. Trata-se de um economista austríaco identificado como o “Presidente do Comitê Europeu para o Alargamento da OTAN no Kosovo, Ucrânia, Bósnia, Áustria, Moldávia, Irlanda e Geórgia.”
A “Doutrina Fehlinger”
Gunther Fehlinger disse exatamente sobre o Brasil em seu ex-Twitter:
“Após esta cúpula #BRICS começo a me perguntar se Lula, Socialista Corrupto, não é a esperança do Mundo Livre, mas conduzirá o Brasil 🇧🇷 na mesma direção que Rússia, China, Irã 🇮🇷. Deixo bem claro que se você, @LulaOficial, aderir ao eixo hostil do Genocídio, vou convocar o desmantelamento do Brasil 🇧🇷.”
Em seguida, ela publicou a foto do país dividido em cinco países diferentes, cada um com suas próprias bandeiras: “República Popular da Amazônia”, “Nordeste”, “São Paulo”, “Sul” e “Últimos sete Estados brasileiros”. Fehlinger fez o mesmo com todos os principais países do BRICS e nomeou sua iniciativa como a Doutrina Fehlinger.
Pois bem, a doutrina consistiria em punir brutalmente todos aqueles países que se associarem à Rússia com a balcanização de seus territórios. Sob o pretexto de que alguns estados, cidades ou qualquer coisa que a OTAN quiser entender como aliado naquele país, precisam ser separados das garras corruptas e genocidas de Putin.
A forma escancarada com que Fehlinger divulga sua campanha na internet pode até ser original e ainda não se sabe se é uma revelação concreta dos planos da OTAN ou apenas uma ameaça. Agora, as bases teóricas e políticas da “Doutrina Fehlinger” são muito mais antigas do que a própria organização que Fehlinger representa.
“Dividir para conquistar”. Este lema foi utilizado pelo imperador Júlio César, Filipe II da Macedônia, o próprio Napoleão Bonaparte e muitos outros. É uma das mais clássicas estratégias de guerra e, por isso, não é de se suspeitar que, para além dos ex-Tweets, a OTAN realmente planeja dividir mais países do mundo.
Lógico, não seria a primeira vez. O imperialismo norte-americano utiliza-se constantemente desta estratégia para manter sua dominação mundial. Foi assim quando ele dividiu a União Soviética, impulsionando o identitarismo de diversos países contra os russos. Fez isso nos países bálticos, na Ucrânia e nos países muçulmanos da Ásia Central.
Ali nasceram grupos de extrema-direita que atuam até os dias de hoje, com muita força, que têm como alvo principal a Rússia e os russos que vivem nesses países. Os mais famosos são os fascistas ucranianos que, durante o golpe do Euromaidan, iniciaram uma verdadeira “caça aos russos” dentro do país, inclusive proibindo o ensino do idioma. Esses ataques são baseados no mito de que os russos seriam os dominadores e opressores desses povos, porque tanto o Império Russo quanto a URSS tinham a Rússia como centro político e econômico.
É conhecido também o caso da Iugoslávia, na qual o imperialismo promoveu uma intensa campanha para que as minorias étnicas (croatas, eslovenos, bosníacos, albaneses) se separassem da Sérvia. Seriam os sérvios, e não o imperialismo, os grandes opressores destas minorias.
Assim, o imperialismo organizou um banho de sangue no país e finalmente, a Terra dos Eslavos do Sul se dividiu em cinco países. A Sérvia foi ainda desmembrada (surgiu o Cossovo, após uma segunda guerra, e mais tarde Montenegro) e até hoje surgem ameaças separatistas nestes países.
Não seria novidade que a OTAN, com a ajuda de intensas campanhas identitárias étnicas, praticasse o mesmo com os países dos BRICS. A “Doutrina Fehlinger” mostra que o imperialismo está disposto a realizar todos os tipos de atrocidades para se manter no poder.
A divisão do Brasil
A discussão sobre a divisão do Brasil também não é novidade. Tanto na esquerda como na direita são ditas coisas como a declaração de Romeu Zema, governador de Minas Gerais, propondo a divisão do país em dois: por um lado, Sul, Sudeste e Centro-Oeste; por outro, Norte e Nordeste.
Na esquerda, repercutiram-se por meses a campanha contra a história e a cultura brasileira. Diversos “historiadores” e “especialistas” falaram sobre o fracasso e a vergonha da história do Brasil, em especial dos bandeirantes e sua conquista honrosa de garantir ao país este tamanho. Em julho de 2021, inclusive, um grupo intitulado Revolução Periférica incendiou a estátua de Borba Gato, um dos bandeirantes mais importantes da história brasileira.
Para este setor da esquerda, o tamanho e as riquezas do país não importam. As conquistas dos bandeirantes muito menos. Se possível, para evitar a exploração, era melhor que eles nem tivessem existido e que o Brasil fosse apenas alguns estados do litoral.
Outra ala, ligada a Marina Silva e às ONGs ambientais, chegou a defender que a Amazônia fosse um território internacional e, por isso, deveria ser desanexada do Brasil. Mas é claro, a Amazônia deveria estar nas mãos daqueles que já destruíram suas próprias florestas, daqueles que separam países e promovem guerras em todo o mundo.
Mesmo que mais complexa do que a posição da direita de simplesmente excluir o Nordeste e o Norte, estas posições da esquerda são ainda mais perigosas para o país e colocam, ainda mais agora com as posições da OTAN para desmantelar o Brasil, um problema grave.
O Brasil é formado por um povo miscigenado, uma cultura reconhecida no mundo inteiro e, mesmo com suas inúmeras diferenças, não há identitarismo que consiga negar que o país é um só. A campanha identitária, financiada pelas ONGs e diversas organizações do imperialismo, encontrará muita dificuldade para justificar uma separação nestes termos.
O povo brasileiro é reconhecido em todo o mundo, independente das diferenças estaduais. É o único que fala português na América Latina. É um dos maiores expoentes culturais do mundo inteiro. Um país misturado de índios, europeus e africanos. Os estados brasileiros são diferentes entre si, mas qualquer um que olhe de fora sabe que eles pertencem juntos. O brasileiro jamais toleraria nenhuma divisão.
Tanto é assim que a posição de Fehlinger foi duramente criticada nas redes sociais. Mesmo os veículos da imprensa burguesa não conseguiram esconder o desconforto dos brasileiros ao ouvir tal absurdo. O mesmo vale para Zema e para esta esquerda xiita que, fora das universidades, é vista como um agrupamento de lunáticos.
Não, o Brasil não será desmantelado pela política identitária da OTAN e por suas ameaças. Como também não está sendo destruída a Rússia na atual guerra, e como não permitem os chineses na questão Taiwan e do Tibete, o Brasil também deve lutar pela sua soberania nacional e seu povo!
Mesmo com bombas, exércitos e uma campanha intensa do identitarismo, não será nada fácil para o imperialismo dividir o Brasil.