Um dia depois das manifestações de 8 de janeiro, o ex-ministro chefe do GSI, o general Sérgio Etchegoyen, do IREE, declarou que foi um ato de “profunda covardia” do presidente Lula ter declarado que perdeu a confiança nas Forças Armadas. Dessa declaração, surgiu toda uma discussão sobre o chamado setor “legalista” das Forças Armadas, do qual Etchegoyen faz parte, que seria um setor mais moderado – que, no entanto, é o mais reacionário dos setores e o que costumeiramente é chamado para organizar os golpes de Estado.
O próprio Etchegoyen organizou, diretamente, o golpe de 2016 contra a presidenta Dilma. Ele, que é da direção do IREE, em conjunto com Raul Jungmann e Leandro Daiello, foram três peças chaves da operação do imperialismo contra Dilma; assim que o GSI foi restabelecido por Temer, Etchegoyen assumiu o cargo. Trata-se, portanto, de um militar da terceira via, muito próximo do imperialismo, mas que não esteve diretamente vinculado ao bolsonarismo – o que, de modo algum, o impediu de sair em defesa dos militares na lambança que fizeram em Brasília, o que deixa claro que não se trata de uma minoria bolsonarista, como querem crer os ultraotimistas do PT.
Isto é, não é como se houvesse um setor petista dentro das Forças Armadas. Dentre os militares, todos estão contra o governo de um ponto de vista bastante imediato; os que não estão diretamente vinculados ao Bolsonaro, o estão ao imperialismo, o que os torna ainda mais perigosos.
O plano dos militares, obviamente, é o de criar uma crise no governo e desestabilizá-lo. Não se trata de uma mobilização para derrubá-lo imediatamente; afinal, se tivesse tal objetivo, teria de haver uma debandada geral das Forças Armadas. O que não se percebe é que a campanha contra o resultado das eleições, por exemplo, não põe em questão o governo, que já tomou posse, mas serve para agregar uma oposição a ele. E, nisso, tem sido bem sucedida.
Os “legalistas”, como o novo comandante do Exército, que é um general tucano, contribuem para o golpe de maneira ainda mais efetiva. Basta lembrar que Pinochet, no Chile, que deu o golpe militar contra Allende, era da ala moderada das Forças Armadas e tinha debelado um golpe meses antes – não porque era contra, mas porque tal golpe havia se precipitado. Na propaganda do Partido Socialista chileno, Pinochet aparecia como, hoje em dia, aparece Alexandre de Moraes para a esquerda pequeno-burguesa: o homem que salvaria o país do golpe.
No Brasil, o general Castello Branco, primeiro ditador da Ditadura Militar de 1964, também era considerado da ala “moderada”. É de praxe nos golpes de Estado que se use os militares mais moderados, com maior aceitação na opinião pública e com maior facilidade de manobrar dentro da burguesia; inclusive, porque eles têm a tendência a ser mais ligados ao imperialismo. Nos golpes, costumeiramente, a ala radical das Forças Armadas não participa.
Isso deveria ser entendido ao apreciar a situação brasileira. Militares como Etchegoyen e o novo comandante do Exército, que foi um homem de confiança de Fernando Henrique Cardoso, não deveriam receber a confiança da esquerda – ao contrário, são os setores mais perigosos do Exército.