O golpe militar no Níger, em 26 de julho de 2023, foi o mais recente da região subsaariana de caráter nacionalista e anti imperialista.
O presidente do Níger, Mohamed Bazoum, foi demitido pela guarda presidencial que perpetrou um golpe de estado, liderado pelo general Omar Tchiani que formou uma junta militar. Em comunicado, o corpo militar citou o agravamento da situação de segurança e a má gestão da economia como as razões da ação. De fato, a insegurança ligada às ações de grupos jihadistas ativos na região está aumentando. De acordo com um relatório da ONU, havia mais de 3 milhões de pessoas deslocadas internamente no Mali, Níger e Burkina Faso em 2022.
Outros golpes semelhantes ocorreram no Mali (agosto de 2020 e maio de 2021), Burkina Faso (janeiro de 2022 e setembro de 2022), e na Guiné (setembro de 2021). Cada um desses golpes foi liderado por oficiais militares indignados com a presença de tropas francesas e americanas e com as crises econômicas permanentes infligidas a seus países. Parece estar em andamento uma segunda fase da luta pela independência e pela soberania nacional desses países. Aparentemente tiveram bastante apoio popular. Nos últimos anos, em todo o Sahel, graças ao fracasso das missões francesas no Mali e ao avanço do terrorismo, as reações antiocidentais tornaram-se cada vez mais populares entre a população. A opinião pública no Níger, assim como nos países vizinhos, aponta cada vez mais para a Rússia como a principal alternativa para se livrar da influência ocidental e do colonialismo.
Níger possui uma área de 1.267,000 km², quase do tamanho do Estado do Pará, para uma população de 25.300.000 de habitantes, com uma renda per capta de apenas U$ 1.032,00 e um IDH muito baixo, de 0,400. Níger tornou-se independente da França apenas em 1960; é um país que exporta urânio de alta qualidade, ouro e petróleo, mas apesar de toda essa riqueza, 42% da população do país está abaixo da linha da pobreza. O restante de sua economia é basicamente agrária de subsistência, contando ainda com uma pequena indústria de beneficiamento de algodão e tecelagem. A França ainda hoje é a maior beneficiária dessa riqueza, controlada pela companhia Orano. Com o urânio importado de Níger a França alimenta suas usinas nucleares, produzindo 40% da eletricidade consumida na França.
Outro aspecto perverso da dominação econômica da França sobre suas quatorze ex colônias na África, incluídos Níger, Mali e Burkina Fasso, é o controle financeiro. As catorze ex-colônias francesas continuaram a usar a Comunidade Financeira Africana (CFA), que confere imensas vantagens à França (50% das reservas desses países devem ser mantidas no Tesouro Francês, e as desvalorizações do CFA – como em 1994 – têm efeitos catastróficos nos países que o usam). Em 2015, o presidente do Chade, Idriss Déby Itno, disse que o CFA “arrasta as economias africanas para baixo” e que “chegou a hora de cortar o cordão que impede a África de se desenvolver”. O discurso na região do Sahel agora é não apenas sobre a retirada das tropas francesas – como aconteceu em Burkina Faso e no Mali – mas também sobre romper com o domínio econômico francês na região.