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Política externa de Lula

Os Estados Unidos e o golpe

Artigos publicados por jornais imperialistas demonstram que está se organizando um golpe contra Lula

Nos últimos dias, foram publicados dois artigos de grande importância para a compreensão da política do imperialismo em relação ao governo Lula. Brasil e a aliança iliberal anti-EUA (Brazil and the Iliberal Anti-U.S. Alliance), do think tank Global Americans, e A discreta campanha dos EUA para defender a eleição brasileira (The discreet US campaign to defend Brazil’s election), do jornal inglês Financial Times, mostram que a política externa do presidente do Brasil está desagradando profundamente os donos do mundo.

Vejamos o que eles têm a dizer.

Um chamado: golpistas de todo o mundo, uni-vos

O primeiro artigo, publicado no sítio oficial do Global Americans, é, de longe, o mais agressivo. Durante todo o texto, a organização norte-americana deixa claro que, se Lula mantiver o seu posicionamento político em relação a países como a Rússia e a China, deverá sofrer graves consequências por parte do governo dos Estados Unidos.

O artigo começa afirmando que houve uma mudança “perturbadora” na visão do Brasil sobre a democracia, citando a visita de Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, ao País no mês passado como uma prova de que Lula seria amigo de “ditadores”.

“Em maio de 2023, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, estendeu o tapete vermelho para o ditador venezuelano Nicolás Maduro – um homem procurado internacionalmente por uma ampla gama de acusações criminais. Lula, no entanto, rejeitou essas acusações como ‘exageradas’ e apenas uma ‘narrativa’”, escreve a organização imperialista.

Depois, o Global Americans demonstra o seu asco em relação à União de Nações Sul-Americanas, a Unasul:

“O acolhimento de Lula a Maduro foi apenas a salva inicial da convocação do populista esquerdista brasileiro de 12 líderes sul-americanos em uma jogada para ressuscitar a fracassada, fundamentalmente anti-EUA [sic~] aliança Unasul. A agenda de Lula era implicitamente, se não explicitamente, anti-EUA – ele protestou contra os Estados Unidos e outros por suas sanções e outros esforços para restaurar a democracia na Venezuela, mas, mais importante, pediu que a Unasul estabelecesse sua própria moeda para libertar a região da dependência no dólar americano.”

Ainda no quarto parágrafo, o think tank parte para a ofensiva e demonstra os interesses por trás da publicação deste artigo: “Assustadoramente (grifo nosso), a aposta de Lula na Unasul é apenas a ponta do iceberg de sua perigosa orientação radicalizada. Lula também está colaborando com a China e a Rússia para expandir os BRICS para incluir os seus vizinhos […]”

Aqui, é preciso relembrar que o Global Americans, um parceiro declarado do IREE de Guilherme Boulos, é um think tank diretamente financiado pelo National Endowment for Democracy, o NED. Não é possível tirar aqui a ficha corrida do NED, mas fato é que se trata de uma organização de fachada da CIA que, criada no final do século passado, é utilizada pela agência norte-americana para levar adiante operações que, caso fossem abertamente organizadas pela CIA, seriam mal-vistas pela população, como golpes de Estado seguidos da instauração de ditaduras militares sangrentas.

Ou seja, não é apenas um escritor qualquer que escreve os trechos destacados acima. São mensagens emitidas diretamente pela CIA, pelo Pentágono que, por meio do Global Americans, mandam um recado muito claro a Lula procurando sabotar o seu governo. E a menção à China e à Rússia deixa isso claro.

Finalmente, seria um pesadelo – como está sendo – para os Estados Unidos se a China e a Rússia aumentassem a sua influência na América Latina ao ponto de acabar com a força que o imperialismo possui na região. E Lula, com a sua atual política externa, representa exatamente isso, uma porta de entrada para essa influência.

Mais adiante, o artigo ataca, também, a política de Lula em relação à Guerra na Ucrânia, ressaltando que a iniciativa de paz proposta pelo Brasil e pela China não inclui, explicitamente, a retirada das tropas russas do território ucraniano.

Por fim, o Global Americans demonstra o tamanho de sua preocupação em relação a Lula:

“Embora os Estados Unidos e o Brasil nem sempre tenham estado de acordo, é difícil lembrar de uma época em que o gigante sul-americano abraçou de forma tão inequívoca ditaduras criminosas ou procurou forçadamente alavancar rivais extra-hemisféricos dos EUA e reunir a região contra os interesses dos EUA. Tampouco houve um momento na memória recente em que tantos líderes da região fossem politicamente receptivos a tal apelo”, diz o artigo.

Uma declaração como essa é de assustar qualquer um que sofreu com os efeitos do golpe de Estado de 2016 que, orquestrado pelos Estados Unidos, devastou o País. O mesmo vale àqueles que viveram o Golpe Militar de 64, mais uma operação dos EUA em território brasileiro.

E mais, se é inédita a propensão do governo brasileiro de se afastar do imperialismo, também é inédita a preocupação deste com os efeitos que essa política causará na influência norte-americana na região. Uma reação à altura seria, ao que tudo indica, mais devastadora que os golpes de 2016 e de 1964. Para não deixar lacunas, o Global Americans diz qual deve ser essa política. Aqui, cabe uma citação mais longa:

“Enquanto os Estados Unidos devem respeitar a liderança democraticamente eleita do Brasil e o direito soberano de fazer a sua própria política externa, Washington deve demonstrar que não dará ao regime Lula um passe para acolher ditadores mundialmente procurados, rivais extra-hemisféricos. Que não ficará de braços cruzados enquanto o Brasil reúne ativamente regimes de esquerda simpáticos a ele para trabalhar contra os interesses dos EUA, simplesmente porque Lula coopera com os Estados Unidos e a Europa em questões climáticas e de justiça social. Washington deve aumentar a coordenação com a União Europeia e atores democráticos afins sobre os riscos de longo prazo representados pela postura de Lula, apesar e por causa da imagem positiva que ele desfruta na Europa.

Washington deve apresentar seu caso de forma mais clara ao povo brasileiro e em outras partes da região. Deve explicar por que acolher criminosos, ditadores e ameaças extra-hemisféricas está abaixo da dignidade da democracia e do respeito pelos direitos humanos que o Brasil defende há muito tempo. No discurso bilateral EUA-Brasil, Washington deve deixar claro que o comportamento de Lula coloca em risco a boa-fé, o comércio, o investimento e outras colaborações entre as duas nações. No entanto, Washington também deve se planejar para o pior. O Brasil é uma grande nação e amiga dos Estados Unidos. A tragédia do caminho em que está agora é evitável, mas apenas se Washington mostrar que se importa”, acaba o texto.

Não restam dúvidas de que essa matéria é profundamente ameaçadora. Não apenas uma ameaça, na realidade, é um chamado para combater o governo do PT, um chamado para que a burguesia brasileira, com o auxílio do imperialismo, adote uma posição mais agressiva e, consequentemente, mais golpista em relação a Lula. É um toque de agrupamento das tropas.

Isso fica mais claro quando levamos em consideração que o autor oficial deste artigo é Evan Ellis, um professor de pesquisa da América Latina no Instituto de Estudos Estratégicos da Escola de Guerra do Exército dos EUA. Ou seja, temos aqui um representante do aparato bélico dos EUA – o mais sanguinário do mundo – escrevendo para um jornal controlado pelo Pentágono declarando um descontentamento agressivo quanto à política externa de Lula.

É de dar frio na espinha de qualquer um.

EUA: “Nós lhe ajudamos, agora é hora de pagar”

O segundo artigo, diferente do primeiro, é bem mais comedido. Ao invés de um ataque frontal, uma declaração da preparação de um golpe, o texto do Financial Times procura mostrar que os Estados Unidos são grandes amigos do Brasil e, em especial, da “democracia” brasileira.

Em suma, o artigo admite que os Estados Unidos interferiram nas eleições presidenciais de 2022. Com um suposto medo de que Bolsonaro daria um golpe contra Lula, diversos funcionários e ex-funcionários importantes do governo Biden declararam, ao Financial Times, que os Estados Unidos encabeçaram uma campanha durante aproximadamente um ano para desmoralizar a influência de Bolsonaro em figuras dentro do exército, do Legislativo, do Judiciário, entre outras.

“O fato de a eleição não ter sido seriamente contestada é uma prova da força das instituições brasileiras. Mas também foi em parte o resultado de uma campanha de pressão silenciosa de um ano do governo dos EUA para instar os líderes políticos e militares do país a respeitar e salvaguardar a democracia, o que não foi amplamente divulgado.

O objetivo era enfatizar duas mensagens consistentes para generais inquietos no Brasil e aliados próximos de Bolsonaro: Washington era neutro no resultado da eleição, mas não toleraria qualquer tentativa de questionar o processo de votação ou o resultado”, diz o texto.

Então, o artigo demonstra como foi organizada essa campanha por meio de depoimentos de pessoas como Michael McKinley, um ex-alto funcionário do Departamento de Estado norte-americano e ex-embaixador no Brasil, que afirmou:

“Foi quase um ano de estratégia, sendo desenvolvida com um objetivo muito específico, não de apoiar um candidato brasileiro em detrimento de outro, mas muito focado no processo [eleitoral], em garantir que o processo funcionasse.”

Bem como por meio de acontecimentos públicos, como a visita de Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional de Biden, ao Brasil em agosto de 2021, e uma visita de Hamilton Mourão, vice-presidente de Bolsonaro, a Nova Iorque.

Enfim, o resto do artigo é uma propaganda de como os Estados Unidos seriam grandes bastiões da democracia no sentido de que teriam utilizado recursos pesados para garantir a lisura do processo eleitoral brasileiro.

Os fatos podem muito bem ser verdadeiros – e tudo indica que são. Não é segredo que os Estados Unidos, principalmente em um governo direitista, como o de Bolsonaro, possuem uma influência e um poder muito grandes sobre o País. Porém, é a explicação do artigo acerca dos fatos que está incorreta.

A preocupação dos Estados Unidos em relação à tendência golpista de Bolsonaro não se deu por motivos democráticos, mas sim porque o imperialismo não queria que Bolsonaro e os generais próximos de sua política queimassem a largada, pois são eles quem querem dar o golpe no País. Em outras palavras, os verdadeiros donos do golpe estão fazendo uma campanha contra os golpistas de mentirinha.

Os EUA não queriam que Bolsonaro orquestrasse um golpe porque um golpe encabeçado pela ala bolsonarista do exército não era interessante ao imperialismo naquele momento.

O golpe deve ser do imperialismo, e não da extrema-direita

Temos aqui um problema de interesses. Se os Estados Unidos estivessem tentando impedir um golpe no ano passado, por que estão, agora, declarando quase que abertamente que vão dar um golpe no governo Lula?

O problema é que o imperialismo, em meio a sua atual crise, não está conseguindo conter a extrema-direita. Um golpe dessa ala no Brasil, portanto, aprofundaria essa crise, dando mais força ao setor que o governo Biden, um fiel representante da política imperialista, quer enterrar, que é o setor de Trump.

Não é que os EUA favoreceram Lula nas eleições, seria absurdo pensar isso, pois Lula é, para o imperialismo, pior que Bolsonaro – vemos isso agora, na prática. Eles simplesmente não fizeram nada para impedir os crimes de Bolsonaro e de parte da burguesia brasileira durante as eleições, como foi o escândalo – permitido por Alexandre de Moraes, diga-se de passagem – envolvendo a Polícia Rodoviária Federa (PRF).

Preparando, assim, a sua investida para quando a situação fosse mais favorável no sentido de colocar no poder não um representante da extrema-direita, mas sim um representante da política imperialista, alguém como Alckmin, Tebet e afins.

O golpe já está em marcha

Que outras conclusões podemos tirar destes dois artigos?

A publicação destes artigos mostra que a situação está completamente fora de controle. Como um animal ferido, o imperialismo, em seus momentos de maior fraqueza, tende a ficar cada vez mais agressivo.

Levando isso em consideração, ambos os textos comprovam que há uma ameaça de golpe concreta contra o governo Lula por parte do imperialismo americano. Todavia, é importante notar, pelo fato de o Financial Times ser um jornal inglês, que essa iniciativa não conta apenas com os Estados Unidos: engloba os países imperialistas de conjunto, aumentando o grau do perigo de toda essa operação.

Aqui, vemos a relação entre os dois artigos: enquanto o primeiro declara as intenções agressivas do imperialismo quanto ao governo Lula, o segundo age como encobrimento, procurando mostrar que os EUA – ao mesmo tempo que organizam um movimento golpista – não são favoráveis a um golpe contra Lula. Ou seja, uma cortina de fumaça.

Finalmente, fato é que, sendo imediata ou não, há uma ameaça contra o governo Lula. O problema é saber em que etapa se encontra esse problema. Afinal, o imperialismo está deixando claro que discorda absolutamente da política exterior do Executivo brasileiro. Lula é uma pedra no sapato do imperialismo, os EUA sabem melhor do que ninguém que Lula odeia os norte-americanos e que nunca fará, por livre e espontânea vontade o que eles querem.

O problema, para o imperialismo, é criar as condições necessárias para derrubar Lula, um longo processo que, para ser bem-sucedido, precisa de uma grande articulação. Enquanto isso não acontece, o imperialismo continua fazendo política, ou seja, pressionando Lula para que ele atenda aos seus interesses, sabotando o governo de outras formas, como, por exemplo, por meio do Banco Central e do Congresso Nacional.

Entretanto, isso não muda o fato de que o golpe já está em marcha.

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