Na última quarta-feira (26), saiu a notícia de que o ator Kevin Spacey, de 64 anos, fora inocentado por um júri britânico, de 9 acusações de natureza sexual. O júri deliberou por 12 horas, após ouvir a história de quatro pessoas alegando diferentes tipos de situações em que eles teriam sido supostamente abusados por Spacey. Três das acusações era de que ele os teria “agarrado” na região genital sem autorização e um deles acordou no apartamento do ator recebendo sexo oral dele. Spacey se emocionou ao comentar o caso na saída do julgamento.
O caso começou em 2017, quando o ator, em momento de alta na sua carreira, graças ao drama político da plataforma Netflix, House of Cards, o qual ele estrelava. Naquele momento, o ator Anthony Rapp o havia acusado de ter “subido em cima dele” e tentado uma ação sexual forçada contra ele, que tinha apenas 14 anos quando do ocorrido, em 1986.
Após a acusação, ele imediatamente perdeu seu emprego na Netflix, teve todos os contratos cancelados e perdeu todos os trabalhos que ele possuía naquele momento. O diretor Ridley Scott chegou ao ponto de substituí-lo digitalmente nas cenas do filme “Todo o dinheiro do mundo” que ele já tinha gravado.
O episódio foi simbólico do que se convenciona chamar de “cultura do cancelamento”. Logo após, diversos outros rapazes, e também mulheres, surgiram para reivindicar que eles também haviam sido abusados sexualmente por Kevin Spacey. São dezenas de casos, a maioria deles eram flertes que passaram do ponto (toque sem permissão, provocações sexuais inapropriadas, etc.). O mais grave seria a acusação de manter relações sexuais com um rapaz de 14 anos (nos EUA, a idade de consentimento é 16 anos, diferentemente do Brasil em que ela é 14).
Nenhum desses crimes foi comprovado, o clima que se estabelece com a campanha identitária histérica dificulta ou impossibilita que se chegue à realidade dos fatos. No entanto, Spacey foi a julgamento nos EUA anteriormente a esse que ocorreu agora no Reino Unido, e foi inocentado das acusações de Rapp.
Com o desfecho do último julgamento, Kevin Spacey é um homem inocente aos olhos da lei dos dois países de onde surgiram acusações contra ele. O primeiro acusador exigiu uma indenização de 40 milhões de dólares. Os outros todos também tentaram quantias próximas.
A fúria identitária arruinou a reputação de Spacey e o forçou a “sair do armário” em meio a acusações confusas. Seria crime dar em cima de alguém num bar? A “pegada nas partes íntimas” teria sido forçada ou consensual? Essa discussão é secundária. Depois de inocentado perante a justiça, sairão os identitários caçadores de bruxas a se retratar pela campanha de calúnias? Ele receberá indenização pelos trabalhos que perdeu, contratos cancelados, etc.? Outra questão: Kevin Spacey é um artista conhecido mundialmente, com dinheiro e acesso a advogados caríssimos. Um cidadão normal que tivesse sofrido acusações mentirosas para ter sua vida destruída, conseguiria ter sua inocência provada? Muito provável que não. A cultura do cancelamento é a da perseguição, das acusações sem provas, dos crimes inexistentes e da campanha de calúnias.