Nessa segunda-feira (9), o deputado bolsonarista Abilio Brunini (PL-MT) apresentou um projeto de lei que visa tornar crime o apoio ao Hamas e ao Hezbollah. O texto prevê a detenção de 2 a 5 anos para quem se manifestar a favor das organizações palestina e libanesa, além do pagamento de multa.
No último domingo (8), em um programa da Jovem Pan, emissora reconhecidamente apoiadora de Bolsonaro, o apoio do PCO ao Hamas e à resistência palestina foi caracterizado como crime. Uma das apresentadoras afirmou que o Partido era uma “organização criminosa”.
A declaração na Jovem Pan e o projeto do deputado têm algumas coincidências. A primeira delas é a acusação de que o Hamas é uma organização terrorista e criminosa. A segunda é a tentativa de transformar em criminoso qualquer um que apoie politicamente a ação do Hamas. A terceira, a tentativa de transformar uma opinião política em crime. A quarta, os envolvidos – Jovem Pan e deputado – são bolsonaristas.
Sobre a primeira, já explicamos exaustivamente que o Hamas é uma organização política, inclusive com representação grande no parlamento palestino. Isso apenas para ficar no aspecto formal da coisa, sem contar o mais importante que é o fato de que o grupo palestino está apenas reagindo a décadas de martírio de seu povo.
O mais interessante mesmo são as últimas coincidências. Até ontem, os bolsonaristas choravam pelas redes sociais dizendo serem grandes defensores da liberdade de expressão. Incluindo aí a própria Jovem Pan, que foi alvo de censura.
O PCO, esse que eles acusam de ser criminoso por defender uma posição política, denunciou toda e qualquer política de censura contra quem quer que fosse, incluindo a direita bolsonarista. O PCO foi contra a derrubada de canais da direita, foi contra a prisão de Daniel Silveira quando Alexandre de Moraes decretou sua prisão por tê-lo xingado. O PCO foi contra absolutamente todas as vezes que o Estado agiu para censurar, mesmo que a opinião em questão fosse totalmente oposta à ideologia do Partido.
O PCO foi obrigado a ouvir de alguns setores da direita que, na verdade, quem defendia realmente a liberdade de expressão eram eles e não o PCO. Que a posição do Partido seria oportunista e não de princípios.
Mas eis que, colocados diante de um conflito internacional cujo apoio dos poderosos do mundo a Israel é óbvio e descarado, a direita apela para a censura. Os mesmos que ficam de chororô nas redes sociais acusando corretamente a política de censura tomada pelos Tribunais, querem transformar em crime uma opinião política.
O argumento da direita será o de que como o Hamas é “terrorista” e “matou pessoas” logo defender o Hamas seria de alguma forma apologia ao crime. O argumento é totalmente estúpido, mas é importante ver como o mundo dá voltas.
A esquerda pequeno-burguesa, para defender a censura contra a direita, usava exatamente o mesmo argumento. Por exemplo, falar qualquer coisa sobre a pandemia que não fosse exatamente aquilo que estava dizendo a Rede Globo e a imprensa burguesa, poderia ser censurado porque, segundo a esquerda, isso seria uma apologia à morte de milhares de pessoas pela pandemia.
Quando o apresentador Monark foi censurado porque expressou sua opinião política dizendo que considerava que um partido nazista poderia existir no Brasil, ele foi automaticamente transformado em nazista e a esquerda, para justificar a censura absurda, disse que “fazer apologia ao nazismo era o equivalente a matar milhões de pessoas”.
Todos esses argumentos completamente idiotas e que só servem para justificar a censura foram usados pela esquerda pequeno-burguesa contra a direita.
Agora, sem nenhuma surpresa, vemos a direita usar o mesmo método.
Descobrimos, então, que essa direita que está há anos falando em liberdade de expressão é a primeira a querer extingui-la.
Descobrimos, então, que a esquerda pequeno-burguesa que ficou defendendo a censura escondida detrás da babaquice do “discurso de ódio” agora pode tomar do próprio veneno. Afinal, a direita pode muito bem enquadrar o apoio ao Hamas como discurso de ódio.
Para a esquerda fica a pergunta: e agora?
Para a direita pseudo-libertária precisamos dizer: não tem princípios e não defende de fato a liberdade de expressão.
O conflito na Faixa de Gaza fez cair a máscara da direita dita “patriota”, “antiglobalista” e “libertária”. Não é patriota porque não defende o direito do povo palestino, invadido e massacrado há 75 anos, de ter seu próprio Estado. Não é antiglobalista porque está defendendo o Estado de Israel em aliança com o chamado globalismo, EUA, União Europeia, Rede Globo etc. Não é libertária porque na primeira oportunidade eles querem calar os que pensam diferente.