A onda de calor que atingiu o país nos últimos dias vem sendo motivo para muita histeria por parte dos ambientalistas. Aparentemente, desacreditados do fato de que a temperatura pode superar os 30 graus em cidades como Belém, os abraçadores de árvores se empenharam em desenvolver todo tipo de teoria apocalíptica para explicar o fato de que está fazendo calor no Brasil… no Brasil, vejam só!
Uma dessas pessoas foi Renata Moara, diretora de Meio Ambiente da União Nacional dos Estudantes (UNE). Sua matéria, intitulada “Não existe Planeta B: a onda de calor e o futuro do planeta”, foi repercutida pelo sítio Revista Movimento, pertencente à corrente MES, do PSOL. Nela, Moara procura demonstrar que esses dias em que tem feito um calorão no Brasil são um prenúncio de um apocalipse climático, que poderá levar o planeta ao seu fim. Segundo ela, “Não é exagero dizer que a onda de calor vivida essa semana é apenas o começo daquilo que pode vir a ser o colapso ambiental da humanidade”.
Esperava-se que alguém que ocupa o cargo de diretora de Meio Ambiente de uma entidade como a UNE, representante de estudantes universitários, fosse embasar sua argumentação com dados científicos e pesquisas acadêmicas, no mínimo. No entanto, Moara não apresenta nada disso. O autor que ela utiliza para embasar as suas ideias é o índio mais amado pela imprensa golpista nacional, Ailton Krenak. Ao citá-lo, ela diz “Krenak mostra como a ideia de superioridade humana é trágica para todo o planeta, não há humanidade sem a natureza. Essa prerrogativa é ancestral, os povos indígenas há séculos nos ensinam que o respeito à mãe Terra é o que salvará nossas vidas. Contudo, o que vivemos hoje é um aceleramento do fim do mundo”. No lugar de ciência, misticismo.
Tentar negar a superioridade humana com relação ao restante das espécies do planeta é uma coisa um pouco estranha. Afinal de contas, os seres humanos desenvolveram uma sociedade em padrões nunca vistos por quaisquer outros seres vivos. A ideia de que um animal que é capaz de desenvolver tudo que os seres humanos desenvolveram ao longo de sua história não seria superior ao restante dos animais é uma abstração bastante absurda.
Não se deve negar que existe um processo de destruição da natureza e de esgotamento dos recursos naturais, embora não se possa dizer que esteja chegando no ponto em que os ambientalistas dizem estar. No entanto, pessoas como Moara nunca parecem estar dispostas a denunciar os verdadeiros responsáveis por essa situação. Numa tentativa de fazer uma acusação moral que atinja a todos os seres humanos do planeta, evoca as palavras do índio tucano: “Fomos nos alienando desse organismo de que somos parte, a Terra, e passamos a pensar que ele é uma coisa e nós, outra: A Terra e a humanidade. Eu não percebo onde tem alguma coisa que não seja natureza. Tudo é natureza. O cosmos é natureza. Tudo em que eu consigo pensar é natureza”.
As palavras de Krenak nada apontam no sentido de procurar solucionar a situação de uma forma efetiva. Assim como Moara, apenas existe uma tentativa de criar um clima de pavor e desespero entre todas as pessoas. Os maiores poluidores do planeta Terra não estão no Brasil, eles estão nos países imperialistas: EUA, Alemanha, França, Japão, etc. Apesar de a burguesia imperialista fazer uma ampla campanha demagógica com a questão ecológica, eles seguem numa política de devastação ambiental que atinge a todo o planeta. No entanto, Moara e Krenak dizem que isso seria culpa do “ser humano” em abstrato, “livrando a cara” da classe social mais nociva e vampiresca de todo o planeta.
A autora destaca fenômenos como “o desmatamento, a mineração, garimpo ilegal, o avanço da soja (…)” para citar as causas do problema das mudanças climáticas no planeta. No entanto, ela não procura demonstrar, por exemplo, que a mineração levada adiante pela Vale do Rio Doce, de forma mal-feita e irresponsável, sujeita a acidentes como as das barragens de Brumadinho, é de responsabilidade de entes privados ligados ao imperialismo, que adquiriram essa empresa graças à privatização criminosa realizada por Fernando Henrique Cardoso, amigo de Ailton Krenak.
Além de tudo isso, é preciso ressaltar que toda essa política de estabelecer um clima de terror e desespero, como se estivéssemos diante do fim do mundo, interessa principalmente aos países imperialistas. É através dessa propaganda perniciosa que se faz a campanha contra a exploração do petróleo na margem equatorial do Brasil, por exemplo.
Por fim, a autora cita a necessidade de se implantar o “ecossocialismo”, ideologia anti-marxista que defende a desaceleração do desenvolvimento econômico do mundo para preservar a natureza. Isso é algo que deve ser totalmente rejeitado por todo marxista. A luta pelo socialismo passa por um desenvolvimento ainda maior e um aprofundamento da industrialização em todos os países do mundo. Se isso não for feito, é impossível superar as contradições e mazelas do capitalismo.
Portanto, não há nenhuma faceta positiva em a esquerda mergulhar de cabeça na propaganda ambiental, trata-se de uma reprodução do discurso do imperialismo. A luta da classe operária mundial deve ser contra o imperialismo, pelo aprofundamento de sua crise, algo muito diferente de uma simples questão ambiental.