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Tese Onze

O triste fim de Sabrina Fernandes

Ciclo da youtuber revela a essência dos chamados webcomunistas

Espécie de Barbie do webcomunismo, Sabrina Fernandes foi a primeira youtuber teen a conquistar um grande público na internet pretendendo falar sobre o marxismo. Quando decidiu fechar o seu canal, Sabrina Fernandes contava com 435 mil pessoas inscritas (cerca de 10% do público de Felipe Neto, o youtuber com mais seguidores no Brasil).

O ciclo de Sabrina Fernandes diz muito sobre o que são os youtubers teen que se aventuraram a debater o marxismo. Sua bizarrice já começa no nome do canal: Tese Onze.

Segundo a criadora, o canal teria sido batizado com o nome da décima primeira tese de Karl Marx sobre o idealista alemão Ludwig Feuerbach. Diz o texto: “Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo”. A tese não deixa margem para dúvidas. Marx propunha, em sua polêmica com o idealismo alemão, o fim da filosofia e a sua substituição por uma ciência social, prática e verificável.

É de se esperar de qualquer pessoa que se diga marxista – ainda mais quem reivindique a tese onze de Marx sobre Feuerbach – que se dedique efetivamente a transformar o mundo. Isto é, que deixe de lado especulações filosóficas e discussões acadêmicas e se coloque no papel de construir um partido revolucionário, organizar a classe operária, estabelecer uma imprensa etc.Passar o dia na internet falando sobre “pautas atemporais” não é transformar o mundo: é contribuir para que o mundo permaneça do jeito que está.

“Pauta atemporal” é o termo que a própria youtuber teen utilizou em seu vídeo de despedida do Tese Onze, explicando que o conteúdo que costumava produzir nunca era “pauta quente”. Isto é, a Barbie que queria transformar o mundo nunca esteve preocupada em debater o que estava acontecendo no mundo (!), mas sim debater temas abstratos, que não estivessem vinculados à luta de classes real.

Houve um momento em que Sabrina Fernandes ousou discutir uma polêmica “quente”. E o desastre explica tanto a sua predileção pelas “pautas atemporais”, como a decadência que acabaria levando ao fim do canal.

Esse momento raro se deu quando a Barbie do webcomunismo decidiu criticar o Partido da Causa Operária (PCO) por levar suas bandeiras para uma manifestação no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. A youtuber teen nos ensinou que “a juventude tem medo da apropriação de suas manifestações orgânicas via bandeiras e carro de som”. Isso mesmo, leitor: o que causa medo à juventude não é a polícia, que entra atirando nas favelas, mas de um perigosíssimo carro de som! Vai que ele atropela algum manifestante…O que a moça super preocupada em transformar o mundo não percebeu é que estava apenas repetindo a mesma baboseira que a direita falava em 2013. A direita que não simplesmente “se apropriou” das manifestações da juventude, mas que as sequestrou, pela força e pela intimidação, com a palavra de ordem de “um, dos, três, quatro, cinco mil! Abaixa essa bandeira e levanta a do Brasil”.

Na Barbieland, talvez os jovens não gostem de carros de som e de bandeiras. No mundo real, uma manifestação sem elas se torna muito mais vulnerável às manipulações do grande capital e da direita.

Ao se deparar com as críticas, Sabrina Fernandes nos brindou com mais uma pérola: embora ela não tenha nada contra bandeiras de partidos políticos, o PCO estaria errado por não ter “construído” o ato. Isto é, o PCO não teria participado de uma reunião – que, conhecendo a esquerda pequeno-burguesa, todos devem imaginar que foi uma reunião muito bem divulgada – e, portanto, não teria solicitado à reunião uma autorização para levar as suas bandeiras. Também, poderíamos acrescentar: o PCO não pediu autorização para ir vestido de vermelho, nem mesmo pediu autorização para estar presente. Imagine, então, se um metalúrgico decide aparecer no ato! Ninguém votou, na “construção” do movimento, que um metalúrgico poderia participar. É um esquema absurdo e, logicamente, antidemocrático. Um esquema que só pode ter como resultado que uma manifestação fique sob o controle de um grupinho que se reúna às portas fechadas.

Poderíamos perdoar Sabrina Fernandes, dizendo que ela é uma “marxista” sem partido – isto é, uma antimarxista – e que, por isso, não vê necessidade em defender as liberdades democráticas para um partido político. Mas não seria fato: ela é simpatizante de uma das cento e noventa bilhões de correntes do PSOL – isto é, um dos setores que defende a ditadura de uma minoria nas manifestações.

A resposta do PCO e a crítica que várias pessoas na internet fizeram desmoralizaram por completo a youtuber teen. Dali em diante, passou a seguir rigorosamente uma regra: falar apenas de “pautas atemporais” ou de temas atuais que sejam absolutamente consenso para a “opinião pública”. Ou seja, o mesmo conteúdo que você pode encontrar na Rede Globo de Televisão.

Embora tenha evitado entrar no debate sobre a situação política, o conteúdo de Sabrina Fernandes ainda cumpriu um papel importante para os inimigos da classe operária. O primeiro, naturalmente, foi o de defender o divórcio entre a atuação na luta de classes – isto é, a militância revolucionária – do marxismo. Sabrina Fernandes contribuiu, assim, para prostituir o marxismo, fazendo uma propaganda de que seria uma teoria acadêmica, que poderia ser defendida por qualquer um, independentemente da posição que ocupa na luta social. Em outras palavras, o marxismo seria, assim, uma teoria abstrata, vazia de conteúdo, e não uma teoria voltada para a ação. Seria, antes de tudo, uma fórmula para a ascensão social, uma indústria de teses de doutorado para quem quiser se tornar professor universitário, e não, como disse Engels, “a doutrina das condições de libertação do proletariado”.

Em seu último vídeo no Tese Onze, a própria Sabrina Fernandes confessou que tudo não passava de um hobbie. O canal no YouTube – que é, afinal de contas, a única coisa que a Barbie do webcomunismo fazia no sentido de comunicar as “suas” ideias – sempre foi, para ela, algo secundário. Algo que, por lhe causar estresse, ela decidiu abandonar. E o que fará Sabrina Fernandes agora? Irá deixar de fazer vídeos para construir um partido? Não! Segundo ela própria, para “se dedicar às suas pesquisas”. Se ser uma youtuber teen já era uma forma ridícula de se apresentar como marxista, uma vez que seu debate era puramente acadêmico, tornar-se um burocrata de universidades apenas revela que em nenhum momento Sabrina Fernandes levou a sério a defesa dos interesses da classe operária.

O segundo papel que Sabrina Fernandes cumpriu foi o de contrabandear uma série de teorias burguesas – e muitas vezes contrarrevolucionárias- para o debate sobre o marxismo. O seu esforço mais notável, sem dúvidas, foi o de tentar apresentar o marxismo como sendo “ecossocialista”. Isto é, como uma doutrina que tem uma opinião religiosa e idealista acerca do meio ambiente. Entre as bizarrices defendidas por Sabrina Fernandes, consta a ideia de “decrescimento”, bastante difundida por Kohei Saito, admirador da youtuber teen. Para os ecossocialistas, a sociedade deveria diminuir a produção social para “salvar” o meio ambiente, que estaria à beira de um colapso.

Não existe nenhuma evidência do suposto colapso iminente. A teoria dos ecossocialistas, por sua vez, serve apenas para dar uma cobertura supostamente revolucionária aos planos de dominação do imperialismo na atual conjuntura, que passa por um rígido controle sobre as matérias-primas dos países atrasados para que não ultrapassem a produção dos países desenvolvidos.

Nascido em 2017, o canal Tese Onde faleceu a 20 de julho de 2023, deixando uma equipe de produção de vídeos desempregada e um total de zero militantes revolucionários órfãos.

*O texto é parte do artigo “Quem são os youtubers teen?”, que será publicado na próxima edição da revista Juventude Revolucionária.

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