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ENTREVISTA

O rentismo controla o conjunto da economia capitalista

DCO entrevista Ladislau Dowbor, professor de economia, sobre a situação do capitalismo financeiro e suas consequências.

 O Diário Causa Operária entrevistou o professor Ladislau Dowbor nesta sexta-feira. Os companheiros discutiram a questão do petróleo e da extração de recursos naturais e a apropriação das riquezas pelo capital financeiro.

O professor nasceu na França, mas sua família veio para o Brasil fugindo da Segunda Guerra Mundial. Nos anos de 1970, militou na Vanguarda Popular Revolucionária. Foi preso e torturado pela Ditadura e se exilou na Argélia. O economista é professor titular na Pontifícia Universidade Católica, além de dar consultoria para diversos países.

Um dos tópicos da conversa foi sobre a agricultura: afinal, o Brasil produz uma quantidade de grãos suficiente para alimentar sua população, mas exporta a maior parte disso e o país tem de conviver com a fome.

A política do imperialismo para abocanhar o mercado nacional também foi tema da entrevista, bem como a discussão sobre o desenvolvimento do capital financeiro e seu controle sobre as instituições do Estado, centralizando o capital bancário e industrial.

DCO: Gostaríamos de perguntar sobre a decisão da OPEP, da Arábia Saudita, de reduzir a produção de petróleo à revelia dos EUA. Os sauditas sempre foram um dos maiores aliados dos americanos no Oriente Médio. Quais as consequências e possíveis desdobramentos?

Ladislau Dowbor: Eu acho importante considerar o seguinte: a exploração de recursos naturais é diferente do capitalismo industrial tradicional. Porque, quando você exporta madeira da Amazônia, os grandes grupos exportadores de recursos naturais, que controlam o sistema mundial de commodities, vão se apropriando da madeira de que não precisam. Isso vale para madeira, petróleo, minério de ferro, para o desastre da Samarco, para o desastre humano gerado pelos chamados “minérios raros”, sem falar do que foi a África do Sul. Eu estou levantando isso porque a apropriação de recursos que as pessoas não precisavam produzir é um dos grandes meios de enriquecimento dos intermediários. 

Entra na mesma linha, por exemplo, do controle de grãos, que é bem claro: o Brasil é muito importante porque produz mais de 4kg de grãos por pessoas por dia – e é um país que tem fome –, mas é exportador. E veja a capacidade política desses grupos, tiraram o imposto sobre bens exportados com a Lei Kandir, de 1996. Ou seja, vale mais você exportar grãos, carne, madeira da Amazônia e minérios do que servir o mercado interno. E, no caso dos grãos, isso está nas mãos de 4 grupos. Ou seja, o grau de controle financeiro sobre todo sistema de apropriação dos recursos nacionais está precarizando a Nigéria, o Congo, a África toda, deformando a economia brasileira, que se reprimarizou; e isso faz parte da política dos grandes grupos, que estão ligados ao sistema financeiro.

E eu lembro quando, há pouco mais de um ano, o Credit Suisse mudou o presidente do grupo, que em grande parte passou a ser controlado pela Arábia Saudita; teve um processo em que ele disse que iria orientar o banco para a gestão de ativos. Ou seja, em vez oferecer crédito para o fomento econômico, administra as grandes fortunas. Na realidade, todo esse elemento do petróleo faz parte, de um lado, da guerra pelos tremendos excedentes financeiros que se gera ao se apropriar de recursos que você não precisou produzir e se utilizou da natureza de diversas partes do mundo.

Sobre a OPEP

Eu acompanhei, tempos atrás, ainda na Argélia, o nascimento da OPEP, com toda guerra das nacionalizações de petróleo na Itália. Na realidade, por um lado, tem essa fase da apropriação financeira sobre um sistema de especulação, e, por outro, você tem um plano de fundo de tensões internacionais, de reagrupamento entre China, Rússia, Irã, Arábia Saudita; a dos EUA para impedir a reconstituição dos BRICS, para dificultar a formação do banco asiático de investimento. Há uma movimentação através do sistema financeiro de um novo equilíbrio geopolítico.

Guerras e poder financeiro

Desde o pós-guerra, os EUA adquiriram o direito de emitir dólar na quantidade que quisessem, porque a moeda era aceita como reserva em todos os banco centrais do planeta. Com isso, financiaram a guerra do Afeganistão, do Iraque, do Vietnã e estão financiando cerca de 700 bases militares no mundo. E isso entre o jogo de apropriação de finanças mediante outro sistema: todo sistema de apropriação de recursos naturais, que o jogo militar empurrou para a guerra entre a Ucrânia e a Rússia. Os norte-americanos se sentem mais à vontade fazendo guerras utilizando terceiros.

A tragédia é que somos meros espectadores do processo, porque as coisas acontecem e os EUA têm essa situação muito particular: o poder do sistema militar norte-americano se tornou um gigante que influencia radicalmente, por exemplo, as eleições. A área militar, que com sua rede mundial representa desafios muito fortes, busca ver quem dá as ordens na situação mundial. A meu ver, estamos degringolando dessa maneira. 

Controle da informação

É importante acrescentar que, além do poder financeiro e militar, eles têm um poder de comunicação, com Amazon e Microsoft. Na presença do sistema de comunicação, dominado pelos EUA e pela Inglaterra, fizeram uma narrativa planetária de como é apresentada a guerra na Ucrânia ou como são apresentados os dilemas-chave: como usar os recursos financeiros para as necessidades das pessoas. 

O rentismo está muito mais forte do que já foi a burguesia industrial. O poder no sistema capitalista se deslocou de produtores para grandes intermediários, que controlam a política, as finanças e os recursos naturais. Isso está gerando uma instabilidade que só pode deixar as pessoas preocupadas.

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