Quem contrata a banda, escolhe a música. Esse tradicional ditado, além de não falhar, é cada vez mais presente nos países de capitalismo atrasado. Por meio de ONGs e grupos de fachada, o imperialismo mantém seu controle econômico e político dos países sem precisar, necessariamente, colocar suas tropas armadas em ação, sempre contendo bons motivos para o bem da sociedade como o motivo fictício. Esse é o caso, por exemplo, do Movimento Empresa Júnior.
O MEJ, em seu estatuto, afirma que sua missão é “formar, por meio da vivência empresarial, lideranças comprometidas e capazes de transformar o país em um brasil empreendedor”. O destaque inicial vai para o “b” minúsculo de Brasil, que ilustra o nível de soberania e relevância que um movimento neoliberal desde o berço deseja que o país tenha, mas o principal para entender seu objetivo se dá por suas relações institucionais e financiadores.
Existem três formas de financiar o MEJ. A mais básica é a de parcerias institucionais, sendo os “grandes mentores e alavancando determinados projetos estratégicos por meio de conhecimentos reais”, como consta na própria comunicação oficial. Os grandes mentores, no entanto, são João Paulo Lemann, por meio da Fundação Estudar, e o NED, um braço da CIA, por meio da iniciativa extremamente neoliberal “Politize” – que também possui o Lemann como financiador, além do próprio NED, META e Tinker Foundation, uma organização imperialista que promove a “democracia” na América Latina.
O caráter imperialista do Movimento Empresa Júnior, no entanto, fica ainda mais escancarado quando vemos a repetição de grandes capitalistas, como Lemann, nas demais formas de financiar o movimento. Dentre o quadro dos patrocinadores, estão Americanas, Azul, Falconi, Lojas Renner, dentre diversas outras empresas controladas por neoliberais declarados. O quadro mais exclusivo, no entanto, que são os mantenedores, fica apenas para dois se destacarem: Bradesco e AMBEV. O “programa mantenedores”, como chama o MEJ, insere as organizações em “todas as interações e projetos estratégicos da Brasil Júnior” para “gerar uma experiência transformadora com o público universitário”. Ou seja, o MEJ leva a AMBEV e o Bradesco para dentro das universidades, visando impactar os jovens, sua visão de mundo, sua forma de viver, e tudo sob o pretexto de “formar lideranças”.
Apesar de possuírem interesses públicos com os jovens, o real objetivo é doutrinar a juventude universitária à direita e uma prova concreta é o fato de que o movimento de empresas juniores, enquanto tentativa, emplacou apenas em países que não têm um movimento estudantil combativo e organizado: como é o caso do Brasil. Na França, por exemplo, o MEJ não se criou dentre os estudantes, que são mais organizados e possuem uma unidade maior.
Formar lideranças jovens por meio da convivência empresarial está longe de ser um fim nobre como trata a comunicação do MEJ. Para uma organização que possui “compromisso com a verdade” como valor, parece contraditório que escondam o interesse político dos seus patrões e de sua própria existência. Não há investimento de capitalistas por benevolência ou crença em um mundo melhor, como escancara J. P. Lemann e seus acionistas parceiros. O caráter imperialista do Movimento Empresa Júnior se dá na retirada da juventude do movimento estudantil, entupindo-os de trabalhos ainda mais novos, em que receberão menos, e terão a visão empresarial martelada em suas cabeças desde o mais novo que puderem. O MEJ ecoa com o Novo Ensino Médio, por exemplo, nessa “visão empreendedora”, onde crianças passaram a ter aulas sobre empreendedorismo, projeto de vida e outros nomes fictícios para serem doutrinadas ao neoliberalismo.
Quem contrata a banda, escolhe a música, e quando os contratantes são a AMBEV, os bancos, instituições com fins imperialistas na América Latina e os grandes capitalistas, a banda nunca tocará uma música revolucionária ou progressista para a sociedade.