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Influenciam eleições?

O paradoxo das redes sociais

Próximas eleições ocorrerão na era dos geradores de texto, como o ChatGPT. Será que as novas tecnologias serão fator determinante?

A moda de comparar inteligência artificial com armas atômicas parece que se esvaiu neste segundo semestre. Os especialistas e suas cartas alarmantes, comparando a nova tecnologia à bomba nuclear (talvez por influência da cultura pop e do lançamento do último filme de Christopher Nolan, Oppenheimer) saíram das posições de destaque na imprensa burguesa e caíram no esquecimento, destino de tudo que não está nas manchetes na era das redes sociais, do fluxo infindável de informações, da dislexia generalizada. Curiosamente, o sumiço se deu quando o perigo parece cada vez mais próximo.

Segundo o semanário britânico The Economist, que dedicou a cada de sua edição da primeira semana de setembro ao tema da inteligência artificial, em 2024 mais da metade da população mundial irá às urnas. Para nos atermos apenas aos países mais importantes: Índia, Indonésia, México, Taiuan, Reino Unido e, acima de todos, os Estados Unidos. As campanhas eleitorais acontecerão num momento em que modelos generativos de texto, áudio, imagem e vídeo não apenas se tornaram comuns, como são brinquedos que boa parte dos usuários assíduos das redes sociais utilizam (principalmente para a criação de memes). Isso significa que campanhas de influência em massa, que antes necessitavam de seres humanos reais nas famosas troll farms, onde pessoas que sequer falavam a língua de seus alvos eram pagas para enviarem mensagens e responderem a comentários nas redes sociais, agora poderão ser feitas com o uso de ferramentas como o ChatGPT, que em versões especializadas, podem ser executados num computador doméstico de médio ou grande porte.

Mais do que isso, geradores de texto podem ser combinados com geradores de áudio, treinados para pegar os trejeitos de fala de uma determinada pessoa, para fazer alguém que nunca proferiu tais palavras reproduzir uma mensagem gerada por uma ferramenta como o ChatGPT. Quantas pessoas não serão enganadas por tais peripécias tecnológicas? Os vídeos ainda não são tão convincentes, mas já pudemos ver deep fakes muito bons que, caso não tivéssemos senso crítico, os teríamos absorvido como a mais pura realidade.

Acontece que o senso crítico não é uma característica especial de grandes mentes iluminadas. O povo, que quase sempre é tratado como uma grande massa acéfala, especialmente quando se fala em redes sociais, parece ter se protegido do volume infindável de propaganda, dos grandes monopólios que buscam influência-los politicamente.

É isso que expõe o The Economist, que alega que a criação de um áudio “deep fake” do candidato direitista republicano Paul Vallas à prefeitura da cidade de Chicago pouco influenciou os eleitores. Na mensagem de voz que viralizou nas redes sociais, Vallas se mostrava saudoso da época que policiais matavam dezenas de suspeitos e “ninguém nem pestanejava”. O áudio supostamente falso foi retirado das redes sociais, mas o estrago já estava aparentemente feito com as centenas de milhares de compartilhamentos. Isso, porém, não influenciou o resultado eleitoral e Vallas saiu vitorioso.

Talvez uma parte radicalizada de sua base tenha simplesmente achado bom o conteúdo da mensagem gerada artificialmente. Seus opositores, entusiasmados com a “bomba” que poderia revirar as pesquisas de opinião, compartilharam como se não houvesse amanhã, como se a informação, na era da inteligência artificial, não pudesse ser falsa. Os eleitores que poderiam ser influenciados, porém, não mudaram de opinião.

Os dados da matéria vão além desse caso. A conclusão, embasada em pesquisas realizadas na Universidade de Stanford, é que mesmo as campanhas tradicionais em redes sociais não influenciam muito o resultado. Usuários do FacebookTwitterInstagram já estão tão acostumados a serem bombardeados que simplesmente criou-se uma apatia geral em relação a mensagens políticas na internet.

A explanação é muito bem argumentada e sustenta a conclusão, mas se a levarmos a sério nos deparamos com um paradoxo. Para a imprensa imperialista mundial, as eleições de 2016 nos Estados Unidos, quando Donald Trump venceu, foram determinadas por uma ação dos russos, majoritariamente nas redes sociais. Atribui-se a “forças ocultas” e campanhas de internet o sucesso do Brexit. Agora, porém, com Biden no poder e as redes sociais e grandes empresas de tecnologia cada vez mais atreladas aos estados imperialistas, somos levados a crer que nada disso importa. Redes sociais e inteligência artificial são um instrumento político inócuo.

Temos a obrigação de levantar dúvidas sobre isso. No Partido da Causa Operária, damos máxima importância ao desenvolvimento da nossa imprensa, do material impresso e do contato direto com nossos simpatizantes e militantes. Sabemos que a confiança estabelecida por essas relações é muito mais forte do que mensagens sensacionalistas na internet. Por isso, parte de mim tende a concordar com o argumento colocado adiante pela matéria. Outra parte, porém, levanta uma questão: se as redes sociais são inócuas, por que censurá-las tanto? Podemos ter nossa liberdade de expressão de volta?

Acredito que não. Ao final do artigo o jornalista relata como a inteligência artificial, utilizada para censura, para identificar “desinformação”, é mais eficiente do que quando utilizada para gerar a tal “desinformação”. Talvez seja a censura, e não o grande volume de supostas mentiras, que tenha causado apatia nos usuários das redes sociais. Ninguém quer uma timeline empastelada, apenas com conteúdo autorizado pelos órgãos de inteligência norte-americanos. Nesse caso, redes sociais serão úteis apenas para, literalmente, ver receitas de bolo.

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