África

Níger continua se libertando da dominação do imperialismo francês

Apesar das dificuldades, o Níger se prepara para colher os frutos da soberania e conquistar muito mais do que as esmolas do imperialismo

O governo francês anunciou no último dia 21 o fechamento da embaixada do país no Níger. Em comunicado oficial informando a decisão, a missão diplomática francesa alegou que “não está mais em condições de funcionar normalmente ou cumprir suas missões. Diante dessa situação, decidimos fechar em breve nossa embaixada”, informou a chancelaria, acrescentando que:

Após o ataque em 30 de julho contra nossa embaixada e depois do bloqueio de nossas instalações pelas forças nigerinas, retiramos a parte essencial de nosso pessoal diplomático no final de setembro“.

Trata-se de um novo capítulo e uma nova derrota do imperialismo francês no país, que no dia 26 de julho, viu a queda do presidente fantoche Mohamed Bazoum, derrubado por um golpe de Estado liderado pelos militares. Sob a liderança do ex-comandante da guarda presidencial, general Abdourahamane Tchiani, e com forte apoio da população, o golpe encerrou o governo semi-colonial que submetia a pobre nação africana à opressão das nações desenvolvidas. Desde então, um regime nacionalista e de frontal oposição às potências imperialistas instaurou-se em Niamei (capital do país), tendo a França como alvo principal do repúdio popular, devido a opressiva presença francesa no país.

Imediatamente após o 26 de julho, a pressão das massas leva o novo governo a exigir a retirada dos 1.500 soldados franceses que ocupavam o Níger. O imbróglio levou à expulsão de Sylvain Itte, embaixador da França no país, após ultimato dado diante de uma grande manifestação nas ruas de Niamei em 25 de agosto, ocasião em que a junta militar que governa a nação concedeu 48 horas para que Itte deixasse o país. O presidente da França, Emmanuel Macron, recusou-se a aceitar o ultimato de imediato, declarando não aceitá-lo por não reconhecer a autoridade da junta militar:

“Nós o apoiamos [o presidente deposto, Bazoum]. Não reconhecemos aqueles que realizaram o golpe de Estado. As decisões que tomaremos, sejam elas quais forem, serão baseadas no intercâmbio com Bazoum”, disse Macron (“Niger coup supporters call for French ambassador, troops to leave country”, Al Jazeera, 2/9/2023).

Ante a reiterada recusa do imperialismo francês em deixar o país, mais manifestações foram realizadas, reunindo milhares de apoiadores do regime e da expulsão dos franceses. A supracitada reportagem de Al Jazeera destaca a forte apoio popular às medidas do novo governo contra os franceses:

“De acordo com a equipe de segurança, o protesto [do dia 30 de agosto] estava programado para começar por volta das 15h (14:00 GMT), mas milhares de manifestantes já haviam se reunido às 10h (09:00 GMT), pegando a polícia e as forças de segurança de surpresa.” (Idem).

A intensa e persistente pressão popular levou Paris a recuar, anunciando a retirada das tropas e do embaixador no dia 24 de setembro. Em pronunciamento à rede estatal de televisão, o governo de transição comemorou a decisão:

“Neste domingo, comemoramos um novo passo em direção à soberania do Níger”, anunciou o governo, acrescentando que “este é um momento histórico, que demonstra a determinação e a vontade do povo nigerino”.

“Definitivamente, essa é uma pequena vitória para o governo em transição e, talvez, um constrangimento para os franceses, que viram Mali, Burquina Fasso e agora um terceiro país no Sael, onde o governo em exercício está pedindo [aos franceses] para deixar o país”, disse o jornalista Nicolas Haque, da Al Jazeera, em reportagem de Dacar, capital do Senegal (“France to withdraw ambassador, troops from Niger after coup: Macron”, Al Jazeera, 25/9/2023).

A despeito das bravatas francesas, Paris não conseguiu fazer com o que o governo revolucionário retrocedesse e no dia 11 de outubro, as tropas da França começaram a deixar o país. O processo seria concluído no último dia 22, com os últimos homens deixando o Níger, junto aos funcionários da embaixada.

As tropas dos EUA, cerca de mil homens, permanecem no país africano. Em outubro, o governo Biden informou que os soldados permaneceriam no país, sem realizar operações, o que não se sabe até quando durará. Além dos norte-americanos, outros 120 militares alemães também encontram-se no Níger.

Os reflexos da política nacionalista e da determinação em enfrentar o imperialismo já se fazem sentir na economia de uma das mais pobres nações do mundo. Na sequência do 26 de julho, uma onda de sanções foram aplicadas pelas nações desenvolvidas e pelos regimes pró-imperialistas da região.

Os governos dos EUA e dos países da União Europeia (além do próprio bloco), imediatamente suspenderam os subornos eufemisticamente chamados de “ajuda humanitária” ao país que aviltavam. Segundo o Banco Mundial, o Níger recebia até então cerca de US$ 2 bilhões anualmente em ajuda financeira. Parece um valor razoável, mas é uma pechincha perto do que o imperialismo roubava da nação.

Após a ascensão do governo transitório, foi revelado que a França pagava apenas 0,8 euros por quilo de urânio importado do país africano. Ao tentar desmentir o que classificou como fake news, o sítio de checagem de fatos Misbar destaca que o menor valor alcançado pelo minério foi de US$ 7,10, em dezembro de 2000, mais de 23 anos atrás, portanto e 887,5% maior do que o preço pago nas transações criminosas tornadas públicas por Niamei, e isso durante o menor valor da commodity.

O roubo explícito foi tão chocante que mesmo um órgão imperialista como o alemão DW publicou uma matéria destacando que “o Níger exportou urânio no valor de 3,5 mil milhões [bilhões] de euros (3,8 mil milhões de dólares) para França em 2010, mas recebeu apenas 459 milhões de euros em troca, exemplificou” (“Níger: Golpe ameaça interesses de Paris no mercado do urânio”, Martina Schwikowski, DW, 6/9/2023).

Além dos países imperialistas, Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) suspendeu transações financeiras com país, congelando também as transações de serviços como o comércio de energia, levando o Níger a sofrer cortes de eletricidade, uma vez que 71% do consumo energético do país era atendido pela vizinha Nigéria. A empresa de eletricidade do Níger (Nigelec) só consegue atender entre 25% e 50% da demanda.

Reagindo à medida genocida, o porta-voz do Exército, coronel Amadou Abdramane, fez um pronunciamento dizendo que a população nigerina está sendo “duramente atingida pelas sanções ilegais, desumanas e humilhantes impostas pela Cedeao”, que “chegam a privar o país de produtos farmacêuticos, alimentícios” e também do “fornecimento de eletricidade”.

Apesar das dificuldades, o Níger se prepara para comercializar petróleo com expectativa de, a partir de janeiro, exportar 90 mil barris produzidos por dia (“Niger: first marketing of crude oil in January”, Africa News, 12/12/2023). Com o preço do petróleo na bolsa de Nova Iorque negociado a US$ 73,5 o barril (cotação do dia 22 de dezembro), isso significa mais de US$ 2,38 bilhões por ano para o país, mais do que a “ajuda” supostamente humanitária dada a título de suborno. Eles virão de uma refinaria construída, na qual o governo de transição investe US$ 4 bilhões, e 2 mil quilômetros de oleodutos, construídos com investimento de US$ 2,3 bilhões.

A conquista da soberania, como se vê, não é um processo indolor, mas uma vez conquistada, abre perspectivas muito maiores do que as esmolas dadas pelo imperialismo.

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