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Rafael Dantas

Membro da Direção Nacional do PCO e diretor de redação do Jornal Causa Operária.

No mundo da fantasia

O neostalinismo é um jogo de RPG

Não se fazem mais stalinistas como antigamente

Com um tabuleiro montado, peças e baralho na mão, as crianças se reúnem para mais uma partida. Cada uma delas cria seu personagem e são vários, para todos os gostos. Três são os mais comuns: o stalinista da velha guarda, o stalinista enrustido e o stalinista jovem, arrojado porém bruxuleante (ora se assume, ora renega o stalinismo). O RPG do “neostalinismo” é a nova moda na esquerda pequeno-burguesa brasileira.

O jogo entrou na moda quando a Rede Globo e a Folha de S. Paulo escolheram um stalinista para chamar de seu (ainda que não o chamem pelo nome). Preferem apresentá-lo sob o título enganoso de “historiador marxista”. Entretidos e empolgados, porém, os jogadores esquecem que se trata apenas de um jogo. Os elogios e o espaço dado pela imprensa burguesa até deixaram o novo “guru” de um velho tropicalista “tonto com o sucesso”.

Os neostalinistas têm saudades de um passado que não viveram. Uma época de gulags, processos de Moscou e assassinatos a sangue frio. Sentem falta de poderes que nunca tiveram. Restam-lhes frases de efeito, clichés e uma dialética de pé quebrado. No mundo de mentirinha em que vivem, dão ordens a uma burocracia estatal e ameaçam os inimigos: “espere pelo gulag”, troçam nas redes sociais. “Picareta neles”, dizem os mais ousados. No mundo real, como não podem riscar seus adversários do mapa, tentam ignorá-los e, no mais das vezes, por ser impossível fazê-lo, menosprezá-los.

Forçados pelo inexorável curso dos acontecimentos políticos, têm que se posicionar diante da realidade. Na conversa de gente grande da política, só fazem repetir as velhas fórmulas do obtuso estadista: unidade com a burguesia e a defesa da democracia. É a política de frente ampla e nada mais. Diante da flagrante contradição entre sua política e os interesses das massas, refugiam-se na “história”, isto é, na história criada por sua própria imaginação, em que Stálin foi o “pai da nação”, seu gênio militar foi essencial na defesa da URSS e o socialismo em um só país salvou a Revolução Russa. No jogo de faz de conta, são grandes e poderosos, têm até o mesmo bigode do “grande timoneiro”. No mundo real, são inofensivos.

Artigo publicado, originalmente, em 08 de novembro de 2020.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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