Henrique Áreas de Araujo

Militante do PCO, é membro do Comitê Central do partido. É coordenador do GARI (Grupo por Uma Arte Revolucionária e Independente) e vocalista da banda Revolução Permanente. Formado em Política pela Unicamp, participou do movimento estudantil. É trabalhador demitido político dos Correios e foi diretor da Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores dos Correios)

Coluna

O mundo perdeu o criador do riff mais famoso da história do rock

E ele era brasileiro

No último dia 16, faleceu Carlos Lyra, compositor, violonista, um dos fundadores da Bossa Nova e um dos precursores do movimento de música de protesto no Brasil, que convencionou-se chamar de MPB.

Mas o que isso tem a ver com o título desta coluna?

É que Lyra, como muitos nomes importantes da música brasileira, embora tenha ganhado certa fama no auge da Bossa Nova, não foi nenhum popstar. Não foi famoso como Tom Jobim ou João Gilberto.

Mesmo assim, Carlos Lyra escreveu, sozinho ou em parceria, algumas das canções mais importantes da música brasileira.

Foi com o grande poeta Vinícius de Moraes que Carlos Lyra compôs canções como Coisa mais linda (1961), Você e eu (1961), Marcha da quarta-feira de cinzas (1963), Minha namorada (1964), Primavera (1964) e Sabe você (1964).

E agora, sim, podemos explicar o título dessa coluna. Foi também em parceria com Vinícius que Lyra compôs Maria Moita, letra impecável, melodia e harmonia impecáveis e uma introdução marcante. Tão marcante que, embora a música não seja das mais conhecidas da MPB, serviu para que, anos depois, a banda britânica Deep Purple fizesse o que talvez seja o riff de guitarra mais marcante da história do rock’n’roll. Estamos falando de Smoke on the water. Não há jovem roqueiro em qualquer canto do mundo que não o conheça esse riff, que não saia balançando a cabeça ao ouvir suas primeiras notas distorcidas.

Pois é, esse riff, que deu muita fama ao Deep Purple, uma das mais importantes bandas do chamado Hard Rock, foi muito influenciado pela introdução de Maria Moita, de Carlos Lyra e Vinícius de Moraes. Os mais radicais – e confesso que me incluo entre eles – vão dizer que na realidade não passa de uma cópia descarada (e um pouco mal feita, levando em consideração ser o rock um estilo musical mais pobre do que a Bossa Nova e a MPB em geral).

A intenção da coluna, logicamente, não é ofender nenhum roqueiro; nós também apreciamos um bom rock’n’roll. Menos ainda, a intenção é fazer uma defesa burocrática de direitos autorais. Pelo que sei, Carlos Lyra não fez grande alarde sobre o caso, imagino que devia olhar tudo isso com certo orgulho.

A intenção é outra. É mostrar como nós brasileiros, um povo de um país atrasado, somos tratados como tal: um povo de país atrasado, ou “subdesenvolvido”, como denunciou o próprio Lyra, em parceria com Francis de Assis, na Canção do Subdesenvolvido (1961), considerada uma das primeiras canções de protesto da geração MPB.

A colonização promovido pelo imperialismo atinge tão em cheio o país que o próprio povo não conhece suas criações culturais. Se houvesse uma pesquisa perguntando para o cidadão comum qual das músicas ele conhece, Maria Moita ou Smoke on the Water, não seria difícil prever que cerca de 90% ou mais apontaria a música dos britânicos.

Esse não é o único caso de música brasileira plagiada por um gringo. Apenas para citar o caso mais famoso, Jorge Ben ganhou processo contra Rod Stuart, provando que este último havia plagiado um de suas músicas.

A lição que fica de tudo isso é que a luta pela cultural nacional é essencial. A música estrangeira que enche a programação das rádios e dos aplicativos de música é uma forma brutal de domínio cultural.

Que me perdoem novamente os roqueiros, a música popular brasileira é muito superior em vários sentidos. O caso Maria Moita demonstra muito bem isso.

Maria Moita

Nasci lá na Bahia
De Mucama com feitor
Meu pai dormia em cama
Minha mãe no pisador
Meu pai só dizia assim, venha cá
Minha mãe dizia sim, sem falar
Mulher que fala muito perde logo seu amor
Deus fez primeiro o homem
A mulher nasceu depois
Por isso é que a mulher
Trabalha sempre pelos dois
Homem acaba de chegar, tá com fome
A mulher tem que olhar pelo homem
E é deitada, em pé, mulher tem é que trabalhar
O rico acorda tarde, já começa resmungar
O pobre acorda cedo, já começa trabalhar
Vou pedir ao meu Babalorixá
Pra fazer uma oração pra Xangô
Pra por pra trabalhar
Gente que nunca trabalhou

 

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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