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Teoria marxista

O marxismo e a relação entre revolução proletária e a camponesa

O texto em questão foi escrito por Leon Trótski em Dezembro de 1928 e discute o papel dos camponeses na revolução proletária

Em 1881, Vera Zasulich perguntou a Marx o que deveriam fazer os marxistas russos até que o capitalismo tivesse preparado as condições na Rússia para uma revolução proletária. Zasulich escreveu o seguinte:

“Se por um lado a comunidade da aldeia (o mir russo) é condenado à destruição, o que resta para um socialista fazer é encontrar instrumentos de medição bem estabelecidos para determinar aproximadamente em quantas décadas passará a terra dos camponeses russos para as mãos da burguesia e quantas centenas de anos irá decorrer antes que o capitalismo alcance na Rússia o mesmo nível de desenvolvimento presente na Europa Ocidental. Nesse caso, os socialistas terão que fazer campanha apenas entre os trabalhadores da cidade que estarão diluídos dentro da massa de camponeses jogados nas ruas das grandes cidades, em busca de um salário, conduzidos até lá por causa da desintegração da comunidade aldeã” (citação de uma carta de Vera Zasulich a Marx, 16 de fevereiro de 1881, edição russa do livro de Grupo Emancipação do Trabalho, p. 222).

O que é mais notável nesta citação é que a revolução socialista é separada da transformação democrática por vários séculos. Os representantes da geração pós-outubro consideram isto algo monstruoso. Mas essa idéia, indiscutivelmente, prevaleceu entre os marxistas russos até 1905 e também, em grande medida, até 1917. Claro, nem todos mediam em séculos a distância para a revolução socialista. Aqui, Zasulich olhou apenas para a história da Inglaterra como se fosse um espelho para as nações mais atrasadas. Mas a idéia principal, a saber, que primeiro deve haver uma revolução democrático-burguesa; em seguida, as forças produtivas devem ser desenvolvidas por um período indefinido sobre fundamentos capitalistas e que, só então, virá a era da revolução socialista em pleno direito, era a idéia predominante, como mostram as atas da conferencia do Partido Bolchevique em março de 1917. Todos os participantes, sem exceção, consideravam a questão no sentido de que a revolução democrática deveria ser concluída, e não que a revolução socialista deveria ser preparada. Aqueles que, depois de outubro, tentaram fazer uma avaliação crítica de sua atitude para com a revolução de fevereiro têm reconhecido honestamente que caminhavam para uma porta, mas que colidiram com outra. Vejamos o que escreveu, por exemplo, Olminsky sobre este assunto, em 1921:

“A próxima revolução só poderá ser uma revolução burguesa… Foi essa uma premissa obrigatória para todos os membros do partido, a opinião oficial do partido, a palavra de ordem permanente e imultável até a Revolução de Fevereiro, e até um pouco mais tarde”.

De nenhuma maneira tratava-se de que a revolução deveria realizar primeiro as tarefas democráticas e que, apenas sobre esta base, poderia ser ampliada em revolução socialista. Nenhum dos participantes da conferência de março tinha a menor suspeita de tal idéia, antes da chegada de Lenin. Neste momento, não apenas Stálin não fez referência ao artigo de Lenin em 1915, mas advertiu quanto ao perigo de assustar a burguesia, exatamente com o mesmo espírito que Jordania. A convicção de que a história não se atreveria a saltar por cima de uma etapa ditada por qualquer prescrição dos filisteus, estava firmemente implantada em seu cránio. Havia três etapas: primeiro, a revolução democrática levada a sua conclusão, então, um período de desenvolvimento das forças produtivas e, finalmente, o período de revolução socialista. A segunda etapa foi vista como um período bastante longo, medido não em séculos, como fez Zasulich, mas em qualquer caso várias décadas. Foi admitido que uma revolução proletária vitoriosa na Europa poderia reduzir a segunda etapa, mas, no melhor dos casos, só foi incluída como uma possibilidade teórica. Segundo esta teoria esteriotipada, defendida por Stálin e que depois prevaleceu quase completamente, a posição da revolução permanente, que unia as revoluções democrática e socialista no contexto de uma só etapa, era absolutamente inaceitável, anti-marxista, monstruosa.

E, no entanto, em geral, a idéia da revolução permanente foi uma das ideias mais importantes de Marx e Engels. O Manifesto Comunista foi escrito em 1847, alguns meses antes da revolução de 1848 que entrou para a história como uma revolução burguesa parcial e inacabada. A Alemanha naquela época era um país muito atrasado, agarrando-se estreitamente com as correntes do feudalismo e da servidão. No entanto, Marx e Engels não desenvolveram em nenhuma parte uma perspectiva que compreendesse três etapas. Consideravam a revolução que viria como uma revolução transitória, isto é, que começaria a implementar um programa democrático burgues, mas se transformaria pelo mecanismo interno das forças envolvidas, e se transformaria em revolução socialista. Vejamos o que disse, sobre este ponto, o Manifesto Comunista:

“Os comunistas voltam sua atenção principalmente para a Alemanha, porque este país esta às vésperas de uma revolução burguesa que deve ser levada a cabo nas condições mais avançadas da civilização europeia, e com um proletariado muito mais desenvolvido que o da Inglaterra no século XVII ou o da França do século XVIII, mas também porque a revolução burguesa na alemanha não será mais do que um prelúdio de uma revolução proletária que será desencadeada imediatamente”.

Esta idéia não foi de todo acidental. Na Neue Rheinische Zeitung, durante o curso da revolução de 1848, Marx e Engels propuseram o programa da revolução permanente e Marx realmente escreveu um artigo que continha essas palavras como título.

A revolução de 1848 não se transformou em revolução socialista. Mas também não foi concluida como uma revolução democrática. Para compreender a dinâmica histórica, o segundo ponto não é menos importante do que o primeiro. Em 1848, foi demonstrado que, embora as condições não estivessem maduras para uma ditadura do proletariaso, tão pouco havia qualquer lugar para uma realização autentica da revolução democrática. A primeira e terceira etapas foram reveladas indissociáveis. Neste sentido fundamental, o Manifesto Comunista tinha completa razão.

Ignorava Marx a questão camponesa e a tarefa de eliminação dos resíduos feudais em geral? É um absurdo fazer a pergunta. Marx não tinha nada em comum com a metafísica idealista de um Lassalle, que pensava que o campesinato em geral encarnava princípios reacionários. Claro, Marx não considerava o campesinato como uma classe social. Apreciava dialeticamente o papel histórico do campesinato. A teoria marxista como um todo não só fala sobre isso de maneira muito eloquente, mas fala também disto em particular na Neue Rheinische Zeitung de 1848.

Após a vitória da contra-revolução, Marx teve que fazer algumas correções, adiando o dia em que a revolução poderia se esperar novamente. Mas Marx admitiu um erro? Ele veio a compreender que se poderia saltar as etapas? Compreendeu finalmente que havia, precisamente, três etapas? Não. Marx mostrou-se incorrigível. Na época da contra-revolução vitoriosa, destacou o papel de um novo surto revolucionário, e, mais uma vez, ligada à revolução democrática, especialmente a revolução agrária, a ditadura do proletariado utilizando o sotaque da permanencia. Isto é o que Marx escreve em 1856:

“A coisa toda na Alemanha dependerá da possibilidade de manter a revolução proletária com algumas reedições da guerra camponesa. Em seguida, o caso será esplêndido”.

Essas palavras são citadas com frequencia, mas, como demonstrado pelas discussões e os escritos dos últimos anos, o seu significado básico foi mal compreendido. Manter a ditadura do proletariado por uma guerra camponesa significa que a revolução agrária é exercida não mais cedo do que a ditadura do proletariado, mas através dela. Apesar da lição de 1848, Marx não adotou a filosofia pedante das três etapas, uma filosofia que constitui de fato a imortalização de uma incompreensão não digerida da experiência da Inglaterra e da França. Marx pensava que a revolução que viria levaria o proletariado ao poder antes da revolução democrático-burguesa ter sido levada a termo. Para Marx, a vitória da guerra camponesa dependeria da chegada do proletariado ao poder. Fazia depender a capacidade de duração da ditadura do proletariado da questão de saber se esta foi introduzida e desenvolvida paralela ou simultaneamente ao desenvolvimento da guerra camponesa. Era justa a orientação de Marx? Ao responder esta pergunta na atualidade, temos uma experiencia muito mais rica do que a de Marx. Ele valeu-se da experiencia das revoluções burguesas clássicas, principalmente da Revolução Francesa, e fez sua previsão da revolução permanente, tendo como base as relações de força que mudaram entre a burguesia e o proletariado. Engels, em seu livro “A Guerra Camponesa na Alemanha”, mostrou que as guerras camponesas do século XVI, sempre foram dirigidas por alguma fração urbana, ou seja, por uma ou outra ala da burguesia. Baseando-se no fato de que a burguesia como um todo não era digna de um papel revolucionário, Marx e Engels concluíram que a direção de uma guerra camponesa tinha que ser garantida pelo proletariado que iria retirar uma força renovada da guerra camponesa, e que a ditadura do proletariado poderia, no curso de sua primeira e mais difícil etapa, encontrar uma base sólida na guerra camponesa, isto é, na revolução democrática agrária.

O ano de 1848 forneceu uma confirmação incompleta e apenas negativa desta idéia. A revolução agrária não foi levada a vitória, o proletariado não se desenvolveu plenamente e não chegou ao poder. Desde então, porém, vieram as experiencias das revoluções russas de 1905 e 1917, e da China. Agora, a concepção de Marx foi confirmada de forma decisiva e irrefultável: uma confirmação positiva na revolução russa e uma confirmação negativa na revolução chinesa.

A ditadura do proletariado provou ser possível na Rússia atrasada, precisamente, porque era apoiada por uma guerra camponesa. Em outras palavras, a ditadura do proletariado mostrou-se como possível e durável somente porque nenhuma das frações da sociedade burguesa foi capaz de assegurar a direção e resolver a questão agrária. Ou para colocar a questão mais rápida e precisamente, a ditadura do proletatiado foi possível pela simples razão de que a ditadura democrática se mostrou impossível.

Na China, por outro lado, a tentativa de resolver a questão agrária através de uma ditadura democrática especial apoiada pela autoridade da Internacional Comunista, do Partido Comunista Soviético, da URSS, não levou a nada mais do que a derrota da revolução. Assim, o padrão histórico de Marx esta total e completamente confirmado. As revoluções, na nova era histórica, combinaram, ou a primeira e a terceira etapa, ou reverteram e recuaram na mesma primeira etapa.

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