O professor Alysson Mascaro apresentou, em linhas gerais, algumas considerações sobre o marxismo em vídeo no canal “Chavoso da USP”, chamado “Leninismo, Stalinismo e Trotskismo, por Alyson Mascaro”
Ali, é apresentada uma descrição do marxismo que mais parece um exercício de arqueologia. É como se o marxismo não fosse um movimento vivo, mas um amontoado de diferentes coisas que, mesmo quando excludentes, poderiam ser somadas. O marxismo deixa de ser uma ciência, com seus métodos e suas verdades científicas, para tornar-se um conglomerado de teorias.
A concepção de Mascaro acaba caindo num ecletismo que permite que coisas opostas, como o trotskismo e o stalinismo, sejam colocadas no mesmo caldeirão.
Esse ecletismo está muito relacionado à concepção que Mascaro apresenta sobre a relação entre teoria e prática. Sua concepção sobre o problema é esquemática e por demais abstrata.
Não há marxismo apenas teórico e não há marxismo apenas prático. As duas coisas estão entrelaçadas, ao aplicar a teoria na prática, o marxista está também fazendo a teoria.
A teoria tem que surgir a partir da generalização das coisas que efetivamente aconteceram, ou seja, a partir da experiência prática. Se não for assim, será apenas especulação, não uma ciência baseada na realidade, como é o marxismo. Essa ideia fica bem clara quando Mascaro afirma que:
“A luta concreta diz muito mais respeito às próprias circunstâncias de cada país, de cada movimento histórico, do que propriamente de uma ‘teoria geral da revolução’ (…) Cada país foi descobrindo a sua trilha”
Logicamente que a história não pode se repetir, cada fenômeno tem suas peculiaridades. Isso, no entanto, não quer dizer que a ciência social não deva retirar dos fenômenos, do conjunto deles, as leis gerais que regem a sociedade. Não fosse isso, inclusive, sequer poderia haver uma ciência social, consequentemente, sequer poderia haver o marxismo.
Diferente do que afirma Alysson Mascaro, há uma teoria geral da revolução. Essa teoria começou a ser desenvolvida por Marx e Engels e foi plenamente acabada por Lênin e Trotsky, justamente ajudados pela experiência da Revolução Russa.
Lênin, inclusive, chamou a Revolução Russa de “ensaio geral da revolução mundial”. Ou seja, seus esforços eram a busca de uma teoria geral da revolução.
Esse debate foi um dos mais importantes durante o processo anterior e posterior da Revolução Russa. Lênin e Trótski chegaram às mesmas conclusões sobre a teoria da revolução. A Teoria da Revolução Permanente, de Trótski, é, grosso modo, uma explicação definitiva dessa teoria geral da revolução, o que foi reconhecido pelo próprio Lênin.
É daí que entramos na próxima colocação de Alysson Mascaro sobre o stalinismo e o trotskismo. Segundo ele, ambos são parecidos, assim como o leninismo, já que vieram da mesma tradição de luta política e intelectual, que foi a Revolução Russa.
Olhando Stalin apenas como um militante do Partido Bolchevique, é possível dizer que ele veio do mesmo lugar que Lênin e Trótski. Mas as coincidências param por aí e essa ideia de Mascaro é uma visão muito superficial do problema. Na verdade, o stalinismo é o oposto do leninismo e do trotskismo. A teoria da Revolução Permanente, por exemplo, foi combatida pela burocracia stalinista como sendo “trotskista” no sentido de que seria anti-leninista, o que revela bem como Stalin não tem nenhuma afinidade com o leninismo e o trotskismo.
O stalinismo é, portanto, a negação do leninismo e do trotskismo. Stalin e a burocracia usaram Lênin apenas como cobertura ideológica para uma política contrarrevolucionária. O stalinismo não é uma teoria, e nem nada parecido com isso.
Após procurar diminuir a importância do debate entre os marxistas e a burocracia stalinista, Mascaro afirma que foi Mao Tse-Tung quem primeiro notou o problema da burocracia. Segundo ele, Mao teria lançado a Revolução Cultural ao perceber que a revolução havia caído num entrave.
Sobre a ideia da burocracia, Leon Trótski já havia notado e analisado profundamente na URSS. Dentre muitos textos, o livro A Revolução Traída mostra em todo o detalhe o problema da burocracia e da contrarrevolução.
Sem dúvida, a Revolução Cultural foi uma revolta contra uma burocracia que havia tomado conta do governo Chinês. Mao, percebendo esse problema, se colocou a favor dos acontecimentos, mobilizou a juventude para combater a burocracia muito direitista. Em 1969, percebendo que a revolução cultural poderia sair do controle, Mao passou a defender seu fim.
Mascaro está preocupado em produzir um marxismo que, no fundo, está desvinculado das lutas concretas. Isso não é possível. Só pode existir marxismo se ele está ligado à política. Não existe um marxismo acadêmico. Essa tentativa acaba caindo no oportunismo.
A consciência de classe é produto dessa luta política. Por isso Mascaro apresenta uma concepção também abstrata sobre o tema. A consciência de classe é uma realidade, não uma abstração espiritual. O trabalhador é convencido pela burguesia, que domina as ideias do mundo por meio de ideias racionais, apesar de falsas.
O marxismo precisa convencer o povo pelo uso de ideias racionais que digam respeito aos interesses dos trabalhadores. A questão da consciência é bem concreto e depende da luta política, não de uma pregação meramente ideológica.