A publicação feita no Instagram pela agora ex-assessora do Ministério da Igualdade Racial, Marcelle Decothé, traz à tona uma discussão interessante sobre o identitarismo.
Depois de chamar toda a torcida do São Paulo de “branco europeu safado”, ela concluiu: “pior de tudo, paulista”, claro que, tudo isso, usando o ridículo gênero neutro o qual não iremos reproduzir aqui.
Enfim, o que a ex-assessora fez foi uma generalização da população do Estado de São Paulo, identificando-a com algum “opressor”. Como já usaram os identitários, por trás disso está a noção da “elite paulista”. Como tudo na ideologia identitária, essa é ideia é genérica, mas significa dizer que São Paulo teria uma “elite” particular, que por algum motivo difere da “elite” do resto do país. Essa “elite” seria a fonte de todo o mal.
E aí, os identitários acabam generalizando essa ideia para todo o estado. No fim, como a “elite” paulista pode ser qualquer coisa, acaba que toda a população do Estado é, de certa forma, membro dessa “elite”.
A ideia é bem confusa, mas é ela que está por trás da fala de Marcelle Decothé quando ela diz: “pior de tudo, ‘pauliste'”.
O Estado de São Paulo estaria, assim, resumido a uma aglomeração de pessoas elitistas, brancas, europeias, racistas e “safades”.
O grande problema dessa ideia, por si só absurda, é que se existe alguma “elite” paulista, ela é a principal apoiadora das ideias identitárias. A tradução correta do “identitarês” é burguesia. E nesse caso, não é qualquer burguesia, mas aquela mais poderosa do mundo, o imperialismo.
Decothé e os identitários de maneira geral são apoiados pela principal elite econômica do mundo. Fazem parte de ONGs que recebem dinheiro de bilionários como George Soros, através da Open Society, dos herdeiros de Henry Ford, através da Fundação Ford, e até do ex-presidente dos EUA, Barack Obama, através da Fundação Obama. Isso apenas para citar alguns.
As ideias identitárias, incluindo a que fala da “elite paulista”, são impulsionadas por todos essa elite econômica mundial. Para quem acha que não, basta dar um passeio pelas principais empresas imperialistas e veremos toda a ideologia identitária sendo divulgada. Até no Departamento de Estado Norte-americano e nas Forças Armadas daquele país é possível ver o identitarismo sendo propagado.
Mais elite do que isso, impossível.
Mas como esses identitários acham muito lindo tudo o que vem dos Estados Unidos, voltemos ao Brasil. A pior “elite” brasileira também propaga o identitarismo.
A própria Marcelle Decothé foi pega no pulo dando pulos de alegria por ter ganhado um prêmio da Fundação do Itaú. Será que o maior bando do Brasil não é “elite”?
Todas essas ideias têm espaço de divulgação garantido nos maiores jornais da burguesia brasileira. São os jornais, esses sim, da “elite paulista”, O Estado de S. Paulo e a Folha de S. Paulo. Mas também não podemos esquecer da maior emissora do país, a Rede Globo, que dedica diariamente programas defendendo ideias identitárias. A Globo não é “elite paulista” porque é carioca, mas com certeza é elite brasileira.
Recentemente, os jornais da “elite” fizeram muita propaganda da apresentação da ópera O Guarany, de Carlos Gomes, no Theatro Municipal de São Paulo. A apresentação, financiada obviamente pela prefeitura ligada ao MDB/PSDB (será que é a “elite” paulista?), divulgava uma adaptação feita por Ailton Krenak com o mote de que seria contra uma suposta visão da “elite paulista”.
Em suma, financiado pela “elite paulista” real, de carne e osso, o identitarismo vandalizou a principal ópera nacional, com o pretexto de ser contra uma “elite paulista” abstrata, que ninguém sabe direito quem é.
Exemplos como esses mostram como o identitarismo, além de uma ideologia venal e reacionária, não se sustenta em suas ideias mais básicas. A única coisa comum entre as ideias identitárias é a sabotagem do país, do seu povo e de sua cultura.