Uma das principais jogadas ideológicas do sionismo desde a invenção do Estado de “Israel” é usar a acusação de “antissemitismo”, que funciona como um escudo para justificar toda a barbárie imposta ao povo da Palestina. Um documento importante que expressa diretrizes dessa campanha de propaganda é a Declaração de Jerusalém sobre o Antissemitismo, que se apresenta como um trabalho acadêmico para auxiliar na interpretação da definição publicada pela Aliança Internacional para a Memória do Holocausto em 2016.
A definição básica apresentada na declaração sobre o que seria antissemitismo já dá o tom da parcialidade sionista. Segundo eles, “antissemitismo é discriminação, preconceito, hostilidade ou violência contra judeus como judeus (ou instituições judaicas como judaicas)”. No entanto, a definição de “semita” é muito mais abrangente e engloba vários povos com a mesma matriz linguística, dentre os quais se destacam os árabes e os hebreus. A rigor, a “Declaração de Jerusalém sobre o Antissemitismo” elege como semitas apenas os judeus, expressando a perspectiva sionista de eliminação dos árabes da Palestina.
A maioria das diretrizes apontadas no documento tem a ver com generalizações dos judeus como “ligados às forças do mal”, “grotescos, com narizes grandes”… entre exemplos de preconceito “racial”. No entanto, é ignorado que o judaísmo é uma religião e não uma etnia propriamente dita. Outros exemplos citados fazem referência ao poder econômico dos judeus que fazem parte da burguesia mundial. Nesse caso, um fato. Mas o documento aponta que seria antissemitismo se referir aos judeus em geral como “donos dos bancos”, que “controlam os meios de comunicação”. Na verdade, esse tipo de generalização foi usado na Alemanha durante a ascensão do nazismo para jogar uma população empobrecida e revoltada contra um grupo específico e livrando a barra para o resto da burguesia alemã.
Na terceira diretriz, vemos o quão deslocada da realidade é a perspectiva sionista. Um dos exemplos de “atos antissemitas” seria “recusar contratar ou promover pessoas porque são judeus”. De fato, esse é um exemplo clássico de discriminação social. Porém, quantos casos existem concretamente no mundo, hoje, de judeus que são prejudicados profissionalmente por serem judeus? Se isto ocorre em algum lugar do mundo, seria algo bastante específico, por que o documento não explica melhor isto? Simplesmente porque não acontece.
A negação do holocausto judaico pelo nazismo é citado como alegar que “o genocídio nazista deliberado dos judeus não ocorreu, ou que não houve campos de extermínio ou câmaras de gás, ou que o número de vítimas foi uma fração do total real”. Na prática, porém, essa diretriz é usada quando se questiona a relação entre o holocausto judaico e a criação de “Israel”. Como ocorreu com o ex-presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, que foi acusado de ser um “negacionista” do holocausto. No entanto, o que ele problematizava sobre o tema era que não foram os palestinos que confinaram judeus em campos de concentração. Que esses campos de concentração não estavam localizados na Palestina. Ou seja, que a pena pela brutalidade nazista não poderia ser aplicada aos palestinos, como de fato foi com a criação de um Estado supremacista judeu na região.
Já na décima diretriz do documento, buscam inibir mais diretamente qualquer combate à existência do Estado genocida de “Israel”:
“Negar o direito dos judeus no Estado de Israel de existirem e florescerem, coletiva e individualmente, como judeus, de acordo com o princípio da igualdade”.
Ou seja, juntando essa diretriz com a definição apresentada de “antissemitismo”, pedir pelo fim do Estado de “Israel” significaria “discriminar, ter preconceito, hostilidade ou violência contra judeus”. Por se denominar como um Estado judeu, “Israel” então teria liberdade para fazer qualquer coisa, sendo uma “instituição judaica”?
O fato de que esse Estado foi organizado para oprimir a população árabe da região e servir como instrumento da dominação imperialista no Oriente Médio não valeria nada diante do terrível “antissemitismo”.
Não é por acaso que atualmente a maioria dos grupos de extrema-direita é pró-Israel, até mesmo os da Ucrânia, que possuem laços históricos com o nazismo alemão.





