A chegada de Neymar à Arábia Saudita expressa mudanças significativas no mundo do futebol. O jogador brasileiro é não apenas o melhor jogador do mundo como também uma das pessoas mais conhecidas do planeta. Neymar, no entanto, não foi sozinho para a Arábia Saudita. Ao contrário, se juntou a diversos outros atletas de nível internacional.
Desde a década de 1980, os sauditas tentam impulsionar o seu futebol. Nos últimos anos, inúmeros bons jogadores brasileiros estiveram em terras sauditas. No entanto, nada se compara à atual movimentação no país, que ocorre justamente quando o governante de facto Mohammed Bin Salman está dando uma guinada nacionalista contra o patrão histórico do reino islâmico: o imperialismo norte-americano.
A perda de controle dos Estados Unidos, e do imperialismo em geral, sobre o regime saudita, dessa forma, se expressa também no futebol. A política em defesa do desenvolvimento econômico do país e uma maior soberania não poderia deixar de se expressar no esporte mais popular do mundo.
Os sauditas sabem, primeiro, que o futebol é um negócio extremamente lucrativo — por isso, o Estado decidiu investir pesado nos quatro principais clubes do país; segundo, que precisam de uma base de apoio para sua atual política, sendo o futebol uma forma de conquistar as massas; terceiro, que o futebol forte no país significa voltar a atenção do mundo para o que ocorre no país, abrindo as portas da diplomacia para outros países mundo afora, sem precisar depender dos EUA.
Contra isso, toda a imprensa capitalista mundial se voltou contra a operação futebolística no país árabe. Teriam descoberto agora, quando os sauditas não estão mais submetidos ao imperialismo, que a Arábia Saudita é uma ditadura islâmica. O cinismo fica ainda mais explícito quando se percebe que essa campanha grotesca ocorre justamente no momento em que os sauditas estão flexibilizando o regime, garantindo alguns direitos democráticos para a população.
É nesse cenário que Neymar chega ao Al Hilal, principal clube do país e maior campeão continental da Ásia. No cenário em que ocorre a chamada luta entre “ocidente” e “oriente”, que ganhou mais força após o início da guerra da Rússia na Ucrânia. Ao lado dele, chegam jogadores do nível do senegalês Sadio Mané, o argelino Karim Benzema, os brasileiros Alex Telles e Malcom, entre outros jogadores que recentemente estavam disputando as principais ligas europeias.
Vale um destaque para o português Cristiano Ronaldo, inúmera vezes criticado por Zona do Agrião, que não concorda com a farsa de apontá-lo com um dos melhores jogadores da história. Aliás, enquanto jogou na Europa, essa farsa foi propaganda pela imprensa. Quando foi para a Arábia Saudita, o português tornou-se vilão, acusado de mau-caráter e ridicularizado pela própria imprensa que inventou o “mito”.
Mesmo não concordando com toda a campanha favorável ao jogador nos últimos 15 anos, é fato que Cristiano é um jogador de alcance mundial. Se isso ocorreu justamente por invenção da imprensa controlada pelos monopólios capitalistas, acabou se tornando contra eles mesmos: foi o português quem iniciou o processo que atualmente ocorre na Arábia Saudita. Foi ele quem abriu as portas para a chegada de outros grandes jogadores ao país, enquanto Neymar é a consolidação do projeto árabe.
O caso de Cristiano Ronaldo revela a fragilidade do imperialismo, que agora está tendo de se voltar para Messi como único elemento de bajulação. Esse foi para os EUA ter seus números inflados e ser apresentado como maior jogador da história do futebol. O desaforo dos capitalistas acontece justamente no primeiro ano em que o planeta não conta mais com a presença do verdadeiro melhor da história, o Rei do Futebol, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé.