Henrique Áreas de Araujo

Militante do PCO, é membro do Comitê Central do partido. É coordenador do GARI (Grupo por Uma Arte Revolucionária e Independente) e vocalista da banda Revolução Permanente. Formado em Política pela Unicamp, participou do movimento estudantil. É trabalhador demitido político dos Correios e foi diretor da Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores dos Correios)

Festa popular

O controle do carnaval é ditadura

O povo e os blocos devem ter total liberdade para festejar

carnaval rua sao paulo 2022

Embora o carnaval propriamente só comece na próxima semana, nas principais cidades do país a data oficial da folia começou nesse sábado, dia 11, e deve ir pelo menos até o último final de semana do mês.

O carnaval de rua com os blocos ganhou muita força nas grandes cidades nas últimas décadas. Embora seja uma forma muito tradicional de folia, os cordões e blocos de rua, com exceção de cidades como o Rio de Janeiro, Recife e Salvador, estiveram por um tempo sem muito destaque.

O grande investimento nesse tipo de carnaval na maior cidade do país foi importante para o desenvolvimento em outros lugares. Cordões, blocos e bandas de rua tradicionais sempre aconteceram em São Paulo, mas graças a um movimento desses grupos, exigindo da prefeitura uma estrutura mínima para os desfiles, é que o carnaval de rua cresceu.

Esse movimento data de aproximadamente 20 ou 15 anos atrás e, como tudo no capitalismo, o resultado foi contraditório e está bem marcante neste carnaval de 2023.

Os grandes capitalistas notaram que o carnaval de rua em São Paulo era um grande negócio e passaram a investir cada vez mais nisso. A prefeitura, por sua vez, viu no evento grandes possibilidades econômicas e políticas.

Quanto mais foi crescendo, quanto mais dinheiro foi sendo colocado e quanto maior foi a presença da iniciativa privada no carnaval de rua, um fenômeno bem típico do capitalismo passou a acontecer: os grandes blocos, impulsionados por grandes empresas e celebridades, começaram a engolir o carnaval de rua mais tradicional.

A situação chegou num ponto tal que recentemente o ex-prefeito João Doria (PSDB) tentou restringir o carnaval de rua a locais específicos como o Autódromo de Interlagos e o Parque do Ibirapuera para, assim, se manter a apresentação apenas dos grandes blocos empresariais.

Embora não tenha sido bem sucedido graças à mobilização dos blocos tradicionais, o plano de restringir o carnaval de rua continua. Este é o primeiro carnaval após a pandemia e blocos tradicionais tiveram dificuldades de se inscrever. Os que conseguiram, reclamaram da falta de atenção da prefeitura.

Ao mesmo tempo em que a organização do carnaval pela prefeitura foi importante para garantir a existência dos blocos, esse fato resultou num controle sobre os cordões, o que implica em exigências absurdas. No final, é um atentado contra a espontaneidade do carnaval.

Quanto maior o controle, maior a ditadura contra os blocos. Isso sem contar os inúmeros casos de repressão, como o toque de recolher absurdo que acontece em plano carnaval, impedindo que se fique nas ruas após as 20h.

A solução para isso é exigir que o carnaval seja controlado pelos próprios blocos e cordões organizados. A prefeitura tem o dever apenas de fornecer a estrutura necessária para que essa festa popular aconteça, com liberdade para os foliões.

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