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Disfarçando o identitarismo

O argumento identitário anti-identitário

Identitarismo não é luta pelo direito dos negros

A Folha de S. Paulo é um dos locais preferidos de articulistas da esquerda pequeno-burguesa. Se o leitor quer imaginar e se perder pelo que passa na cabeça desse grupo social, basta dar uma olhada nas matérias que tratam sobre negros, mulheres, índios, LGBTs.

Recentemente, Thiago Amparo, advogado e professor, afirmou que a palavra identitarismo virou um palavrão, e que era preciso qualificar o debate sobre o tema tirando esse aspecto da recente tendência da esquerda pequeno-burguesa. 

Ele cita dois trechos de textos que tratam sobre o assunto e o perigo dessa política: “O identitarismo é um erro. É uma pauta criada por ativistas dos EUA (Cantalice, diretor da Fundação Perseu Abramo, 2022).” “O presidente Lula presta mais um serviço ao país ao rejeitar pressões corporativas e identitárias em nome do mais elevado interesse nacional (Cappelli, secretário-executivo do Ministério da Justiça, 26/9).” Colocações que, no geral, estão certas.

Ele, Thiago, afirma que chamar alguém de identitário deslegitima o interlocutor. Na realidade, o termo ganhou esse sentido negativo em razão do uso que foi feito dele ao longo dos anos desde sua criação. 

A política identitária, gestada nos Estados Unidos, tem sido utilizada para estrangular a esquerda e as reivindicações populares e de caráter nacional e progressistas, por isso o termo é uma qualificação negativa para quem o defende.

Diz o autor do texto da golpista Folha que “identidade significaria o agrupamento (e, portanto, diferenciação) a partir de injustiças pessoalmente sentidas (por exemplo, o que uniria duas pessoas negras distintas seria a percepção de que sofreriam de injustiças comparáveis)”. 

Ou seja, independente de qualquer coisa, somos negros, somos mulheres, somos alguma coisa. E isso supera qualquer outro problema social que esteja colocado, por mais brutal que seja este problema, como dinheiro ou política. Seja o finado negro Secretário de Estado dos Estados Unidos, Colin Powell, seja o assassinado negro Sandro Barbosa do Nascimento, do famoso caso do Ônibus 174. 

Não satisfeito, afirma ainda que “identidade, assim conceituada, é limitante, e a ela não subscrevo. Confundir combate à desigualdade com identitarismo é um erro político e conceitual”

Aqui paira uma confusão sobre o que de fato seria o identitarismo. Mesmo o autor não se sente seguro em afirmar do que se trata essa política e o que ela defende. Diz que a luta contra a desigualdade não é identitarismo, e isso, essa equiparação, seria um “erro político e conceitual”.

A confusão reside no seguinte: a esquerda classe média, por se achar especial, criou milhares de identidades. Sendo que a resolução dos problemas estariam em resolver o problema de cada uma dessas identidades, tomadas em separado, especialmente em suas manifestações subjetivas, ou nas expressões do pensamento. 

É daí que surgem as novas “lutas” indígenas, negras, do LGBT negro ou negra, dos travestis, das mulheres com tal ou qual característica social, biológica ou mesmo geográfica. Se formos pegarmos todos os casos, é uma progressão geométrica de identidades. Por isso que não vai para lugar nenhum e causa tanta confusão. 

E segue a confusão: “é diversionismo enquanto o STF fala em justiça reprodutiva, mas o Congresso ameaça destruir o casamento homoafetivo. Podem queimar o identitarismo (serei o primeiro a acender o fósforo); só não nos queime junto com ele no macabro pacto narcísico que combinou, à revelia, que nosso lugar é de agradecer, não de reivindicar. Eis argumentos anti-identitários por uma ministra negra no STF”.

Neste parágrafo, para quem entendeu alguma coisa, não há nenhum argumento anti-identitário que justifique a suposta luta para termos uma mulher negra no STF. Mas a enrolação é tão grande que parece, como no passado, no exercício da arte de passar para frente um cheque sem fundo, ou apresentá-lo em outra praça.  

O que o parágrafo do autor expressa, embora o autor não defenda isso, é que é necessário retirar do STF o poder legislativo, tomado de assalto pelo tribunal, e a necessidade de fazer uma luta política contra a direita golpista que empesteou o Congresso Nacional.

E conclui o autor, para o arrepio do leitor, que: “primeiro, estrutura não é identidade: é fato objetivo de que há disparidade de acesso a instâncias judiciais de poder”.

Depreende-se que se trata do acesso do negro a instâncias judiciais de poder. Ou seja, de juízes e ministros negros. Obviamente isso não se resolve com medidas cosméticas que beneficiem um único indivíduo (um ministro). Quem sabe a eleição de juízes e ministros possam dar um colorido maior ao Poder Judiciário, mas o problema desses identitários não é esse. O problema é a ascensão individual, o alpinismo social. Um lugar ao sol em um sistema que, só na Bahia, nos últimos dias, executou, pelas mãos da PM (em sua maioria negra), mais de 50 pessoas (em sua maioria negras). 

“Segundo”, diz o autor, “raça e gênero não minam utopias universalizantes, mas as qualificam: se todos são universais, por que juízes sempre parecem monotonamente iguais?” 

Aqui a reforma social ou reivindicações populares ou mesmo a revolução virou “utopia universalizante”. Sabe, Deus, o que isto significa e de onde o autor tirou essa expressão. Isso, sim, é um baita palavrão.

Os juízes são iguais em razão de pertencerem a uma classe social bem definida. Representantes do atraso nacional, os integrantes do judiciário são os mais intimamente ligados aos poderes econômicos regionais, ao latifúndio e aos empresários. 

“Terceiro, a pauta equalitária é constitutiva da esquerda, não importada; basta olhar para o umbigo da história do próprio PT”. Errou!

Primeiro que o PT teve uma luta interna muito grande para se definir como um partido operário, por um lado, ou como um partido de profissionais liberais, por outro, sendo que esta segunda corrente prevaleceu, no que resultou na expulsão da própria Causa Operária do PT. 

Segundo que os movimentos negro e de mulheres tinham, e ainda têm, os poucos movimentos sérios que sobraram, reivindicações que buscam resolver o problema destes setores. Como a questão do fim da Polícia Militar ou a legalização do aborto, pleno emprego, por exemplo. A “pauta equalitária” (outro palavrão), criada dentro dos escritórios da CIA, transformou tudo em “black live matters”; ou, mais recentemente, a necessidade febril de ter pessoas negras, mulheres, ou algo assim, em “postos de poder”. Assim nasceu Barack Obama, este sim, genocida, muito maior (se é que se pode comparar) que o senhor Jair Bolsonaro. Nasce também o senhor Joaquim Barbosa, ministro negro, que, a mando de gente mais poderosa que ele, promoveu um dos maiores espetáculos farsescos da justiça brasileira, o mensalão. Joaquim Barbosa, o pai do golpe de Estado de 2016. 

Conclui o autor: “quarto, classe importa tanto que caberia apoiar uma mulher negra, estatisticamente mais próxima dos mais pobres, do que advogados das Americanas”. 

Uma mulher negra juíza, já escolada nos corredores do judiciário brasileiro, não tem mais nada a ver com os pobres nem com os negros. É mais provável que, no Judiciário, ela tenha feito bastante coisa contra os pobres, afinal, o judiciário serve para isso. Basta ver as varas de execução penal, ou as intervenções da justiça do trabalho em greves de qualquer categoria de trabalhadores. São intervenções patronais, contra os pobres.

Por fim, apenas para ajudar a “deslegitimar” o autor do texto da Folha de S. Paulo, jornal que apoiou o golpe de 2016, é preciso destacar que Thiago Amparo é “advogado, professor de direito internacional e direitos humanos na FGV Direito SP. Doutor pela Central European University (Budapeste), escreve sobre direitos e discriminação”, quer dizer, não se trata de um militante de uma organização do movimento negro. É militante em voo solo, de um programa próprio. É militante de si mesmo, e, para o debate em questão (vagas no STF), faz muito sentido.

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