Para quem acompanha com certa regularidade os comentários e colunas do comentarista esportivo Walter Casagrande Jr., não há surpresa nas suas mais recentes opiniões sobre a primeira convocação da seleção brasileira de futebol realizada pelo seu novo treinador, Fernando Diniz.
O pomo da discórdia, como não poderia deixar de ser, é Neymar.
Enquanto a absurda novela em torno de Carlo Ancelotti não se resolve, Fernando Diniz tem a missão de dirigir o time nas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026. É verdade que a seleção brasileira é a única no mundo a ter disputado todas as edições da maior competição esportiva do planeta, e tem todas as condições para se classificar, com relativa tranquilidade, para a próxima. No entanto, Diniz não está disposto a abrir mão do que tem de melhor. E está correto em fazer isso. Tendo que conviver com a possibilidade da derrota, ainda que remota, Diniz tratou de convocar Neymar, de longe o melhor jogador brasileiro.
Foi o que bastou para Casagrande retomar a campanha contra a Seleção. Em tom histérico, Casagrande diz: “Chega, gente!”. “São dez anos da era Neymar e não ganhamos nada, nenhuma Copa jogamos bem com ele em campo. Ganhamos só uma Copa das Confederações em 2013, que é um torneio que nem existe mais”, vocifera o comentarista.
O trabalho de Diniz mal começou e Casagrande já solta os requentados lugares-comuns dos comentaristas esportivos inimigos do futebol nacional. Fala em “panela Diniz” e diz que receia que ela “seja pior que a ‘panela Tite’”. Afirma que “Neymar foi recusado pelo Barcelona, de Xavi, e vários outros times europeus. Só quem o quis foi o Al-Hilal, da Arábia Saudita”. Para ele, com Neymar “vamos ter que aturar deboches, ostentações, dancinhas e nada de seriedade e bola”. Para arrematar os ataques, ainda conclui que Diniz acertou em não convocar Paquetá, que agora está sendo investigado estranhamente sob a alegação de participação em esquema de apostas; e errou em convocar Anthony, acusado de agredir a namorada.
É difícil encontrar na imprensa esportiva brasileira, um setor da imprensa nacional dos mais vendidos ao capital estrangeiro, um colunista que siga com tanta fidelidade e empenho o roteiro de ataque e a campanha de desmoralização do futebol e dos jogadores brasileiros como o faz Casagrande. Seu desempenho é realmente notável.
Para atacar Neymar, Casagrande precisa inventar uma realidade imaginária. As afirmações de que, durante “a era Neymar” não ganhamos nada e de que “nenhuma Copa jogamos bem com ele” são dignas de gargalhadas. Casagrande até menciona a Copa das Confederações de 2013, mas trata de ridicularizá-la. Nenhuma palavra sobre a primeira medalha de ouro brasileira no futebol nos Jogos Olímpicos de 2016, numa jornada cujo líder da equipe foi justamente Neymar.
O argumento de Casagrande é absurdo na sua totalidade. Neymar foi o principal jogador da Seleção em todas as últimas Eliminatórias. Foi destacadamente o principal jogador da Seleção na Copa de 2014, realizada no Brasil, e sua ausência na semifinal é um dos fatores, ainda que não seja o único, que explicam o desastre que veio a acontecer. 2018 foi um ano em que Neymar teve que conviver com inúmeras lesões graves, o que afetou seu desempenho na Copa. Apesar disso, foi a liderança técnica da equipe na competição. A derrota na Copa de 2022 igualmente não tem nada a ver com a atuação de Neymar, autor de um golaço que ia dando a vitória ao Brasil contra a Croácia nas quartas de final, não fosse o vacilo do time que permitiu o empate do adversário. Se o Brasil foi derrotado em todas essas Copas, não foi por causa de Neymar, mas apesar de Neymar.
Neymar caminha para ser o maior artilheiro da história da seleção brasileira. Em breve, Neymar provavelmente terá mais gols que Pelé pela Seleção. Casagrande quer justamente que Fernando Diniz deixe de lado esse jogador. O melhor jogador brasileiro dos últimos 15 anos, o jogador que lidera o Brasil desde praticamente o momento em que se consolidou como profissional, ainda com pouquíssima idade. Um jogador de estatura histórica, que conseguiu números que deixaram Pelé orgulhoso.
Se chamássemos Casagrande de lunático, estaríamos o elogiando. Casagrande é um verdadeiro inimigo do futebol e dos jogadores brasileiros. Sua função é atacar, desmoralizar, caluniar as personagens que fazem algo realmente importante para o futebol brasileiro. Diniz cometeu o “crime” de convocar Neymar e, por isso, entrou na mira de Casagrande. O comentarista afirma que Diniz perdeu a oportunidade para “demonstrar ter personalidade”, mas temos que afirmar justamente o contrário: Diniz mostrou personalidade. E mais: mostrou que não é um louco de pedra.
A decisão mais importante de Diniz, em seu 1º ato como treinador da Seleção, foi convocar Neymar. Sinal de que tende a não cair facilmente nos cantos reacionários da imprensa vendida. Neymar é peça absolutamente fundamental da Seleção no próximo período, e abdicar do craque se trata ou de ato de loucura, ou de ato de sabotagem. Até onde sabemos, Casagrande ainda não foi diagnosticado como “louco”. Só sobra a outra opção.