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Novo presidente

Milei quer dolarizar economia da Argentina

Comparado a Bolsonaro, o choque neoliberal proposto por Milei é muito mais profundo que qualquer programa feito por Paulo Guedes

Em sua primeira entrevista após a vitória eleitoral, Javier Milei — da coalizão Liberdade Avança — relembrou seu compromisso com o programa neoliberal ortodoxo e diferente do debate eleitoral contra seu adversário Sergio Massa — da coalizão União Pela Pátria —, Milei trouxe à tona como pretende pôr em prática essa doutrina do choque.

Privatização das redes públicas de comunicação

Milei confirmou que “tudo o que pode estar nas mãos do sector privado estará nas mãos do sector privado”. Neste sentido, anunciou que privatizará os meios de comunicações públicos: a Radio Nacional, a TV Pública e a agência de notícias Télam, a maior do país. Disse ele: “Consideramos que a televisão pública se transformou num mecanismo de propaganda”. Num tom revanchista, afirmou que “75% do que foi dito sobre o nosso campo foi feito negativamente, com mentiras e apoiando a campanha no medo”, e acrescentou: “Não adiro a estas práticas de ter um ministério da propaganda”.

Milei traz um ponto relevante na derrocada dos peronistas: sem meios de comunicação próprios bem desenvolvidos, o kirchnerismo optou por criar e fortalecer meios de comunicação estatais para realizar sua propaganda. Com a vitória de Milei e a aplicação de seu programa privatista, o debate na Argentina será dominado pelos meios de comunicação diretamente controlados pela burguesia, nacional e internacional.

Petroleira privatizada

O mesmo destino dos meios de comunicação, terá a empresa estatal YPF. “A YPF deve ser recuperada. Desde que o Sr. Kicillof decidiu nacionalizá-la, a empresa deteriorou-se em termos de resultados, de tal forma que vale menos do que quando foi expropriada”, afirmou.

Para Milei, “a primeira coisa a fazer é reconstruir a empresa”. “Na transição em que estamos pensando em termos de energia, a YPF e a Enarsa têm um papel a desempenhar. Desde que essas estruturas sejam racionalizadas, elas são criadas para criar valor, para poderem ser vendidas de uma forma muito benéfica para os argentinos”.

Ao que tudo indica, o destino da YPF será similar ao que foi feito com a Petrobrás: venda de ativos e investimentos de longo prazo para inflar, artificialmente, os lucros da empresa estatal, tornando-a “competitiva” novamente. O segundo momento, como bem delineou o presidente eleito, é a liquidação da empresa em seu conjunto para o setor privado.

Caso de polícia

Após anunciar tantas medidas anti-populares, é de se esperar uma reação popular. Quanto a essa possibilidade, Milei foi direto, referindo-se a possíveis protestos contra as medidas de austeridade anunciadas pelo seu próximo governo, ameaçou: “Quando há um crime, ele é reprimido”.

Para esta ação, revelou que o seu aliado será o próximo chefe do governo de Buenos Aires, Jorge Macri. “Deus nos livre, mas eles podem acabar criando, digamos, uma situação delicada na rua. Isso costuma acontecer na capital federal. Estamos trabalhando, já falamos sobre isso, para manter a ordem nas ruas”.

Bye bye Banco Central, hello dólar

Milei afirmou que o encerramento do Banco Central “é uma obrigação moral” que assumiu e salientou que, para o fazer, é necessário “dolarizar”. Tal como afirmou durante a campanha, “propomos que a moeda seja a escolhida pelos indivíduos”, mas esclareceu que para isso “antes de abrir a pinça, temos de resolver o problema das Leliqs (Letras de Liquidez do Banco Central)”. Ainda disse que o fará “o mais rapidamente possível, porque, caso contrário, a sombra da hiperinflação estará sempre presente”.

Interessante notar que essa política de destruição do Banco Central, tal qual ocorreu no Equador, é vendida para a população como uma forma de conter a inflação galopante que corrói o poder de compra. No entanto. No entanto, o fim do Banco Central argentino e a dolarização formal de uma economia já dolarizada informalmente, significa abrir mão de uma política monetária própria, terceirizando a função do Banco Central argentino para o FED americano. Que, por sua vez, está completamente fora de qualquer esfera de poder nacional.

Um funcionário do FMI

Milei revelou que nas últimas horas “o FMI se comunicou comigo”, mas não deu pormenores. Além disso, reconheceu que “temos dialogado desde antes das eleições”. Interessantemente, o antigo funcionário do FMI não teve suas credenciais de “anti-sistema” questionadas, mesmo após demonstrar, seguidamente, sua proximidade com o Fundo Monetário Internacional.

Nem mesmo os peronistas, com seu pudor centrista, conseguiram levar essa ligação fundamental entre Milei e o imperialismo internacional ao primeiro plano do debate político nacional.

Sobre temas ligados à divisão de poderes entre o governo nacional e as províncias, Milei foi taxativo: “A educação, no momento, vai continuar como antes. O ordenamento é federal, a saúde e a educação não podem ser privatizadas porque dependem das províncias.”

“E o voucher? É sempre melhor financiar a procura e não a oferta. Mas estamos falando de coisas que não vão ser implementadas a curto prazo, por isso vamos parar de fazer barulho na cabeça das pessoas. Tudo vai continuar como está agora.

Um Bolsonaro argentino?

Muitos analistas apontavam Javier Milei como espécie de “resposta” argentina ao bolsonarismo brasileiro. Não há dúvidas que ambos defendem um programa neoliberal ortodoxo e possuem uma áurea pastelão, típica dos candidatos da direita desbocada latino americana. Entretanto, o choque neoliberal proposto por Milei é muito mais profundo que qualquer programa feito por Paulo Guedes. Além disso, as conexões íntimas entre o presidente eleito na Argentina com o FMI, é algo que Bolsonaro não poderia sequer sonhar.

Resta saber, no entanto, se Milei conseguirá sucesso na implementação deste programa. Seja pela resistência popular do cambaleante peronismo, ou pelos conflituosos interesses das oligarquias regionais, os desafios para implementar a doutrina do choque serão enormes.

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