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“Nordeste não apoiou junho de 2013”, mais um mito

A tese de que junho de 2013 foi uma luta contra Dilma e não uma luta contra a direita, principalmente PSDB, reforça a ideia reacionária que o sudeste é direitista

O aniversário de 10 anos das manifestações de junho de 2013 trouxe à tona as análises erradas realizadas sobre os atos, principalmente dos setores do PT que não souberam interpretar as nuances que diferenciam esses atos dos que aconteceram posteriormente contra a presidenta Dilma. Um desses casos foi o colunista do Brasil 247 Eduardo Guimarães que publicou um texto intitulado Nordeste não apoiou junho de 2013. Aqui, ele mistura a análise incorreta sobre 2013 com as teses reacionárias de que o nordeste é o polo mais esquerdista do Brasil em oposição ao sudeste direitista.

O texto começa citando a pesquisa do IPEC: “Pesquisa Ipec recém-divulgada mostra como as famigeradas ‘jornadas de junho de 2013’ foram um dos maiores erros do campo progressista — e só não é maior do que a Luta Armada contra a ditadura militar, que deu a ela a desculpa que precisava para se eternizar”. O primeiro ponto a se comentar é a escolha da crítica à luta armada ao invés da capitulação total ante ao golpe em 1964. Está, sim, culpada pela implementação da ditadura. A juventude que se levantou em armas, mesmo que com a tática errada, ao menos teve a coragem de lutar e nesse quesito deve ser admirada pela esquerda. 

Então, Guimarães apresenta o erro mais comum sobre as manifestações de junho de 2013: “A pesquisa é densa e revela, uma década depois, como a direita soube enxergar claramente o erro que a esquerda cometia ao atacar com tanta fúria um governo de… ESQUERDA — no caso, o governo Dilma Rousseff”. Quem estava presente nos atos sabe muito bem que Dilma não era o foco dos ataques. Em momento algum a maioria nos atos puxou palavras de ordem com “fora Dilma”, como aconteceu a partir de 2014 e principalmente em 2015 e 2016. Os atos se direcionaram contra a direita nos governos estaduais, o PMDB no Rio e o PSDB em Minas Gerais e São Paulo.

Já em 2013, o PCO publicou sua análise sobre os atos: “Esse é, essencialmente, um movimento da juventude e um movimento dirigido contra a ditadura que a direita, ou seja, o PSDB e seus aliados, impuseram no mais importante estado da federação nacional”. E também “não podemos esquecer que o crescimento das manifestações poderia e, na medida em que não terminaram completamente, poderá quebrar as outras duas pernas do tripé que sustenta o regime político, ou seja, os governos estaduais do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, este último, também um baluarte do PSDB”.

Boa parte dos críticos de 2013 mais ligados ao campo petista tem um problema de analisar os atos, pois o PT não participou de forma organizada em 2013, o que também foi um dos grandes erros que acarretou a cooptação dos atos pela direita. Não havia de fato uma força política organizada para canalizar os atos para a derrubada dos governos estaduais, assim, a imprensa burguesa, em uma enorme e desesperada operação, conseguiu manobrar os atos contra a sua tendência inicial. O maior dos atos, no dia 20 de junho, já era uma enorme confusão.

O autor logo depois afirma: “Detalhe: foi no Sudeste que tudo começou e onde ocorreram as maiores manifestações.” No sudeste é onde se encontravam os principais baluartes da direita no regime político nacional, muito semelhante aos dias de hoje. Entendendo que os atos eram contra essa direita tudo faz sentido. Mas ao se considerar que os atos eram, na verdade, contra Dilma, se cria o mundo invertido, o sudeste seria o foco da luta contra o PT e o nordeste o grande reduto do PT. É uma tese que vem se apresentando muito nos últimos anos devido aos resultados eleitorais, mas que desconsidera completamente as bases materiais do Partido dos Trabalhadores.

O presidente Lula é a maior liderança popular do Brasil não porque nasceu em Pernambuco, mas porque liderou as greves no ABC paulista. O PT surgiu em São Paulo e da mesma forma a CUT. A maior força do PT, portanto, não está no nordeste, mas, principalmente, em São Paulo e, logo depois, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Isso é uma análise não baseada apenas nos resultados eleitorais da eleição presidencial, mas sim nas bases reais do PT. Basta também analisar não os atos de 2013, mas os atos a partir de 2015, os atos de luta contra o golpe.

Quando a direita golpista de fato levantou a cabeça, quem saiu às ruas para lutar contra o golpe de Estado foi a classe operária do sudeste. As maiores manifestações contra o golpe foram nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. O mesmo é válido para a luta pela liberdade de Lula, pelo Fora Bolsonaro e depois por Lula Presidente. Isso também se comprova nos resultados eleitorais comparando 2018 com 2022. Os locais onde o bolsonarismo mais perdeu popularidade também foram SP, RJ e MG nessa ordem. Na grande São Paulo, inclusive, a luta foi tão forte que Lula derrotou Bolsonaro. 

Sendo assim, cai por terra toda a tese do nordeste esquerdista contra o sudeste direitista. No quesito da luta política real, da luta nas ruas trava pelos trabalhadores e suas organizações, o sudeste e, principalmente São Paulo, está muito afrente de todo o Brasil. Em 2013, lideraram a luta contra o PSDB e desde 2015 lideram a luta contra o golpe. O fato de não terem derrotado eleitoralmente o PSDB e agora Tarcísio não significa nada. Por essa tese o Brasil inteiro seria direitista nos 8 anos de governo FHC, quando, na verdade, ele já era a figura mais odiada no País em seu primeiro ano de governo, assim como foram os governadores tucanos em SP por quase 30 anos.

O texto conclui: “Mais uma vez, porém, o Brasil nordestino pauta o Sul Maravilha. Assim como a força de Lula veio do Nordeste, a razão sobre junho de 2013 também imperou onde as pessoas parecem ser mais lúcidas e cientes da urgência de um governo popular que entenda a nossa política”. Mais uma vez Guimarães repete a tese surreal de que a força de Lula vem do nordeste. O metalúrgico que se tornou presidente não baseia sua força política apenas nos 22,53 milhões de votos que teve no nordeste e nem nos 22,79 milhões de votos que teve no sudeste.

A força de Lula não é meramente eleitoral. Ele é a principal liderança popular de todo um movimento nacional de luta dos trabalhadores da cidade e do campo, em todas as 5 regiões do Brasil. Movimento esse que é liderado pela classe operária nas grandes cidades do sudeste, principalmente na cidade de São Paulo, onde Lula surgiu, onde existe a maior classe operária de toda a América Latina. A cidade que alçou um operário ao governo pela terceira vez no ano de 2023.

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