No dia primeiro de maio, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) discursou na maior feira de tecnologia agrícola do País, o Agrishow. Ovacionado pelos presentes, que o chamavam de “mito”, Bolsonaro criticou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e os movimentos de luta pela terra. Disse o ex-presidente:
“Vocês devem saber que há 400 pedidos de demarcações de terras indígenas e pelo menos 3.500 de quilombolas. E aquele cara disse que faria o possível para atender os anseios das comunidades. Se 10% forem atendidos, para onde irá nosso agro? Peço a Deus para isso não acontecer”.
As intenções de Bolsonaro são claras. O ex-presidente procura se apresentar como representante dos interesses de um dos principais setores econômicos do País, chamado pela imprensa de “agronegócio” – isto é, os latifundiários. Neste momento, por meio de entidades como a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), os latifundiários estão em uma ofensiva contra o MST e os indígenas, pedindo a prisão de lideranças e a tipificação do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) como “terrorista”. Mais do que expressar uma opinião, Bolsonaro se lançou como o grande defensor dos interesses dos patrocinadores do evento, em oposição ao presidente Lula, que é apoiado pelo MST.
A “paixão” entre Bolsonaro e os latifundiários é mútua. Antes de sua chegada, estava previsata a participação de Carlos Fávaro, ministro da Agricultura do governo Lula. É uma tradição do evento receber representantes oficiais do governo, e Fávaro, longe de ser um homem do MST, é bastante ligado aos latifundiários. No entanto, sob o pretexto de evitar atritos, pois Fávaro seria identificado como um elemento do governo, os organizadores cancelaram a cerimônia de abertura e, assim, a participação de ambos no dia primeiro.
Acontece que, para conseguir discursar no primeiro dia, Bolsonaro realizou uma manobra se apoiando no governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos). Em seu discurso, Tarcisio não só deu voz ao ex-presidente, como disse que “não é mistério para ninguém a gratidão” que tem por Bolsonaro. O governador de São Paulo ainda fez um discurso bastante agressivo contra o MST. A participação de Bolsonaro no primeiro dia, assim, levanta a suspeita de que o “cancelamento” não teria sido combinado com os própros organizadores, como forma de excluir aa participação de um representante do governo Lula.
Tanto a participação de Bolsonaro, garantida por uma trama suspeita, quanto o seu discurso e o apoio recebido mostram que o “agronegócio” é Bolsonaro. Esse é mais um dado que mostra que o País se encontra dividido, e que cada vez mais os setrores dominantes da sociedade se agrupam em oposição e sabotagem ao governo Lula.