Matéria publicada no portal de jornalismo investigativo Greyzone denuncia campanha milionária lavada adiante por políticos neoconservadores, como Bill Kristol. A propaganda massiva em defesa da manutenção da guerra na Ucrânia seria financiada com “dark money”, ou seja, dinheiro investido em campanhas eleitorais sem identificação dos doadores e não recebido diretamente pelos políticos. Uma manobra há muito estabelecida na política norte-americana e que torna seu regime político ainda mais controlado pelo grande capital. O jornalista Alexander Rubinstein chama atenção para o alinhamento do grupo com a política do Partido Democrata (ou Democrático).
O grupo que aparece como financiador da iniciativa, o Defending Democracy Together (Defendendo Democracia Juntos) de Bill Kristol opera como uma fração anti-Trump dentro do Partido Republicano. Uma das suas iniciativas anteriores, por exemplo, foi a “Eleitores Republicanos Contra Trump”. A campanha “Republicanos pela Ucrânia” aparece após o fracasso da contraofensiva ucraniana e da crescente rejeição da população dos Estados Unidos à política de “guerra sem fim” dos Democratas. Uma das estratégias do grupo seria transformar as eleições presidenciais de 2024 numa espécie de referendo para que o país financie pesadamente a OTAN na sua guerra por procuração.
A proximidade de Kristol com a cúpula do Partido Democrata rendeu a ele o apelido de “Woke Bill Kristol”, em referência à política “woke” ou identitária que é característica marcante do partido do presidente Joe Biden. Um ponto central da campanha tem sido mostrar o apoio de eleitores republicanos à manutenção da guerra e ao consequente financiamento dela pelos Estados Unidos. A matéria destaca esse ponto, pois a campanha está direcionada especificamente à base do partido, que se mostra cada vez mais contrária a essa política de guerra por procuração da OTAN. Os testemunhos dos eleitores republicanos “pró-Ucrânia” estão disponíveis no site da campanha e no geral repetem uma retórica de defesa da democracia contra o autoritarismo, que estaria personificado pelo presidente russo Vladimir Putin.
Além de ter uma programação de veiculação de anúncios na televisão e no YouTube até o final do ano, o grupo comprou espaço de propaganda no canal Fox News durante o primeiro debate das primárias do Partido Republicano, realizado na cidade de Milwaukee. Para intensificar a ação, o grupo alugou 10 outdoors estrategicamente localizados na cidade para tentar impactar a base do partido durante o evento.
A matéria do Grayzone destaca que, apesar da dificuldade para rastrear o tal “dark money”, pelo menos um financiador do Defending Democracy Together é conhecido. Pierre Omidyar foi o criador do portal de comércio virtual e-bay ainda nos anos 1990. Bilionário e “filantropo”, é um financiador importante do Partido Democrata e do presidente Biden. Entre 2018 e 2021, seu “Democracy Fund” doou 4,15 milhões de dólares para o grupo de Kristol e seu desdobramento, o “Republicanos pelo Estado de Direito”. Como não poderia ser diferente, Omidyar além de financiar diversos candidatos democratas, mantém suas diversas fundações atuando lado a lado com os serviços de inteligência dos Estados Unidos nas suas operações para desestabilizar e derrubar governos, mundo afora.
Rubinstein conclui ressaltando o quão irônico acaba sendo o nome “Republicanos pelo Estado de Direito”. Por um lado, ignoraram completamente essa defesa do “Estado de Direito” quando presidentes dos Estados Unidos mentiram ao público para justificar suas aventuras militares desastrosas, que incluíram a prática de tortura com presos. E, por outro, que o atual “guru” dos chamados “neoconservadores” pode nem ser um republicano de fato.
