O presidente Lula realizou um importante discurso na posse de Dilma Rousseff como presidenta do Banco de Desenvolvimento dos BRICS, em Xangai, na última quinta-feira (13).
Ele disse que é preciso abandonar a dependência do dólar e que o Brasil, os BRICS e os demais países oprimidos cansaram “da submissão às instituições financeiras tradicionais, que pretendem nos governar, sem que tenham mandato para isso”. Citou o exemplo do FMI: “vocês lembram de quando o presidente do FMI descia no aeroporto do Rio de Janeiro ou de Brasília para fiscalizar as contas do nosso país. Nós mudamos a regra.”
Lula continuou, criticando a “asfixia” que o FMI está impondo à Argentina e também o conjunto dos bancos internacionais: “é como se os países virassem reféns daqueles que emprestaram dinheiro.” E completou: “nenhum governante pode trabalhar com uma faca na garganta porque está devendo.”
As críticas foram explícitas ao FMI e ao Banco Mundial, que são instituições financeiras pretensamente multilaterais que atenderiam aos interesses da comunidade internacional de maneira igualitária. Contudo, pela sua própria formação, são dois órgãos controlados diretamente e completamente pelos Estados Unidos. A maioria de seus funcionários é norte-americana e os dois são sediados nos EUA. Os outros, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), são baseados em outros países imperialistas, como a Suíça.
Não apenas no âmbito econômico, mas também no político, diplomático e social, todos esses órgãos que intermediam as relações internacionais são controlados pelo imperialismo. Lula citou também o maior deles, a Organização das Nações Unidas (ONU). Ele sempre insiste, em suas falas internacionais, em enfatizar a necessidade, em sua opinião, de democratizar as Nações Unidas, ampliando o número de países membros permanentes de seu Conselho de Segurança. No entanto, a ONU também é integralmente controlada pelo imperialismo. Sua sede também é nos EUA e a maioria de seus funcionários é norte-americana. Em nenhum momento da história a ONU serviu para atender aos interesses dos países pobres, pelo contrário: criou o Estado de Israel, suas tropas invadiram e destruíram a Coreia e depois as “forças de paz” ocuparam e controlam até hoje partes inteiras de países como a Sérvia (Cossovo).
Lula provavelmente sabe que não é possível reformar algumas dessas instituições. Por isso está investindo tanto “capital político” no Banco de Desenvolvimento dos BRICS, com a ex-presidenta e mulher de total confiança sua, Dilma Rousseff, à frente. Lula pretende utilizar o Banco dos BRICS para realizar os empréstimos que o FMI ou o Banco Mundial fariam, só que cobrando um preço que o presidente do Brasil não pretende pagar: a submissão econômica.
Ao mesmo tempo, no entanto, Lula ainda mantém esperanças com relação à ONU, por exemplo. Isso é natural, pois a ONU consegue disfarçar melhor seu papel de órgão de rapina imperialista do que o FMI, uma vez que seu papel não é diretamente econômico, mas sim político. Como um político nacionalista burguês, Lula pensa que é possível inserir o Brasil em um posto de comando na ONU e que isso ajudaria a se implementar uma política diferente da que a ONU sempre desempenhou. Ledo engano: primeiro, porque o imperialismo dificilmente irá aceitar o Brasil no Conselho de Segurança, segundo porque se isso acontecer o imperialismo tem mais um milhão de instrumentos para impedir um funcionamento democrático do órgão.
A ONU, assim como o FMI, o Banco Mundial e a OMC, não pode ser reformada. Da mesma forma que o Estado burguês não pode ser reformado. São uma estrutura de classe, da classe capitalista, do imperialismo internacional. Portanto, enquanto existirem, serão uma ferramenta de dominação da burguesia imperialista.
A criação dos BRICS, como enfatizou Lula, significou a formação de uma estrutura nova e independente do controle direto do imperialismo. O que precisa ser feito é aprofundar a independência dos BRICS ampliando a sua área de atuação e integrando mais países oprimidos pelo imperialismo. É preciso trocar o FMI e o Banco Mundial pelo Banco de Desenvolvimento dos BRICS, trocar todos os órgãos imperialistas pelos órgãos criados e controlados pelos países que não querem se submeter ao jugo imperialista. É preciso se retirar da OMC, da ONU e de todos os organismos imperialistas se a intenção for atuar de maneira soberana e sem as amarras do imperialismo. Mais do que isso: é necessário afrontar diretamente o poder do capital imperialista. Qualquer órgão que não for controlado por eles, naturalmente será mil vezes mais democrático que uma ONU, uma UNESCO ou uma UNICEF.
É preciso colocar abaixo as instituições imperialistas e formar novas instituições por fora do controle dos países e do capital imperialista. Só assim será possível iniciar uma jornada pela independência e soberania dos países atrasados.