No último dia 21 de fevereiro, a jornalista Mariana Belmont publicou uma coluna na Folha de S. Paulo chamada “A culpa não é da chuva: é do racismo ambiental”.
O artigo faz uma análise sobre as causas do desastre ocorrido no litoral de São Paulo, que até agora já conta com mais de 40 mortos e mais de 40 desaparecidos, além de milhares de desabrigados e desalojados.
Corretamente, o artigo explica que a responsabilidade pelo ocorrido não são as chuvas de verão, mas de uma determinada política:
“As chuvas de verão não têm culpa: a responsabilidade é do poder público negacionista, dos interesses privados, da especulação imobiliária e do poder de barganha das grandes fortunas, é do descaso para com os mais pobres, do racismo, da desigualdade social e de um ‘desenvolvimento’ que mata.”
O problema são as conclusões que a matéria tira dessas constatações. A matéria que, não por acaso, foi publicada num dos principais jornais da direita e da burguesia, evita dar nome aos bois. Qual seria esse “poder público”, ou melhor, quem seria ele? É para esconder o problema político, até poderíamos dizer, para despolitizar o debate, que aparece o vocabulário identitário tão na moda.
“Racismo ambiental” é um termo que, no fim das contas, não explica nada, tampouco aponta uma resolução para o problema.
Mais à frente, a autora afirma que os “municípios precisam ser responsabilizados pela falta de ações de adaptação e pelas mortes e soterramentos.” É muito provável que as prefeituras de todos esses municípios tenham a sua parcela de culpa. Mas o que dizer, por exemplo, das mais de duas décadas de governo do PSDB em São Paulo? Se devemos responsabilizar prefeitos, o que deveríamos falar da política de um partido que governou o estado mais rico do Brasil, o mais rico da América Latina, mas que permitiu anualmente que as pessoas morressem soterradas por questões, conforme diz a autora, que seriam facilmente prevenidas.
O que dizer, ainda, do teto de gastos e de toda a política imposta pelos aliados da Folha de S. Paulo que impossibilita que sejam feitos gastos de infraestrutura nos municípios para poder destinar mais de 50% do orçamento público para a dívida com os banqueiros e especuladores.
Racismo, ou, “racismo ambiental”, como quer a autora, é apenas um termo. Mas ele não explica nada. Se a maioria dos que morrem nesses desastres são negros, é simplesmente porque os negros e pardos são a maioria da população brasileira. E a maioria da população é pobre e uma parte dela é jogada para situações precárias de moradia.
“Ainda que as tempestades possam de fato se intensificar no contexto de emergência climática que vivemos, o ponto central aqui são os processos históricos de formação territorial, nos quais o racismo é elemento estrutural. É disso que se trata quando falamos de racismo ambiental.”
Somente faz sentido dizer que os “processos históricos” têm alguma culpa em tudo o que está acontecendo se relacionamos com o a política atual. Criticar a história colonial sem mostrar, por exemplo, a política imperialista de agora não faz sentido. Pior ainda, serve para esconder o real problema.
A autora revela de onde tirou sua teoria do racismo ambiental, ao menos parte dela:
“Em outubro do ano passado, a relatora da ONU Tendayi Achiume reforçou em seu relatório que não pode haver mitigação ou resolução significativa da crise ecológica global sem uma ação específica para lidar com o racismo sistêmico, em particular com os legados raciais históricos e contemporâneos do colonialismo e da escravidão.”
Exatamente, uma ideia surgida nos escritórios do imperialismo, ou, se quisermos usar palavras da moda, do colonialismo atual. Enquanto a ONU sustenta as maiores atrocidades contra povos inteiros, ela finge se preocupar com o racismo, a ecologia e outras palavras.
A solução para o problema enfrentado dos desastres ambientais não é um combate fictício a um problema fictício, “racismo estrutural”. A solução passa por livrar os países das correntes econômicas impostas pelo imperialismo, das quais a direita brasileira, representada entre outras pela Folha, é a principal ideóloga.