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Calúnias contra Hamas

Não é “defesa da mulher estuprada”, e sim racismo com o negão

As acusações de que o Movimento Islâmico teria promovido estupro coletivos de mulheres é uma manifestação de racismo contra os árabes palestinos

A principal calúnia contra o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) no momento é a de que seus militantes teriam estuprado e mutilado mulheres israelenses durante a Operação Dilúvio de 7 de outubro. Essa fábula, ao mesmo tempo em que é contada sem a companhia de qualquer prova, se baseia em fontes tão confiáveis quanto uma raposa que se ofereça para tomar conta de um galinheiro: “médicos” israelenses, cujas declarações são ensaiadas com o governo de Tel Aviv, e funcionários do aparato de repressão sionista – os mesmos que estão sendo acusados pela própria imprensa local de ter aberto fogo contra seus compatriotas.

O objetivo da nova calúnia é, além de aumentar a ficha corrida de supostos crimes do Hamas, tentar angariar o apoio de ativistas “feministas”, uma vez que o combate à “cultura do estupro” tem sido uma das principais bandeiras do movimento de mulheres pequeno-burguês. Tal meta fica evidente na declaração de Benjamin Netanyahu da última terça-feira (5): “Eu digo às organizações de direitos das mulheres, às organizações de direitos humanos: vocês ouviram falar de estupro de mulheres israelenses, de atrocidades horríveis, de mutilação sexual – onde diabos vocês estão?”.

Ecoar a campanha que está sendo feita por Benjamin Netanyahu, por Joe Biden, pelo Mossad e pela imprensa imperialista nada tem a ver com a luta das mulheres. Ainda que fosse comprovado que houve alguma agressão aos reféns israelenses – coisa que vai se mostrando, a cada dia que se passa, mais inverossímil -, também não mudaria em nada o conteúdo do atual conflito. Trata-se da luta de um povo para se libertar de seus opressores – neste sentido, não há nada mais favorável à luta das mulheres que a derrota de “Israel”. Isto é, a vitória do Hamas.

As acusações de “violência sexual” não são, contudo, ataques quaisquer. São também uma campanha tipicamente racista, como já seria de esperar do Estado nazista de “Israel”.

Como pode ser visto na declaração abaixo, extraída de um artigo da emissora britânica BBC, a campanha não procura apenas imputar um crime aos militantes islâmicos, mas sim apresentá-los como sub-humanos, como selvagens:

“Me arrepia só de saber como eles planejavam em detalhes o que fazer com as mulheres: cortar seus órgãos, mutilar seus genitais, estuprar. É horrível saber disso”.

Essa tentativa de horrorizar o público com descrições da “selvageria” do Hamas é um velho método de propaganda fascista, que foi largamente empregado durante o período da segregação racial nos Estados Unidos. A prática era tão comum que cunhou-se uma expressão para designá-la: “the brute caricature”, que podemos traduzir como “o estigma do bruto”.

Conforme o portal Jim Crow Museum, “o estigma do bruto retrata os homens negros como inerentemente selvagens, animalescos, destrutivos e criminosos – merecedores de punição ou mesmo da morte. O ‘bruto’ é um demônio, um sociopata, uma ameaça antissocial. Os brutos negros são representados como predadores horrendos e aterrorizantes que miram vítimas indefesas, especialmente mulheres brancas. Charles H. Smith (1893), escrevendo na década de 1890, afirmou: ‘um negro mau é a criatura mais horrível sobre a terra, o mais brutal e impiedoso’ (p. 181). Clifton R. Breckinridge (1900), contemporâneo de Smith, disse sobre a raça negra: ‘quando ela produz um bruto, ele é o pior e mais insaciável bruto que existe em forma humana’ (p. 174). George T. Winston (1901), outro escritor ‘negrofóbico’, escreveu: “quando se ouve uma batida na porta [de uma mulher branca], ela estremece com um horror sem nome. O bruto negro está à espreita na escuridão, uma besta monstruosa, enlouquecida pelo desejo. Sua ferocidade é quase demoníaca. Um touro ou tigre louco dificilmente seria mais brutal. Uma comunidade inteira está tomada por horror, com a raiva cega e furiosa por vingança’ (pp. 108-109)”.

A relação entre o “estigma do bruto” e as acusações contra o Hamas são ainda mais estreitas que parecem à primeira vista. Conforme o mesmo portal supracitado, O ‘crime terrível’ mais frequentemente mencionado com o bruto negro era o estupro, especificamente o estupro de uma mulher branca. No início do século XX, grande parte da propaganda antinegra virulenta que encontrou espaço em periódicos científicos, jornais locais e romances mais vendidos centrava-se no estereótipo do estuprador negro. A alegação de que brutos negros estavam, em números epidêmicos, estuprando mulheres brancas tornou-se a pretexto para o linchamento de pessoas negras”.

De acordo com dados do Instituto Tuskegee, pertencente à universidade de mesmo nome, entre 1882 a 1951, 4.730 pessoas foram linchadas nos Estados Unidos, sendo que 3.437 negras. As vítimas não negras, em geral, eram estrangeiras ou pertenciam a grupos perseguidos.

“No início dos anos 1900”, conta o Jim Crow Museum, o linchamento adquiriu um caráter decididamente racial: multidões brancas linchavam pessoas negras. Quase 90% dos linchamentos de pessoas negras ocorreram nos estados do sul ou em estados na fronteira”.

Os linchamentos são a maior prova da hipocrisia dos que acusam o Hamas – e, anteriormente, acusavam os negros – de serem “bárbaros”. Mergulhando no clima histérico estabelecido contra os negros, muitos dos linchadores norte-americanos faziam de seu “justiçamento” um ritual.

“Em 1904”, narra o Jim Crow Museum, Luther Holbert e sua esposa foram queimados vivos. Eles foram ‘amarrados a árvores e, enquanto as piras funerárias estavam sendo preparadas, foram forçados a estender as mãos enquanto um dedo de cada vez era cortado. Os dedos foram distribuídos como lembranças. As orelhas… foram cortadas. Holbert foi severamente espancado, seu crânio fraturado e um de seus olhos, arrancado com um pedaço de pau, pendia por um fio do soquete’ (…) (Holden-Smith, 1996, p. 1)”.

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