Nessa quarta-feira, dia 1º o jornalista Florestan Fernandes Jr. assinou uma matéria no portal Brasil 247, intitulada “Soco em Delis Ortiz é agressão à imprensa e à democracia”.
No texto, Fernandes, sem confirmar os fatos, reproduz a campanha da Globo, com a qual na própria matéria revela ter prestado serviços. O discurso condena a priori Maduro que, embora não tenha sido citado no texto, foi o alvo da campanha, pois a direita repetia que teria sido um de seus seguranças o autor da suposta agressão covarde. Colocando o presidente venezuelano no mesmo patamar dos regimes de exceção que houveram no Brasil, esquecendo que a acusadora bolsonarista é uma opositora do regime.
Os fatos
No texto há uma série de acusações, mas não se especifica bem o que teria acontecido. Tendo como alegação mais próxima de algo concreto, que a repórter Delis Ortiz teria sido agredida com um soco no peito pelo segurança venezuelano por se aproximar demais de Maduro.
“Pelo jeito, essa lógica não mudou. Delis teria sido socada porque, para os agentes, estava próxima demais do chefe de Estado da Venezuela.
Agentes esses que, nos últimos quatro anos, estavam à vontade para cumprir a sanha persecutória de seu então presidente repressor”.
Existem algumas considerações objetivas sobre o cenário que deveriam ser feitas: Maduro é conhecidamente vítima de atentado promovido pelo imperialismo, uma aproximação não autorizada poderia ser vista com preocupação por sua equipe, principalmente tratando-se de alguém com afinidade política com o imperialismo. O que seria bem diferente do cerceamento dos regimes de exceção.
Outra consideração seria identificar o suposto agressor, não foram apresentadas provas que o mesmo tivesse qualquer vínculo com Maduro. Agora o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), parte do próprio governo brasileiro reconhece o suposto agressor por se tratar de um oficial do Exército Brasileiro.
Nessa condição, a matéria apenas fortalece a campanha da Globo, não contribuindo em nada para o jornalismo, ou com a esquerda. Consciente ou inconsciente, acaba por mais um serviço prestado ao sistema Globo, e o imperialismo que o financia.
Globo e Bolsonaro, agentes do imperialismo
Por mais que haja solidariedade de profissão, por prestarem serviços à Globo, mesmo que em períodos diferentes, Fernandes deve considerar politicamente quem é Ortiz. Não falamos aqui de uma simples jornalista que trabalhou com a Globo para profissionalmente, mas de uma militante política com vínculos organizacionais com a extrema-direita bolsonarista.
Ortiz tem um papel relevante na política da Globo, participando de suas campanhas imperialistas em na América Latina. A sua orientação política não se define apenas pela atuação na Globo, Ortiz também é um membro significativo da Igreja Presbiteriana do Planalto, a mesma igreja que borrou a esquerda nos seus cultos e abriu os púlpitos para a extrema-direita.
Se não fosse suficiente, os vínculos de Ortiz com a extrema-direita vão ao ponto de sua filha ter composto o governo Bolsonaro, na coordenação de relações-públicas da Secretaria-Geral da Presidência da República.
Caso especial?
Como bem colocado por Fernandes, o Brasil é um dos países que mais violam jornalistas no mundo. Diariamente os jornalistas são ameaçados, agredidos, tendo sua integridade moral e física conspurcada.
Principalmente entre as lutas populares temos casos de fotojornalistas perdendo olhos com balas de borracha, jornalistas alvejados, agredidos, coagidos, muitos dessas mulheres sem grande repercussão.
Entretanto, esse caso em especial, mesmo sem os fatos objetivos, é amplamente divulgado. Ainda se traz um viés identitário, por ser “Mais uma vez, uma mulher”, entretanto esse não é o tratamento comum dispensado a todos os que lutam pela democratização da informação.
Presunção de inocência
Essa campanha da Globo demonstra que uma parte de nossa esquerda tem um comportamento curioso. Quando o litígio se dá entre o imperialismo e algum país explorado pelo mesmo, não existe a presunção de inocência, o culpado é o mais fraco em vez do imperialismo.
Para a imprensa burguesa e a esquerda pequeno-burguesa quando se fala de Venezuela na prática vale o “na dúvida, Maduro é culpado”. Quando deveria ser exatamente o contrário, se há dúvida, o principal suspeito são os EUA.
Como bem exposto pelo Eduardo Galeano em “As Veias Abertas da América Latina”, a história da América Latina é a história dos golpes imperialistas no continente. Hoje os EUA são os maiores conspiradores e genocidas da humanidade.
Não podemos confiar na Globo
A Globo foi um dos poucos sistemas de comunicação que não apenas sobreviveu aos golpes de Estado como se desenvolveu com o apoio destes. As primeiras instalações da TV Globo foram feitas em 1964, ditadura militar, tendo como primeiro diretor de programação o capitão Abdon Torres.
Roberto Marinho em acordo da Time-Life e o Grupo Globo, entregou nossa independência a um capital de trezentos milhões de cruzeiros (seis milhões de dólares, segundo o documentário Beyond Citizen Kane). Em 1965 deputados federais chegaram a questionar o acordo na CPI da TV Globo. O artigo 160 da Constituição da época, tornava a operação ilegal.
Falamos aqui de um grupo que sempre esteve contra o trabalhador, contra a soberania nacional. Por diversas vezes a Globo mentiu, distorceu a realidade contra os trabalhadores e principalmente em favor do capital externo.
“Quando vocês tiverem dúvidas quanto a que posição tomar diante de qualquer situação, atentem… Se a Rede Globo for a favor, somos contra. Se for contra, somos a favor!”, Brizola.
Em relação à Globo a posição de Brizola era a melhor possível. Se você deseja saber como foi o espetáculo deve olhar a reação da plateia, a Globo é a plateia imperialista, anti-operária.