O secretário executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Capelli, deu entrevista coletiva, junto ao governador do Rio, Cláudio Castro, nessa sexta-feira, dia 29 de setembro, para anunciar a Operação Maré, que fará parte do novo ENFOC – Programa Nacional de Enfrentamento às Organizações Criminosas – do governo federal.
Após a fracassada e violentíssima intervenção federal nas comunidades do Rio de Janeiro, durante o governo do usurpador Temer, o governo federal associa-se agora ao governador Cláudio Castro (PL), bolsonarista convicto (haja republicanismo) para mais uma intervenção contra o crime organizado, na cidade do Rio de Janeiro. A operação vai atuar inicialmente no complexo da Maré, zona norte do Rio. O complexo conta com cerca de 140 mil moradores, trabalhadores, na imensa maioria, distribuídos em 14 comunidades: Baixa do Sapateiro, Ramos, Vila do João, Vila União, entre outras.
Conforme a ONG Redes da Maré a região é dominada por facções como o Comando Vermelho, o Terceiro Comando Puro e por milicianos. Segundo Castro, a operação poderá se espalhar por outras áreas da cidade, à medida que as investigações forem avançando. Salve-se quem puder.
O novo programa de segurança pública do ministério da Justiça prevê gastar 900 milhões de reais até 2026, e pretende promover a integração institucional e a rede de informações. Nessa segunda-feira, 02/10, foi autorizado o emprego de 300 homens da Força Nacional, composta por policiais militares de outros estados, e de 250 policiais rodoviários federais, daquela mesma instituição, que quando era dirigida pelo famigerado e protegido Silvinei Marques, durante o governo Bolsonaro, assassinou um autista asfixiando-o com gás e buscou ativamente intervir nas eleições presidenciais passadas, especialmente no Nordeste, ao impedir o livre acesso às não fraudáveis urnas eletrônicas, dos eleitores de Lula, no segundo turno.
O mote para a operação, que contará com forças policiais do Estado do Rio de Janeiro e do governo federal, foi uma filmagem por drones da polícia civil, na qual foram detectados exercícios de guerrilha realizados por supostos criminosos, em uma área de lazer do complexo da Maré, próxima a uma creche e a uma escola. As imagens foram divulgadas pela rede Globo, sempre golpista, no domingo, 24/09, no programa Fantástico. A polícia civil, em uma investigação que já dura 2 anos, afirma já haver detectado a existência de mais de mil criminosos no local. Pode-se perguntar por que a polícia civil ainda não capturou os fotogênicos meliantes.
Quando era menino lembro de brincar muito pela rua brincando de polícia e ladrão. Devido à presença de alguns possíveis criminosos o governo vai, mais uma vez, submeter uma comunidade inteira às delicadezas que uma operação desse porte sempre proporciona à população local, na sua maioria pobre e negra. Balas perdidas atingindo crianças, denúncias de abuso policial, morte de trabalhadores inocentes e outras barbaridades podem ser esperadas.
O forte investimento de 900 milhões na segurança pública faz lembrar o velho ditado: “Cria corvos e eles te arrancarão os olhos.” Investir pesado nas forças policiais que são, na sua grande maioria, apoiadores de Bolsonaro não parece ser uma ideia muito brilhante para um governo de esquerda. Por outro lado após nove meses de governo e de três meses de transição após as eleições, causa certa frustração de ver que a proposta para a segurança pública de Dino é muito parecida com a de qualquer governo de direita ou de extrema direita. E sem dúvida não alcançará a “eficiência” repressiva que a direita tem maestria em empregar. Se a idéia do Ministério da Justiça com esse plano de segurança é conquistar um público mais conservador, mais de direita ou até bolsonarista, melhor tirar o cavalinho da chuva, porque nunca irão superar um governo de direita nesse quesito.
Dino não apresenta um plano de segurança pública que se esperaria de um governo dos trabalhadores: um plano humanista, preocupado acima de tudo com a preservação da vida das pessoas, sejam elas quais forem. Um plano que atacasse a lavagem de dinheiro, dos grandes capitais que financiam as armas e as grandes quantidades de drogas. Um plano que passasse a pensar a questão das drogas como uma questão de saúde pública e de redução de danos. Um plano que previsse o desencarceramento e a humanização do sistema penitenciário. Um plano que contasse com ampla participação popular, em especial das comunidades de trabalhadores, que certamente já estão fartos de policial fazendo todo tipo de abuso e de violência contra a população. Mas Dino vem se notabilizando por sua mediocridade e conservadorismo. Chegou ao ponto de mandar processar um jovem comunicador porque o chamou de “gordola”. Assange também foi processado por divulgar verdades. Monark está em boa companhia.