Nos dias 26 a 28 de julho, militares deram um golpe de Estado no Níger, país da África Ocidental, derrubando o governo de Mohamed Bazoum. Imediatamente, os jornais da imprensa imperialista foram unânimes em condenar o golpe. Não demorou muito para que os órgãos oficiais e mesmo os chefes de Estado dos países imperialistas também condenassem a ação dos militares. Esta, por sua vez, recebeu grande apoio de milhares de nigerenses, que saíram às ruas para apoiar o novo governo, muitos empunhando bandeiras da Rússia, em oposição ao imperialismo.
Assim, desde o início, as evidências mostravam que se tratava de um golpe nacionalista, anti-imperialista. Os acontecimentos que se seguiram serviram para confirmar esse fato.
No dia 29, um dia após a consumação do golpe, Joe Biden nomeou a golpista profissional Victória Nuland como subsecretária de Estado, cargo apenas abaixo do próprio Secretário de Estado, Anthony Blinken. É um braço direito do secretário. No mesmo dia, o Departamento de Estado norte-americano a enviou em missão à África, a fim de coordenar com países africanos a resposta do imperialismo ao golpe.
Em 30 de julho, a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), organização subserviente ao imperialismo, deu um ultimato ao novo governo do Níger para que revertesse o golpe, sob pena de sanções internacionais e/ou uso da força (leia-se: ações militares). Derem o prazo de uma semana, o qual recaiu no dia 06 de agosto.
O novo governo nacionalista do Níger manteve-se firme frente às ameaças. Além do apoio outros países africanos como o Mali, a Burkina Fasso e Guiné, nos quais governos nacionalistas subiram ao poder em tempos recentes, em oposição ao imperialismo, em especial ao francês, milhares de nigerenses estão nas ruas para apoiar o novo governo, havendo protestos da população na capital Niamei e também na cidade de Kano.
A ameaça de intervenção militar por parte da CEDEAO também sofreu oposição em alguns dos próprios países da comunidade, assim como de outros países africanos. O governo da Argélia soltou declaração se colocando expressamente contra qualquer intervenção militar no Níger. Já na própria Nigéria, país cujo chefe de Estado preside a CEDEAO, o Senado se colocou contra a intervenção.
Em face da recusa da junta militar do Níger em se curvar perante o imperialismo e seus governos títeres da CEDEAO, a organização se reuniu novamente no dia 10 (quinta-feira). Na reunião, foi aprovada a intervenção militar no Níger, as ser realizada “o mais rápido possível”.
Elevou-se a aposta. Contudo, a intervenção militar ainda não ocorreu. O que mostra um enfraquecimento do imperialismo. Em outros tempos, em uma época em que o imperialismo estava em seu auge, a incursão militar no Níger já teria acontecido. E, teria acontecido com tropas dos próprios países imperialistas. O fato de o imperialismo estar postergando ao máximo a invasão, e estar relutante em mandar tropas próprias, tentando utilizar, em vez disto, a Nigéria e outros países da África Ocidental como bucha de canhão, também demonstra o seu enfraquecimento.
Segundo informações do imperialismo, a junta militar teria dito que o presidente deposto seria morto caso ocorresse uma invasão militar ao Níger. Não se sabe ainda se de fato houve essa ameaça, mas, caso tenha havido, seria mais um fato a mostrar que o governo nacionalista não está disposto, por ora, a ceder aos norte-americanos, aos europeus e aos seus lacaios na África. Em caráter oficial, em reposta à nova decisão da CEDEAO de invadir o Níger, o secretário-geral do governo do Níger, Mahamane Roufai Laouali, anunciou 21 nomes que serão ministros no novo governo nacionalista. Mais outro sinal de enfraquecimento do imperialismo.
Estava marcada para esse sábado (12) nova reunião da CEDEAO, para que fosse elaborado relatório a respeito das “melhores opções” para a intervenção. Contudo, a reunião teve de ser adiada. Alegaram motivos técnicos. Mas o adiamento teve razões políticas, pois, no dia 11 (sexta), milhares de manifestantes realizaram um protesto em frente à base francesa em Niamei (capital da Níger), em oposição à decisão da CEDEAO de realizar intervenção militar no país.
E a manifestação não contou apenas com um repúdio à CEDEAO. Houve expresso apoio ao novo governo. Manifestantes empunhavam bandeiras nigerenses e russas.
Vê-se, portanto, que o imperialismo de conjunto se encontra em um impasse.
Precisa garantir seus interesses políticos e econômicos na África, interesses estes que se encontram ameaçados em face de um movimento nacionalista/anti-imperialista que cresce a cada dia no continente.
Ocorre que esse impasse é decorrente, em primeiro lugar, de seu enfraquecimento.
Desde o ano de 2021, a ditadura mundial do imperialismo segue em uma espiral de crises. Naquele ano, o exército ianque, com todo seu treinamento e toda sua tecnologia de última geração, foi expulso do Afeganistão pela insurreição popular, a qual foi liberada pelo Talibã. A derrota lá representou um ponto de inflexão. Tendo em vista a pobreza do Afeganistão, e o fato de o Talibã estar mal armado, se comparado com o exército dos EUA, a vitória do povo afegão mostrou para o mundo inteiro o quanto o imperialismo estava enfraquecido.
Em decorrência disto, a Rússia, país oprimido, viu que seria possível realizar a operação militar especial na Ucrânia para impedir que a OTAN ocupasse mais um país em sua fronteira. Até o presente momento, o imperialismo (ianque e europeu) vem sendo derrotado militar, política e economicamente.
Desde então, a cada dia que passa, mais e mais países oprimidos caminham em direção a uma independência dos países imperialistas.
É nesse sentido que se dá o crescente movimento nacionalista na África, e o golpe de estado no Níger.
O imperialismo precisa conter esse movimento. Mas, por ora, não está conseguindo, o que o faz cogitar a possibilidade da intervenção militar. Contudo, a intervenção também teria seus problemas. E se fosse mal sucedida? E fosse um novo Afeganistão? Enfraqueceria ainda mais o imperialismo. Em resumo, uma intervenção poderia ser uma fagulha a incendiar a pradaria, impulsionando uma revolta anti-imperialista por todo o continente, podendo até mesmo resultar em uma situação revolucionária generalizada.
Este é o impasse ao qual os EUA e a Europa estão sujeitos na África.
Ainda não se sabe como o imperialismo procederá para sair desse impasse.
Contudo,deve-se esperar o pior. Tendo em vista as consecutivas derrotas que o imperialismo vem amargando, derrotas estas que aprofundam seu enfraquecimento, a tendência é que ele se torne mais perigoso. Afinal, é a sobrevivência dos monopólios imperialistas que está em jogo, de forma que estão dispostos a ir às últimas consequências para que o modo de produção capitalista sobreviva. Em suma, quanto mais enfraquece e mais se aproxima de seu fim, o imperialismo tende a ficar mais agressivo, como um animal ferido que vê sua morte se aproximando.
Dessa forma, a intervenção militar no Níger não está descartada. É um perigo real.
Em razão disto, o caminho a ser seguido pelos revolucionários e a todos os povos explorados é claro: deve-se apoiar o novo governo nacionalista do Níger incondicionalmente, na medida em que ele trave a luta contra o imperialismo. Da mesma forma, deve-se apoiar e estimular o avanço do movimento anti-imperialista que cresce no continente africano. Afinal, uma derrota do imperialismo na África, aos moldes do que aconteceu com as revoltas das colônias nas décadas de 50, 60 e 70 do século passado, seria catastrófica, e abriria mais perspectivas de luta para os países oprimidos se libertarem da ditadura mundial imperialista.