Em um Tweet de 10 de junho, Elon Musk, acionista majoritário da Tesla e garoto propaganda nº 1 dos veículos elétricos (EV), declarou que “ESG é o diabo”.
A irritação de Musk foi provocada pelas pontuações ESG (Environmental, Social and Governance, em português: meio-ambiente, social e governança) chocantemente baixas atribuídas à Tesla pela S&P Global, um peso-pesado das classificações e inteligência de mercado. A Tesla obteve 37 pontos (de um total de 100 possíveis, em que qualquer valor acima de 70 é considerado “bom” e qualquer valor abaixo de 50 é considerado “ruim”) em seu quadro de resultados de ESG, enquanto a Philip Morris, a gigante global do tabaco, recebeu uma pontuação louvável de 84. Da mesma forma, como descobriu o Washington Free Beacon, a Bolsa de Valores de Londres deu à British American Tobacco uma pontuação de 94, ou seja, a pontuação ESG é uma verdadeira farsa, tal qual a própria agenda ESG. Mas estamos nos adiantando. Antes de continuarmos, é preciso tratar de Klaus Schwab, engenheiro, economista, ensaísta, fundador e presidente do Fórum Econômico Mundial (WEF).
Foi na obra “stakeholder capitalism”, que Klaus Schwab levantou a tese de um “capitalismo humanitário”. O livro preconiza mudanças na orientação burguesa, saindo do que ele chama de “capitalismo de acionistas” (shareholders), para um “capitalismo de interessados” (stakeholders). Ou seja, migrar de um capitalismo centrado nos acionistas para um capitalismo centrado em “todos os interessados”, o que inclui funcionários, consumidores, o meio ambiente etc. Segundo o fundador do Fórum Econômico Mundial (WEF), sediado em Davos, na Suíça, esse novo arranjo entre empresas, Estados e a sociedade civil, será a forma que o capitalismo deve se adequar para sobreviver aos desafios globais do séc. XXI, tal qual a “crise das democracias”, mudanças climáticas, direitos humanos etc. No fim das contas, como todas essas teorias empresariais, tudo não passa de uma demagogia para enganar os que sofrem com o capitalismo.
É deste ambiente que nasce a agenda ESG: Environmental, Social and Governance (meio ambiente, social e governança), uma concretização do que seu principal ideólogo nomeou de “capitalismo dos interessados”. Propelida pelo Fórum Econômico Mundial (WEF) — tendo em vista que foi desenvolvida por seu fundador — a agenda ESG foi apoiada por bilionários no mundo inteiro, como Bill Gates e Michael Bloomberg, além de agentes estatais dos mais variados países que, com frequência, participam das reuniões da alta cúpula do capitalismo mundial em Davos. Nas palavras dos participantes do Fórum Econômico Mundial:
Se dermos um passo atrás, entender o ESG em um contexto capitalista é simples. É a consideração de informações extrafinanceiras para possibilitar melhores decisões que, se tomadas corretamente, devem levar ao crescimento econômico sustentável.
Naïm Abou-Jaoudé
Um dos elementos fundamentais da agenda ESG é a tentativa de se avaliar, através de métricas concretas, uma “pontuação ESG”. Esse procedimento tenta transformar em números um processo multifacetado de adequação à agenda ESG por parte das mais distintas empresas no mundo inteiro. Aqui reside a crítica do bilionário sul-africano, revelando também a rasa extensão da sua divergência. Claramente a avaliação das “métricas objetivas e aferíveis por empresas especializadas” são fraudadas pelo grande capital em suas disputas.
Um ponto importante a se notar, a agenda ESG surge como uma medida facultativa, aberta a toda empresa que deseje contribuir com esse novo “capitalismo dos interessados”; no entanto, por debaixo da superfície se esconde um gigantesco lóbi para que os diferentes Estados ao redor do mundo criem normas que adéquem suas empresas nacionais nas métricas da ESG. Além das pressões internas, os países imperialistas vêm utilizando a agenda desenvolvida pelo WEF como justificativa ideológica para a fustigação das economias dos países capitalistas atrasados, tal qual o Brasil.
Não é fora de contexto, portanto, que uma sucursal do Fórum Econômico Mundial, o IREE de Boulos, Etchegoyen e Walfrido Warde, tenha o nome que tem: Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE). O que vemos aqui é mais uma tentativa de se introjetar na política nacional o tentáculo dos monopólios internacionais, moldando o debate público para que as questões discutidas e os consensos vindouros acomodem-se nesse novo “capitalismo de interessados”.
Ao fim e ao cabo, a agenda ESG é uma tentativa de reorganizar o capitalismo imperialista em meio a crise do que se convencionou chamar “globalização” (fenômeno que se origina com a queda da União Soviética), ou em outros termos: a vitória do capitalismo monopolista frente a resistência das repúblicas operárias do séc. XX.
A agenda ESG surge do âmago dos grandes monopólios europeus e norte-americanos (WEF) e se impõe por todo o Planeta. Tal programa imperialista significa uma flagrante ingerência estrangeira no Brasil, por ser utilizada como uma forma de constrangimento, a fim de adequar a legislação brasileira aos parâmetros ideológicos desse “capitalismo de interessados”. Tal constrangimento se dá pelos monopólios estrangeiros que controlam os fluxos de investimentos globais, mas também pelos Estados-mãe desses mesmos monopólios, que utilizam a agenda ESG como justificativa para atacar diplomática e economicamente qualquer forma de ruptura com o imperialismo e suas concepções de: democracia, preservação ambiental, desenvolvimento etc. De forma mais sintética, o novo capitalismo proposto pela WEF é a resposta do imperialismo à crise capitalista, resta aos povos do mundo e, em especial a classe operária, relembrar a sua: a revolução socialista.