A esquerda pequeno-burguesa identitária grita aos sete cantos que defende a causa dos índios. Mas hoje dela só temos o silêncio diante da prisão ilegal dos guaranis-caiouás no Mato Grosso do Sul. Essa luta não interessa a ela. Essa luta não sai nos grandes jornalões e nem passa na Globo. Onde está a ministra dos Povos Indígenas?
No último Programa de Índio (17/04) na COTV, os companheiros Renato Farac e Marcelo Batarce mais uma vez denunciaram a prisão de 10 indígenas guaranis-caiuás na cidade de Dourados. Apenas um dos presos, um índio de 77 anos, foi solto. Os outros nove já foram transferidos para o presídio de Dourados.
Junto aos presos está Magno Souza, liderança indígena, que foi candidato a governador pelo PCO nas últimas eleições. Em sua campanha eleitoral, ele defendeu a pauta da retomada de terras indígenas e da autodemarcação.
Desde a prisão ilegal na madrugada do último sábado (08/04), este Diário vem fazendo uma forte campanha em defesa da liberdade dos índios presos. Esclarecendo que estas tratam-se de prisões políticas e ilegais. Os índios foram encarcerados simplesmente por estarem lutando contra a obra de uma grande construtora da região, contra o latifúndio e pela demarcação de suas terras.
É uma região de grande especulação imobiliária, já foram construídos condomínios de luxo nas proximidades. Mas é também uma região próxima da Reserva de Dourados, a mais densa do Brasil, ou seja, a região que possui mais índios habitando por metro quadrado. São cerca de 20 mil índios na Aldeia Atual, área demarcada e mais os índios que estão em áreas de retomada. E esses índios precisam ampliar sua área de habitação para viver e cultivar a terra.
Essa área de terra de retomada está em disputa há muitos anos. Ela já havia sido ocupada anteriormente pelos índios e em 2017 o STF decretou uma decisão que ela não deveria ser ocupada por ninguém, sendo feito um acordo para nenhuma das partes avançar na área e os índios respeitarem a decisão.
Os primeiros grileiros venderam as terras para a construtora Corpal, que adquiriu o terreno sabendo da disputa. A construtora então começou a construir na área, ignorando o antigo acordo e atuais avisos da justiça. Ela foi então notificada pelo Ministério Público para interromper a obra, mas a Corpal não acatou a decisão e continuou a construção.
Diante desta situação, os índios se mobilizaram e decidiram ocupar a área que lhes cabe por direito. No mesmo dia da retomada, policiais da Força Tática e do Batalhão de Choque da Polícia Militar foram até a área de retomada, sem qualquer autorização judicial ou presença da FUNAI, enganaram os índios e os levaram até a delegacia para serem detidos.
No programa, o companheiro Batarce destacou que a prisão ilegal em flagrante foi desmascarada completamente com a informação de testemhunhas e com vídeos gravados que mostram a abordagem da polícia na entrada da área de retomada. Os policiais conversaram com os índios, convencendo-os de seguirem até a delegacia, utilizando a desculpa de esclarecer o ocorrido com o delegado. Chegando na delegacia, os índios foram simplesmente presos.
O companheiro destacou também que apesar das prisões, os índios que ficaram não se renderam. Eles se mobilizaram ainda mais e decidiram que não iriam sair da área. Eles já aumentaram a ocupação, agora já são mais de 30 barracos e ainda muitos outros índios da Aldeia seguindo para a ocupação.
O companheiro Batarce ainda argumentou que nem a esquerda, nem o Ministério dos Povos Indígenas estão se engajando em uma denuncia da fraude desse processo, da prisão ilegal e injusta que já se estende há 10 dias.
Até agora o que temos é o mais puro silêncio por parte da esquerda e do Ministério dos Povos Indígenas. E para que a luta indígena se fortaleça é fundamental que haja uma larga adesão da esquerda e dos movimentos sociais. É imperativa a defesa dos índios em suas lutas concretas e objetivas.
Mais do que nunca é preciso mobilizar e apoiar a luta dos índios pela demarcação e retomada de suas terras. Devemos intensificar as denúncias contra a atual política criminosa e de extermínio indígena. Lutar pela liberdade dos índios presos ilegalmente é lutar pela causa idígena. Essa é a luta concreta pela terra, pela demarcação, pela reforma agrária e pelo fim do latifúndio no Brasil!