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"Gênios" da esquerda

MRT sobre o Níger, um capacho do imperialismo

Como não há um terceiro elemento na luta, a defesa de um hipotético vácuo político a ser preenchido pelos trabalhadores em abstrato só interessa ao imperialismo

Fiéis defensores da política do imperialismo no interior da esquerda, os autoproclamados trotskistas do Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT) publicaram uma matéria “Níger: não à intervenção militar, não às sanções! Imperialismo francês fora da África!” no último dia 7. O título parece levar à conclusão de que o MRT posicionou-se, acertadamente, contra o imperialismo francês na nova onda de levantes de libertação nacional que tomou conta do Sahel. A leitura do artigo, contudo, revela que os esquerdistas permanecem presos à fórmula do “nem-nem”, acusando a junta militar que tomou o poder no país de estar submetida aos russos, como fica explícito no trecho abaixo, extraído do texto supracitado:

“A França esconde seus interesses sob a defesa de uma pretensa ‘democracia’ que é a primeira a desrespeitar, desestabilizando Estados, apoiando certos golpes como no Chade e saqueando a região, tudo sob estreita vigilância militar. Por eleições ou por golpes, o que importa para a França é ter regimes dóceis. Por outro lado, as várias juntas militares aliadas à Rússia camuflam-se atrás de um ‘anti-imperialismo’ igualmente hipócrita [grifo nosso]. A verdadeira libertação da dominação imperialista e a erradicação da pobreza só podem ser obra dos trabalhadores e das classes populares da África Ocidental, que são os únicos que podem dissolver todas as juntas e governos corruptos a soldo das grandes potências. O conjunto das classes populares do continente devem se opor a qualquer forma de intervenção militar no Níger e tomar nas próprias mãos o combate à casta militar que não quer mais do que lhes curvar aos pés de um novo mestre[grifo nosso].”

Ora, dada a fraqueza total do imperialismo no país, que mesmo com “1.000 soldados americanos e 1.500 soldados franceses” (idem) não conseguiu opor resistência à tomada do poder, o que os esquerdistas pedem é uma insurreição, que diante das características da luta de classes no Níger, só poderia ser organizada por forças apoiadas pelo e para o imperialismo. Em síntese, o MRT usa uma falsa simetria entre Rússia e as potências imperialistas para tergiversar, e finalmente, defender a espoliação mais brutal da ditadura global contra o pobre país africano.

Pelo princípio adotado pelos ditos trotskistas, os trabalhadores erraram ao posicionar-se contra a guerra do Iraque, por exemplo, até a invasão 20 anos atrás, governada por uma ditadura militar liderada por Saddam Hussein. A Revolução Iraniana, responsável por impulsionar a chamada Segunda Crise do petróleo e colocar o capitalismo na UTI, tampouco deveria ser apoiada, mas rechaçada.

O mesmo destino acabariam tendo os movimentos de libertação nacional da África no pós-guerra, que medidos pela métrica adotada pelo MRT, não deveriam ser apoiados por receberem ajuda de potências imperialistas equivalentes às europeias, tais como Cuba. Noção de ridículo, como se vê, está longe de ser um valor cultivado entre os esquerdistas.

Igualmente ridícula é a suposição de que a Rússia teria capacidade de oprimir quem quer que seja. O país não consegue controlar suas próprias fronteiras, sendo cercado por bases inimigas e vizinhos com regimes hostis, alguns impostos por golpes de Estado tão violentos quanto o Euromaidan, na Ucrânia, com quem o gigante eslavo encontra-se em guerra atualmente, após oito anos de repetidas demonstrações da indisposição de Kiev em ter relações minimamente civilizadas.

Os “gênios” do MRT deveriam observar mais concretamente os fenômenos que se propõem a analisar e verificar se a situação acima é a mesma enfrentada pelos EUA ou a União Europeia. Com a valorosa exceção de Cuba (o que só engrandece o feito extraordinário do povo cubano), onde se vê nas cercanias do território norte-americano regimes abertamente hostis à maior potência imperialista do planeta? Da mesma forma, onde se encontra a grande ameaça à segurança do imperialismo europeu?

São questionamentos básicos que uma vez feitos, evidenciam a fragilidade teórica dos esquerdistas que teimam em sustentar teses absurdas e totalmente desconectadas da realidade. Ainda assim, a pequena burguesia esquerdista mantém meus malabarismos retóricos por uma necessidade política: é preciso apoiar o imperialismo.

Obviamente, colocando sua política de maneira clara, tanto o MRT quanto os demais setores da esquerda submetidos à ditadura global, seriam destruídos pela repulsa que o imperialismo provoca na população, especialmente nos setores que se aproximam da esquerda. Para disfarçar, recorrem então ao famoso “nem-nem”: nem o regime apoiado pelo imperialismo, nem o regime da junta militar apoiada pelos russos.

Como não há um terceiro elemento na luta, a defesa de um hipotético vácuo político a ser preenchido pelos trabalhadores em abstrato só interessa ao imperialismo. Mais uma vez, o MRT falha miseravelmente em sua tentativa de analisar um fenômeno por desconsiderar que os trabalhadores podem não estar organizados em grupos independentes, mas estão apoiando o governo oriundo do golpe que derrubou o regime fantoche do imperialismo, não é difícil a um observador atento qual o lado verdadeiramente progressista e libertador na luta.

A falta de ligação do MRT com os trabalhadores os leva a desprezar a luta nacional. Nisso, os esquerdistas terminam se transformando em uma correia de transmissão do imperialismo, quer estejam conscientes disso ou não.

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