Poucos dias atrás, em decorrência do assassinato de uma professora em São Paulo a facadas por um aluno, publicamos neste Diário um artigo polemizando com a posição da esquerda pequeno-burguesa que diante desses casos reproduz a propaganda da burguesia. Novamente, diante do horroroso caso na creche em Blumenau, onde quatro crianças foram mortas a machadadas, a esquerda repete o erro.
É o caso do MRT e seu sítio Esquerda Diário que, no último dia 3 de abril, publicou matéria intitulada “Crianças assassinadas em creche de SC: precisamos nos unir contra a barbárie que nos ameaça” onde acaba copiando, essencialmente, o que diz a burguesia sobre o caso:
“Essa violência é resultado do discurso de ódio promovido pela extrema-direita, que adquiriu força diante dessa crise e da vulnerabilização e desamparo da classe trabalhadora, através da precarização, da carência e da desumanização levada a cabo pela burguesia e sua cultura de ódio. Soma-se a isso um projeto capitalista de destruição do ensino e da vida, desvalorização dos professores e trabalhadores da educação e sucateamento estrutural generalizado de vários setores da classe trabalhadora.”
O MRT atribui ao “discurso de ódio” o que aconteceu na creche. Veja que esse seria a primeira causa de tudo. É exatamente o que vem falando a Rede Globo, a Folha de S. Paulo e todos os órgãos da imprensa capitalista, representantes dos setores mais tradicionais da burguesia. É mais ou menos assim: tudo o que acontece é culpa de um determinado discurso, que é muito perigoso, e que incentiva as pessoas a fazerem barbaridades como a que ocorreu em Blumenau.
Como resolver a questão, já que o discurso é o principal problema? Eliminando-o. E como eliminá-lo? O MRT não vai até as últimas consequências na sua política, mas seria preciso ir: só a censura pode resolver de maneira verdadeiramente eficiente esse problema. Dito assim, fica estranho para uma pessoa de esquerda defender. Mas é preciso dizer que é exatamente isso o que estão defendendo aqueles que atribuem ao discurso fatos como o de Blumenau.
A burguesia quer censurar quando repete incessantemente a propaganda de que a culpa é do “discurso de ódio”, calar os que “disseminam ódio”. Mas quem são eles. A esquerda acha que são os bolsonaristas e a burguesia acha que são quem? A burguesia fala hoje que são os bolsonaristas, mas amanhã falará que é a esquerda, esses “baderneiros” que incitam a violência, a revolução, uma “ditadura”.
Será que é assim tão difícil de entender, de prever que será exatamente isso o que vai acontecer? Não deveria, mesmo porque isso já está acontecendo.
Não é apenas um problema de repetir o que está dizendo a burguesia, mas a própria ideia do “discurso de ódio” é uma bobagem. Ninguém sabe definir exatamente o que seja o tal ‘discurso’. A coisa chegou a tal ponto que emitir uma opinião ponderada sobre determinada coisa, que fuja do que reza a bíblia identitária, já pode ser considerado “discurso de ódio”.
A sociedade tem o direito de falar o que quiser, sendo ódio ou amor. Quem vai limitar o que pode ou não ser dito? Se a esquerda diz que Bolsonaro é assassino, isso é “discurso de ódio”? Por trás dessa propaganda de que o “discurso de ódio” é o culpado por casos como o de Blumenau, está um pretexto para a repressão.
O artigo do MRT não está totalmente errado ao dizer que o que aconteceu em Blumenau é produto da crise social. Essa é a principal causa, não o “discurso de ódio”. O capitalismo produz pessoas enlouquecidas e isso só piora com o aprofundamento da crise. A cada tem-se menos perspectivas na vida, as pessoas são maltratadas. Essa situação de desespero acaba afetando parcelas mais instáveis e desequilibradas da população, é inevitável.
Não será censura ou mais repressão que resolverão o problema, pelo contrário, o ambiente repressivo agravará ainda mais a violência.