Índios Guarani-Caiouá e Guarani-Nhandeva realizaram uma nova retomada de suas terras após diversos ataques de latifundiários, pistoleiros e policiais militares, sendo um deles com sequestro e tortura. Ademais disto, um índio ainda está desaparecido no Tekoha Pueylito Kue, no município de Iguatemi, Mato Grosso do Sul.
As denúncias chegaram à nossa redação diretamente dos índios que se encontram na retomada e mostram o descaso dos órgãos do Governo Federal como o Ministério dos Povos Indígenas, mas também, do Ministério dos Direitos Humanos e do Ministério da Justiça.
Vivendo na miséria absoluta e esperando há décadas a demarcação de suas terras, os índios decidiram nas últimas semanas de novembro iniciar um processo de retomada do coração da suas terras, que está localizado na Fazenda Maringá, o Tekoha Puyelito Kue, que compõe a Terra Indígena Iguatemipeguá I, cujo processo de demarcação não avança e está paralisado nas mãos do ministro da justiça, Flávio Dino.
Desde a retomada, os índios sofreram diversos ataques, sendo o mais grave ocorrendo no dia 22 de novembro, quando seis índios foram sequestrados e torturados, e um ainda está desaparecido, suspeitando-se que fora assassinado e levado ao Paraguai para não ser identificado, método muito comum de latifundiários e pistoleiros do cone sul do Mato Grosso do Sul.
No dia 22 de novembro também houve uma emboscada contra jornalistas e militantes, incluindo do PCO, realizada por latifundiários com aproximadamente trinta caminhonetes e mais de cinquenta homens encapuzados e fortemente armados, e a presença de figuras da política e patronal do município de Iguatemi, e até de policiais em viaturas (e mesmo fardados) da PM e do DOF (Departamento de Operações de Fronteira), com atuação conhecida contra os índios em favor dos latifundiários.
Depois da retomada, os ataques são corriqueiros e as instituições do estado estão totalmente paralisadas e somente tomam medidas que sempre colocam os direitos dos índios em segundo plano e contam apenas com atuação da polícia ou da Força Nacional, profundamente ligadas aos latifundiários.
O governo do estado do Mato Grosso do Sul é governado pelo tucano e latifundiário Eduardo Riedel, ex-presidente da Famasul e organizador do que ficou conhecido como “Leilão da Resistência” para arrecadar fundo para pistolagem contra os índios no estado.
O que chama a atenção são os ministérios do governo federal que estão nas mãos da “esquerda”, como o Ministério dos Povos Indígenas, da psolista Sônia Guajajara, do Ministério dos Direitos Humanos, de Silvio Almeida e do Ministério da Justiça, de Flávio Dino.
Total descaso do Ministério dos Povos Indígenas e da ministra Sônia Guajajara
No caso da retomada Puyelito Kue, um dos maiores absurdos, além dos ataques dos pistoleiros com sequestro, torturas de índios, jornalistas e militantes, é a completa falta de ação do Ministério dos Povos Indígenas. O MPI foi criado pelo governo Lula e dado à ministra Sônia Guajajara e a outros índios do PSOL justamente para dar suporte e apoiar os índios brasileiros, com destaque para as áreas em conflito.
A retomada Puyelito Kue está sendo um dos episódios mais violentos e com constantes ataques desde o dia 16 de novembro quando houve a retomada, e como mencionado acima, não é somente de tiros realizados para cima por pistoleiros, e sim com desaparecimento de um índio sequestrado.
Conforme verificamos desde o primeiro dia da retomada, pois estamos acompanhando in loco este caso, o Ministério dos Povos Indígenas e a ministra Sônia Guajajara não fizeram absolutamente nada para ajudar os índios, sequer enviaram representantes ou uma comissão. A ministra Sônia Guajajara e sua comitiva, com o Secretário Executivo do Ministério dos Povos Indígenas, o índio Eloy Terena (que inclusive é do estado), e até mesmo da deputada psolista de Minas Gerais, Célia Xacriabá, estiveram na Grande Assembleia Aty Guasu, dos índios Guarani-Caiouá na semana dos ataques e não fizeram nada, nem demagogia. Um completo absurdo dada as circunstâncias.
Representantes dos índios Guarani-Caiouá e da retomada Puyelito Kue pedem ajuda do MPI
O descaso do MPI é tão grande que a principal entidade de base dos índios Guarani-Caiouá, o Conselho Aty Guasu acionou o Secretário Executivo do Ministério dos Povos Indígenas para que tome providências quanto à violência que vêm sendo realizada, especialmente contra a comunidade dos índios Pyelito Kue em Iguatemi-MS.
O secretário executivo do MPI, Eloy Terena, é do estado do Mato Grosso do Sul e sabe de todos os problemas e a atuação criminosa do governo do estado contra os índios Guarani-Caiouá, mas o que estamos verificando é uma falta de atuação no estado mais violento contra os índios no Brasil e que a atuação institucional contra os índios é escancarada com despejos sem autorização judicial, perseguição a lideranças e atuação da polícia em favor dos latifundiários e grileiros de terra.
Lideranças locais da retomada Puyelito Kue também pedem a presença do MPI e uma melhor atuação para ajudar a retomada e contra a violência escancarada do estado e dos latifundiários. Presenciamos depoimentos em que relatam que o MPI sequer entrou em contato para saber a situação e se os índios precisavam de algo para sobreviver contra a fome e violência dos latifundiários e da polícia.
Ou seja, os índios Guarani-Caiouá estão abandonados por todos os ministérios que supostamente seriam controlados pela esquerda e por “progressistas”.
O problema das ONGs e da proximidade com a burguesia imperialista
Esse descaso desses ministérios em áreas de conflito, como o exemplo da retomada Puyelito Kue no Mato Grosso do Sul, revelam o envolvimento desses elementos com a atuação das organizações não-governamentais (ONGs) imperialistas e com elementos de países imperialistas, como embaixadas dos EUA, Alemanha, Inglaterra, George Soros e muitos outros.
Quem pauta esses ministérios não são os índios ou setores da população brasileira explorada e que está sendo dizimada, e sim elementos em que o interesse passa bem longe da defesa dos índios ou do meio ambiente. Não é por acaso que recebem prêmios internacionais do imperialismo, são bajulados pela imprensa golpista nacional como a Rede Globo, profundamente ligada aos latifundiários e ao agronegócio.
O silêncio no caso do Puyelito Kue talvez seja isto, pois vai evidenciar os acordos entre esses ministérios e o governo tucano de Eduardo Riedel, tido falsamente como um elemento democrático. Se Sônia Guajajara e outros elementos do PSOL, Silvio Almeida ou Flávio Dino se chocarem com um elemento da Rede Globo e queridinho da direita golpista como Eduardo Riedel, vão perder espaço na imprensa burguesa, no apoio aos seus interesses individuais e no dinheiro de governos e ONGs estrangeiras.
É preciso colocar nos ministérios pessoas que estejam realmente envolvidos com a luta dos índios e que possuem respaldo da base, que não sejam lideranças criadas pela imprensa golpista nacional e internacional. Que sejam pessoas envolvidas nas retomadas, cujos interesses sejam ampliar a luta e as conquistas dos índios e não em prêmios, bajulações e dinheiro estrangeiro.