Na noite da última sexta-feira (14), no auditório do Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Alternativo do município de Pernambuco, na cidade Paulista, região metropolitana de Recife, aconteceu uma importante plenária de preparação para a III Conferência Nacional dos Comitês de Luta, a ser realizada entre os dias 9 e 11 de junho, em São Paulo, O evento, que contou com cerca de vinte cinco companheiros, reuniu pessoas de três cidades vizinhas, que fazem parte da Região Metropolitana do Recife: Olinda, Paulista e Abreu e Lima.
Quase todos os participantes eram, eles próprios, integrantes ou dirigentes de entidades distintas, de tal modo que a plenária serviu para apontar uma perspectiva de frente única com várias organizações do movimento operário e popular da região. Entre os presentes, estavam David Capistrano, do Sindicato da Construção Civil de Pernambuco (Marreta), Juarez, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Alternativo, Leonardo e Ivanildo, dirigentes do Sindicato dos Tecelões de Paulista, Abreu e Lima e Igarassu, Anselmo, presidente de uma cooperativa de transportes alternativos do estado, o clérigo anglicano Maurício Amazonas, presidente do Instituto Robinson Cavalcanti, Adilson Marques, presidente da Associação de Moradores do bairro de Paratibe, além de trabalhadores dos Correios, companheiras do movimento cultural de Abreu e Lima e do grupo de costureiras Mãos na Máquina, camaradas do movimento sem teto e populares em geral. Quanto aos partidos políticos, havia representantes do Partido da Causa Operária (PCO), do Partido dos Trabalhadores (PT) e do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).
Logo no início dos trabalhos, o anfitrião da plenária, Juarez, já destacou que “as portas do sindicato sempre estarão abertas” para o movimento popular, dando o tom de unidade e de luta que acompanharia toda a reunião. Em seguida, David Capistrano fez uma breve análise da situação política, destacando as grandes dificuldades que o governo Lula enfrenta.
Capistrano considera que o governo Lula poderia ser chamado de “nacional-popular”, estando, assim, “inclinado a fazer reformas”. Neste sentido, o momento seria favorável para uma ampla mobilização dos trabalhadores em torno de suas próprias reivindicações.
Para embasar sua ideia, o representante do Sindicato da Construção Civil destacou que quem decidiu as eleições de 2022 não foi a “frente ampla”, nem a direita, mas sim “a robusta mobilização popular” vista no segundo turno, que foi capaz de reverter a “máquina bolsonarista”. No entanto, essa vitória foi insuficiente, pois as eleições ocorreram, segundo Capistrano, “marcadas pela lógica do golpe de Estado, que derrubou uma presidenta eleita”.
A principal consequência disso é a incapacidade do governo, nos seus cem primeiros dias, de levar adiante qualquer medida de impacto para a população: “um governo cercado, pressionado pela direita, em uma camisa de força, com pés e mãos atadas, sem poder atuar na economia, sem poder atuar na política”. No Congresso Nacional, afinal, a grande maioria dos deputados é de direita ou de extrema-direita. Para Capistrano, o que Lula tem de base de apoio real talvez não chegue a 15% dos deputados e senadores eleitos”. O Banco Central, o STF e a tutela dos militares também foram citadas pelo representante do Sindicato da Construção Civil como grandes inimigos do governo. “O horizonte é nublado”, disse.
Para Capistrano, o presidente Lula já teria entendido que “não tem escapatória se não se apoiar no movimento popular”. O orador mencionou uma reunião ocorrida em janeiro entre o presidente e os movimentos sociais, em que Lula teria dito para que as lideranças “tirarem a bunda da cadeira” e “se mexessem”.
No final do informe, David Capistrano explicou do que se trata a III Conferência dos Comitês de Luta e convocou os presentes a se somarem nas etapas de preparação do evento. O sindicalista destacou que a conferência terá mesas temáticas para discutir as diversas questões que permeiam a luta dos trabalhadores, como o emprego e o salário mínimo, e que, após as plenárias e conferências municipais, será realizada uma conferência regional em Recife, no mês de maio.
Os informes sobre a Conferência foram continuados por Victor Assis, do PCO. Em sua fala, Victor explicou que a burguesia estava unificada para impedir que o governo adote qualquer política progressista, de tal modo que se fazia necessário formar uma “frente única” em defesa dos interesses dos trabalhadores para se contrapor a essa ofensiva. A Conferência seria, assim, um primeiro grande esforço de formar essa frente. “É preciso que o movimento camponês, os sindicatos, os estudantes, as categorias e o movimento popular de conjunto atuem de maneira unificada em torno de um mesmo objetivo: fazer com que as reivindicações dos trabalhadores avancem”.
O representante do PCO também detalhou o caráter nacional do evento que estava sendo proposto: “neste mesmo momento, em cidades pequenas e nas capitais, do Rio Grande do Sul ao Norte do País, estamos discutindo como as ocupações, os sindicatos, pequenos ou grandes, farão para participar da Conferência”. A conferência, segundo disse, “é a mais importante atividade de mobilização deste semestre, a primeira grande demonstração de força desde a posse de Lula, quando dezenas de milhares de pessoas mostraram seu apoio ao governo”.
Victor também dedicou parte de sua fala a explicar a importância das etapas municipais, estaduais e regionais da Conferência. “A maneira que a gente vai ter de fazer com que na Conferência Nacional cheguem as reivindicações de cada movimento é fazendo as conferências locais, onde podemos convidar todas as pessoas de um determinado bairro, de uma categoria, os setores mais ativos de um determinado município etc”.
Na própria plenária, os companheiros presentes já deram mostras de que há um grande interesse em discutir os temas relacionados à luta dos trabalhadores.Foi proposto, por exemplo, que a plenária formasse uma comissão para organizar um ato de primeiro de maio em Paulista, o que não acontece há vários anos. O clérigo Mauricio Amazonas, além de fazer uma série de observações sobre o caráter do primeiro de maio, também propôs que desde já se iniciem os preparativos para um grande ato no Dia dos Excluídos, que tradicionalmente ocorre no dia sete de setembro.
Já outros companheiros levantaram uma série de questões relativas à moradia, um grave problema em todas as cidades. Militantes do setor destacaram, por exemplo, a grande quantidade de terras da União que poderiam ser disponibilizadas para esse fim.