No início da tarde de hoje, fui surpreendido com a triste notícia do falecimento de Luiz Lourenzon. O companheiro, que havia sofrido um infarto na véspera, não resistiu e teve sua morte confirmada às 11h45 pelo hospital São João Batista, em Macaé, Rio de Janeiro.
Ninguém esperava sua ida tão cedo. Com apenas 55 anos, Lourenzon acabara de dar início a uma nova etapa em sua trajetória na Petrobrás. Após uma longa temporada morando em Pernambuco, ocupando uma posição de destaque no cenário político local, Lourenzon havia sido transferido para a famosa Bacia de Santos, no Rio de Janeiro. Foi justamente em seu primeiro dia de embarque, a bordo da P-47, que o coração de nosso camarada decretaria o fim de sua jornada.
Estive com Lourenzon pela primeira vez em 2019, no momento em que travávamos uma verdadeira briga para unificar a esquerda em torno da luta pela liberdade de Lula. Com o governo Bolsonaro recém-eleito e um consequente desânimo do conjunto da esquerda nacional, que acabou desmoralizada pelo fracasso do “plano B”, os militantes e ativistas encontravam bastante dificuldade para levar adiante suas campanhas. Durante aquele ano, foram tomando força várias iniciativas relativamente espontâneas, de base, como os comitês de luta e os comitês “Lula livre”. Chegamos a formar mais de vinte comitês, reunindo algumas centenas de companheiros apenas na Região Metropolitana do Recife. Mesmo com as dificuldades que tinha de mobilizar a base dos petroleiros, Lourenzon se tornou um dos principais amigos dos comitês, frequentando suas atividades, sempre com suas faixas em defesa da Petrobrás, e contribuindo financeiramente para o seu andamento.
Ele estava em todas. Pouco importava quem havia “puxado” o ato ou quais as suas reivindicações. Dono de uma simpatia ímpar, Lourenzon era daqueles que, com muita habilidade, conversava com todos, evitando sempre desagradar quem lhe ouvia.
Em 2020, veio a pandemia e, com ela, a pressão da burguesia pelo “fique em casa”. Mesmo já sendo um dos mais importantes dirigentes do Sindicato dos Petroleiros de Pernambuco e da Paraíba e sendo a burocracia sindical talvez o setor social mais atingido por essa pressão, Lourenzon não se afastou das ruas. O companheiro sempre se mostrou solidário aos nossos chamados para participar de atos e mutirões em combate à política genocida do governo Bolsonaro e da direita nacional. Lembro particularmente de um ato na Praça do Diário, realizado com poucos companheiros, cercado por viaturas da polícia, em que Lourenzon esteve presente.
Por sua própria iniciativa, Lourenzon também se envolveu, durante a pandemia, em várias atividades de distribuição de alimentos nos bairros operários – uma política que, embora limitada, era defendida genuinamente por Lourenzon e se opunha à paralisa da burocracia sindical.
Em 2021, com o retorno das mobilizações de rua, os encontros com Lourenzon se tornaram cada vez mais frequentes. Éramos sempre os primeiros a chegar às manifestações. Nós, de um lado, para escolhermos o melhor local para montar a nossa banca de materiais. Lourenzon, de outro, para amarrar no ponto mais visível suas faixas em defesa da empresa da qual tanto se orgulhava. Não foram uma nem duas vezes que nossos preparativos se fundiram, e as faixas de Lourenzon se incorporaram às nossas barracas. Houve vezes também que os “organizadores” das manifestações, insatisfeitos com o protagonismo do PCO, se aproveitavam da relação do petroleiro conosco para pedir que interviesse e nos tirasse do local. Nunca funcionou, pois, sem querer desagradar os “organizadores”, menos ainda nos desagradar, Lourenzon acabava por “esquecer” a missão que lhe foi imposta.
Respeitosamente, antes de subir ao carro de som, do qual muitas vezes era o locutor, Lourenzon tinha como rito passar em nossa banca, tirar uma foto com todos os nossos militantes e comprar algum material – de preferência, “uma caneca ou uma camisa do Lula”. Sempre que solicitado, o companheiro cedia uma pequena entrevista ou dava alguma declaração, contribuindo, assim, para a convocação de novos atos e para a repercussão das denúncias do movimento popular.
Mesmo com o acúmulo crescente de atividades e funções, Lourenzon sempre procurava atender prontamente aos chamados. Para toda atividade convocada pelo PCO, Lourenzon já tinha a resposta na ponta da língua: se não fosse viajar para Arcoverde, onde morava sua companheira, estaria presente. Felizmente, as viagens ocorreram na minoria das vezes.
No plano sindical, pouco tenho para falar. Chegamos a esboçar alguns planos que, por conjunturas diversas, acabaram não se concretizando.
Ainda ontem conversava com outro companheiro sobre Lourenzon. Àquela hora, não sabíamos, o coitado já havia sido internado. Planejávamos como Lourenzon, mesmo do Rio de Janeiro, participaria do próximo passo dos preparativos pernambucanos para a Conferência Nacional dos Comitês. Só então que soube que o companheiro já não mais residia no bairro de Boa Viagem e dos motivos que levaram à sua transferência para o Sudeste.
Luiz Lourenzon, membro da direção da Federação Única dos Petroleiros, deixou uma obra incompleta: a luta para tirar a Petrobrás das mãos dos sabotadores do País. A melhor homenagem a ele é a luta pelo petróleo 100% estatal.