STF

Moro e Dino, farinha do mesmo saco

Não há nada “estranho” no caso amoroso entre Flávio Dino e Sergio Moro, representantes da burguesia golpista no Brasil

O articulista Luis Felipe Miguel publicou, no sítio A Terra é Redonda, organizado por setores da burocracia acadêmica brasileira, um artigo sobre a troca de afetos entre o agora ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino e o senador Sergio Moro. Miguel, que é professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), não entendeu por que os dois “antagonistas” se relacionam de tal forma.

Confuso, diz que “é estranho ver tanta proximidade entre duas pessoas que encarnariam projetos políticos absolutamente antagônicos — um ministro da Justiça que queria salvar a democracia e um futuro ex-senador que dedica sua vida a destruí-la”. O ministro da Justiça que “queria salvar a democracia” seria Dino. A colocação, no entanto, revela a total limitação intelectual do professor de Ciência Política, mostrando que seu diploma não vale um tostão furado.

A ideia de que Dino seria um defensor da “democracia” no Brasil foi implantada pela imprensa golpista, pró-imperialista, na esquerda, que repete, sem pensar, esta colocação. O ex-ministro da Justiça do governo seria um combatente contra o bolsonarismo por prender alguns manifestantes bolsonaristas, peixes pequenos que participaram da manobra contra o governo petista em 8 de janeiro.

O então ministro, porém, além de ter revelado sua total incompetência (ou cumplicidade), ao permitir a invasão do Palácio do Planalto, também revelou que sua defesa da “democracia” não passava de uma fachada. Dino, indiscriminadamente e de forma antidemocrática, prendeu apoiadores de Bolsonaro que participaram da invasão às sedes dos Três Poderes, enquanto os organizadores da invasão, o alto comando das Forças Armadas, ficaram totalmente impunes.

Pela farsa, Dino foi aplaudido pela imprensa golpista, que inventou a ideia de que ele seria um paladino da democracia brasileira. Afinal, a política repressiva do então ministro da Justiça é a mesma política defendida pelo imperialismo no Brasil, como vemos através da atuação do STF, principalmente do ministro Alexandre de Moraes.

Luis Felipe Miguel, com seu diploma de cientista político, não entendeu que Dino é do mesmo grupo político de Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, que indicaram-no para ser ministro do Supremo. Dessa forma, Dino e Moro estão muito mais próximos do que parece, ambos são políticos que representam os interesses da burguesia golpista no Brasil.

Mas, sem entender isso, analisando a situação política brasileira com uma repetição do que é dito na imprensa burguesa, o cientista político fica perdido e começa a discorrer sobre “democracia” e o caso amoroso entre Dino e Moro. Segundo ele, o relacionamento na sabatina de Dino “é estranho, mas não é incomum”. Ele lembra o beijo que o deputado Chico Alencar (PSOL) deu no candidato golpista Aécio Neves (PSDB), em 2017, em jantar em homenagem ao jornalista Ricardo Noblat, ferrenho defensor do golpe de Estado contra o PT.

“Chico Alencar era e voltou a ser um combativo deputado do PSOL. Aécio é Aécio”, diz o cientista político, buscando opor um ao outro. Na realidade, nosso medíocre professor da UnB esqueceu de um importante dado ao fazer essa colocação: o PSOL, e Alencar, pessoalmente, defendeu o golpe contra Dilma Rousseff (PT), realizando uma frente única com toda a burguesia golpista, inclusive Aécio Neves e Noblat. Esse foi o motivo da beijoca: Alencar, na verdade, estava agradecendo o tucano pelos serviços prestados contra o Brasil.

Desse jeito, a atitude do deputado beijoqueiro do PSOL é semelhante à atitude de Dino, que fez amor com Moro. Não se trata, como apresenta o cientista político, de um “resultado esperado do regime representativo, um dos elementos que faz com que ele funcione como um colchão que amortece os conflitos sociais — para o bem e para o mal”. “Os políticos devem ser capazes de negociar entre si. Logo, precisam se falar. Mas também precisam ser honestos na relação com seus representados — e manter coerência entre palavras e ações”, afirma.

“Mesmo quando provêm das classes populares, o que a dinâmica da concorrência eleitoral torna raro, os eleitos passam a integrar uma elite, diferenciada de sua base. Por mais que divirjam, estão numa condição comum a todos. Competem, mas convivem e tendem a criar laços pessoais, mais ou menos como numa turma de escola. Então chegamos a cenas assim, em que adversários políticos trocam afabilidades”, destaca.

“Como a política não é só razão, também é paixão, é claro que isso interfere na ação dos representantes. Suas divergências ficam parecendo uma farsa. Na verdade, parece que nós, os bobos, brigamos por aqui, enquanto eles se divertem entre eles. Em suma: se olharmos por um lado, podemos chamar de ‘civilidade’, algo positivo para a democracia. Se olharmos por outro, vamos chamar de ‘domesticação do conflito político’, levando à acomodação e à hipocrisia”, diz ele, confuso porque seu paladino da democracia deu beijocas no responsável pela prisão ilegal de Lula e pela eleição do fascista Jair Bolsonaro.

Ele, naturalmente, não defende o caso amoroso de Dino e Moro, descrevendo esse último como “um juiz ladrão, um corrupto potencialmente assassino, um entusiasta do AI-5”, questionando se isso não geraria “uma repulsa moral instintiva, que bloquearia essas manifestações de afeto?” A resposta é simples: sim — ou, pelo menos, deveria gerar essa “repulsa”. Mas não no caso de Dino, que é integrante da burguesia golpista, assim como Moro.

Por isso, o analfabetismo de Luis Felipe Miguel é expresso quando afirma que “entre o futuro ministro do STF [Dino] e o futuro ex-senador [Moro] deveria haver um abismo de convicções políticas e princípios morais, que os colocaria em campos opostos e irreconciliáveis. Tanto riso, tanta alegria não cabem aí”.

Ao contrário do que diz o cientista político, “tanto riso e tanta alegria” cabem, e muito bem, na relação entre Moro e Dino. Em 2014, quando já estava em marcha um golpe contra o PT, Dino foi eleito governador do Maranhão em uma coligação com o PSDB, do então candidato presidencial Aécio Neves. No governo do Maranhão, ele apoiou a entrega da Base de Alcântara para os Estados Unidos. Enquanto isso, Moro também atuava como agente do imperialismo norte-americano no Brasil por meio da operação Lava Jato.

Quando se tornou ministro da Justiça, assim como Moro durante o governo Bolsonaro, Dino seguiu a política pelo aumento da repressão, sendo responsável por uma ampla gama de medidas repressivas e por colocar os militares nas ruas através das operações de Garantia de Lei e Ordem (GLO). O tal “pacote da democracia” do então ministro da Justiça foi uma das medidas repressivas mais criminosas já adotadas em toda a história do País.

Uma tendência brutal que o pacote serviu para consolidar foi o aumento das penas de reclusão, uma continuação do caminho desbravado por Sergio Moro. Foi Moro, em seu famigerado “pacote anticrime”, que propôs o aumento de pena máxima de prisão de 30 para 40 anos. O abraço em Sergio Moro não deixa dúvidas: no STF, Dino fará parte desse bloco antidemocrático, repressivo e pró-imperialista.

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