O Presidente Lula no dia 01 de janeiro de 2023 juntamente com 350 mil pessoas finalmente concretizou uma derrota ao golpe de 2016, subindo a rampa do Palácio do Planalto e recebendo a faixa presidencial. A gigantesca mobilização que ocorreu em Brasília não deixou mais nenhuma brecha para se ter dúvidas: a eleição de Lula foi um autêntico movimento de massas.
Esse foi um marco histórico de grande relevância, após anos amargando derrotas e perseguições políticas de toda ordem. Os bolsonaristas, que tiveram o apoio da burguesia para terminar o mandato no Executivo e para disputar as eleições, viram esse apoio atualmente sofrer um recuo tático, justamente porque uma intensificação da elevação da escalada de confronto poderia fazer com que o eixo fundamental do regime político burguês perdesse o controle da situação. O que não significa, obviamente, que a burguesia passou a dar afagos ao governo Lula. Pelo contrário, apenas houve uma mudança tática no formato de assédio e de conspiração.
Antes mesmo de assumir a Presidência, sob uma intensa oposição da burguesia, veiculada massivamente nos monopólios de comunicação comprados pelo capital financeiro e pelos políticos porta-vozes dos interesses desses últimos, Lula conseguiu aprovar a PEC do Bolsa Família, que além de garantir os R$600,00 por família em situação de vulnerabilidade socioeconômica, também assegura o acréscimo de R$150,00 por criança com até 6 anos.
Essa massante campanha política da burguesia, que nos faz lembrar as orientações políticas preparatórias do golpe de 2016, foi intensificada após a aprovação da PEC do Bolsa Família, e em todos os seus veículos de comunicação podemos notar a suposta “preocupação fiscal”.
Sabe aquele dinheiro que falta no posto de saúde ou no hospital para fazer o exame médico de algum familiar enfermo? Ou aquele recurso para garantir o subsídio habitacional? Aquele dinheiro que viabilizaria o material escolar dos seus filhos? Que permitiria o seu deslocamento para o trabalho gratuitamente ou para qualquer outro ponto da cidade? Sabe aquele recurso que a Prefeitura ou o Governo do Estado sempre alegam não possuir para que haja luz, internet, tratamento de esgoto e água potável no seu bairro? E aquele recurso que deveria impulsionar o seu pequeno negócio ou desenvolver determinado setor da economia fundamental para melhorar a vida das pessoas? Pois bem, esse recurso vai para a chamada “preocupação fiscal”, que nada mais é do que encher os bolsos dos banqueiros por meio de um verdadeiro esquema de agiotagem, onde os bancos agem como parasitas sugando mais da metade do orçamento do Estado Nacional.
A imprensa capitalista chiou bastante porque o presidente Lula colocou gente de sua confiança em postos chave para fazer avançar a economia do país. Eles achavam o que? Que Lula, o vencedor das eleições, iria colocar o presidente da Febraban no Ministério da Fazenda e satisfazer os anseios designados no programa derrotado nas urnas? Tolice pensar que essa gente é idiota ou que se faz de doida. O que eles querem é criar um clima de histeria para chantagear o governo sob a ameaça de colocar determinados segmentos da população contra o mesmo. A burguesia perde as eleições, seus candidatos não têm votos e ainda querem mandar no governo.
Sabendo que institucionalmente as pautas do governo poderiam ficar travadas, em determinadas pastas Lula fez concessões, ora as oligarquias e a burguesia nacional que podem causar situações complicadas futuramente (pois a esmagadora maioria desses elementos tem compromisso historicamente com as pautas neoliberais de destruição dos direitos dos trabalhadores e apoiaram o golpe de 2016), em outras de menor potencialidade política, alocou os identitários pró-imperialistas para não perturbar a paciência pelo menos por um período com suas pautas ocas.
O fato de Lula ter mirado as pastas econômicas colocando figuras de sua confiança, demonstram a assertiva escolha de no plano imediato procurar melhorar as condições de sobrevivência dos trabalhadores. Lula sabe que ganhar as eleições não significa ter um apoio religioso e cego da população. Se as condições de sobrevivência não melhorarem, a investida política dos monopólios de comunicação e do capital financeiro contra o governo, podem passar a ganhar eco nos segmentos menos esclarecidos da população e o apoio político ao governo começar a ficar fragilizado.
Porém, somente tomar algumas medidas para aliviar a situação de sobrevivência com programas sociais, sem realizar uma reestruturação no sistema financeiro nacional, um processo de reindustrialização, de retomada das empresas fundamentais privatizadas e da reforma agrária, poderá rapidamente se tornar algo meramente artificial sem um amparo econômico concreto e a governabilidade ir por água abaixo pelo fato da economia não alcançar resultados positivos reais. A situação caótica que o país se encontra exige medidas audaciosas e que mirem as estruturas econômicas nacionais.
Essas medidas a que me referi, que podem criar um clima efetivo (e não artificial) de reconstrução do país, só podem ser conquistadas sob o amparo das massas nas ruas, porque entram completamente em rota de colisão com o capital financeiro internacional e com os interesses dos países imperialistas. E tal questão, relacionada ao processo de mobilização, ainda é uma incógnita, se isso será feito ou não, apesar de que se deve ter em conta que o governo está apenas iniciando. Uma coisa é fato: há sim possibilidade e potencialidade para isso. O segundo turno das eleições e a posse do Presidente Lula demonstraram claramente a disposição de luta da militância e das amplas massas. Essa opção, só não pode ser tomada tarde demais.
Fonte: Gabriel Araújo, do Movimento Nacional de Luta pela Moradia