O “combate ao discurso de ódio” rapidamente está se transformando em “combate à esquerda”. Essa é a avaliação do presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, feita durante a transmissão do programa Análise Política da Semana, que, excepcionalmente, foi ao ar nesta quarta-feira (20). O dirigente do PCO comentava o episódio da invasão do perfil da primeira-dama Rosângela “Janja” Lula da Silva, fato que ensejou um ataque gratuito por parte da primeira-dama à liberdade de expressão, na forma de uma defesa da regulamentação do setor.
“As colocações da ‘Janja’ chamam atenção por serem gratuitas. Se você teve sua rede social invadida, o que teria de ser feito é pedir à polícia para investigar quem invadiu sua rede social e ir atrás da pessoa, o que efetivamente foi feito. Falar que as redes sociais precisam de regulamentação é impróprio, não tem nada a ver uma coisa com a outra.”
Para Pimenta, o caso reforça o empenho do Partido dos Trabalhadores (PT) em garrotear as redes sociais, o que os petistas acreditam que teria o benefício de sufocar o bolsonarismo. A crença dos esquerdistas é que, assim, seria coibido o “discurso de ódio”.
“Quando apareceu a tese do ‘discurso de ódio’ e a esquerda super ignorante entrou de cabeça, avisamos: ‘isso daí é perigoso, não é uma coisa libertária e vai terminar com a opressão da esquerda’”, disse, acrescentando: “é a proibição da crítica política”.
Conforme o dirigente do PCO, a consequência dessa política é que, longe de combater o bolsonarismo, o cerceamento à liberdade de expressão ameaça a própria esquerda. Citando os processos civis e criminais sofridos pelo PCO, como o do ex-governador João Doria (PSDB) e de representantes do sionismo no País, Pimenta destaca:
“É evidente que esse negócio de ‘discurso de ódio’, do racismo, da regulamentação das redes sociais é uma coisa direitista, reacionária e já se mostrou completamente como uma forma de repressão à esquerda.”
Para o comunista, o PT perdeu completamente o rumo na luta pelos direitos democráticos. À luz da chamada “PL das Fake News”, os pacotes do atual ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, Pimenta destaca que se a posição expressa por “Janja” for levada adiante, marcará o governo Lula como um dos mais repressivos dos últimos anos.
Golpe de Estado na Argentina
Segundo o dirigente comunista, o recém-empossado presidente da Argentina, Javier Milei, é “ultra-sionista e ultra-neoliberal”. Segundo Pimenta, quem acreditava que a burguesia nacional de um país atrasado e o imperialismo são o mesmo, perceberá o engano agora com a experiência argentina.
“Ele é o candidato que desmascara a farsa do anti-bolsonarismo. Se Bolsonaro fosse igual a Milei, o imperialismo aceitaria ele sem piscar. Eles [a burguesia brasileira e o imperialismo] não são contra Bolsonaro por conta da política direitista dele, mas porque o tipo de política que Bolsonaro tem preconizado e sua força política não são o que a burguesia quer, principalmente no campo econômico. Não há oposição ao seu ímpeto direitista, repressivo e fascista. Na Argentina, até uma parte expressiva do partido peronista apoia Milei.”
Segundo Pimenta, mesmo com um número expressivo de argentinos passando fome e na miséria, o novo presidente promete impulsionar uma segunda grande onda do neoliberalismo na nação, porém em uma conjuntura onde a economia argentina é muito mais débil do que nos anos 1990, quando Carlos Menem implementou o que seria a primeira onda. É certo, ainda, que a política de guerra do imperialismo contra os trabalhadores argentinos produzirá uma explosão social no país vizinho. Para o comunista, é a crise mundial que empurra a ditadura global para um governo como o que Milei se propõe a fazer na Argentina. “Antes eles do que nós”, aponta Pimenta.
Por fim, o presidente do PCO apresenta ainda uma explicação para a questão política indicada pelo governo Milei, fundamentada na crise do imperialismo e na necessidade de organizar o próprio quintal.
“O imperialismo lançou uma política de golpes de Estado para acabar com os partidos e os governos nacionalistas. A direita está no governo hoje no Uruguai, Paraguai, na Argentina e no Equador. O único lugar em que não conseguiram dar um golpe foi na Venezuela. Isso abriu uma nova etapa política, com a reação popular forçando recuo em alguns lugares, como Brasil, Chile e Argentina. Tivemos um período de incerteza, mas o caso Milei, na Argentina, abre uma nova etapa, que consiste no seguinte: ‘Milei é o Bolsonaro ideal’. É um doido, fala com cachorro morto, mas é neoliberal e está disposto a reprimir a classe trabalhadora argentina de uma maneira intensa. Se ele for bem sucedido, abrirá uma nova etapa no mesmo processo político inaugurada com o golpe de Honduras.”
Nova etapa da luta Palestina
Outro aspecto da crise internacional destacada por Pimenta é o conflito na Palestina. Comentando o artigo “Dilúvio de Al-Aqsa e erro de cálculo” publicado do portal Esquerda Online em sua edição do último dia 15, o presidente do PCO rebate críticas feitas pelos esquerdistas ao partido Movimento Resistência Islâmica (Hamas). Lendo a nota publicada no dia 19 pelo Hamas, Rui Costa Pimenta caracteriza como “loucura” as críticas feitas ao partido palestino. “Mostra como a esquerda está distante dos acontecimentos”, disse.
“O Hamas sabia que o exército de Israel retaliaria de uma maneira muito violenta. A própria Faixa de Gaza foi bombardeada mais de seis vezes. As forças armadas israelenses, sionistas, estão acostumadas a matar os civis indiscriminadamente, sempre tiveram a proteção da imprensa internacional e acharam que podiam encarar.”
Mas o que fazer então, questiona Pimenta, se a reação era esperada? O Hamas deixou o povo morrer? Se o Hamas se rendesse, o povo palestino ganharia alguma coisa?
“Não”, responde o marxista, “e não é o Hamas que pensa assim, são os palestinos. É óbvio que os palestinos estão pensando: ‘prefiro morrer a me entregar pra esse pessoal’. É um preço muito alto, mas que todo mundo está disposto a pagar.” “Nos últimos dez anos”, continua, “intensificou-se a repressão do governo israelense contra os palestinos. O PIB caiu mais de 60%, o pessoal está sendo expulso. Ninguém mais tem ilusão, não só o Hamas, mas o povo.”
Gonet “independente demais”
Por fim, o presidente do PCO destacou os desdobramentos da ascensão de Paulo Gonet à Procuradoria Geral da República, com seu gabinete sendo montado com elementos lavajatistas e ligadas ao processo do Mensalão. Comentando matéria do sítio Antagonista sobre o tema, que tratava da consideração de Lula sobre a independência de Gonet, Pimenta acrescentou: “independente demais quer dizer que está no bolso do imperialismo”.
“Fica aí a pergunta sobre o que está acontecendo no governo do PT. O pessoal não protestou, mas também não gostou. Dá a impressão que o governo está perdendo o controle da situação. Temos as derrotas do governo no Congresso e isso se enquadra em um cenário internacional contraditório. Na Palestina e na Ucrânia, a derrota do imperialismo é grande, mas ele vai reagir e uma das medidas essenciais é colocar a casa em ordem.”
Assista na íntegra o programa que foi ao ar no último dia 20 aqui. Não deixe de curtir e compartilhar os programas da Causa Operária TV, contribuindo assim para o fortalecimento de uma esquerda operária, independente e revolucionária.