O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, anunciou o economista Luis Andrés Caputo como seu futuro ministro da Economia. O anúncio fora feito em entrevista à rádio argentina La Red, logo após a chegada de Milei de uma viagem aos EUA, caracterizada pelo presidente eleito como uma viagem “muito, muito, muito positiva”. Segundo a entrevista, Caputo permaneceu em Washington, onde reuniões com Gita Gopinath, economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI) estavam previstas.
O futuro mandatário argentino e sua equipe viajaram para a principal nação imperialista do mundo no último dia 27, onde discutiram política e economia com o conselheiro de Segurança Nacional do governo Biden, Jake Sullivan, além de terem se reunido com o principal conselheiro presidencial para a América Latina, Juan González, com o subsecretário de Estado para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Brian Nichols, e com o embaixador dos EUA na Argentina, Marc Stanley. Antes, no dia 27, em Nova Iorque, Milei reuniu-se com o ex-presidente americano Bill Clinton e o ex-senador Chris Dodd, ambos do Partido Democrata, o mesmo do atual mandatário americano Joe Biden.
Homem forte da economia no governo de Mauricio Macri, Caputo foi o organizador de uma devastação econômica sem preecdentes na história do país vizinho. Sua política levou o Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas de um determinado país) argentino a cair de US$557,5 bilhões em 2016 para US$447,8 em 2019, queda de 19,67%. Praticamente no mesmo período, entre 2015 a 2019, a inflação acumulada ficou em 295% (“Fernández acumula a maior inflação dos últimos 5 governos”, Poder360, Aline Marcolino, 19/2/2023).
Consequência da política econômica, dados da Observatório da Dívida Social da Universidade Católica Argentina (UCA) indicam que em 2019, 40,8% dos argentinos estavam abaixo da linha da pobreza. Ainda, o estudo indica que pobreza extrema atingia 59,5% das crianças e adolescentes do país vizinho, que chegou a 8,9% de sua população não tem teto (“Pobreza na Argentina chega a 40,8%, diz estudo”, Francisco Jueguen, de La Nación, traduzido por O Globo, 5/12/2019). Tarifas como o gás chegaram a subir mais de 2.000% (“Bariloche: llegaron facturas de gas con una suba de hasta ‘2.000 por ciento’”, La Voz, 18/5/2016).
Secretário de Finanças de Macri entre 2015-2017, sua chefia da pasta levou o país a apresentar um deficit orçamentário superior a 9% (“La inflación ‘natural’ en Argentina duplica la que se vive mes a mes”, Walter Graziano, Ámbito, 26/4/2018), indicando um descontrole das contas públicas, a despeito da demogagia feita pela direita com a política de reprimir despesas e manter o orçamento equilibrado, que em grande medida, não passe de garantir a manutenção do parasitismo perpetrado pelos banqueiros aos recursos públicos. Ao povo argentino, as loucuras desta política econômica custaram mais de US$9 bilhões das reservas do Banco Central da República Argentina (BCRA), 10% do total da nação (“Argentina: ¿Cómo se origina una crisis cambiaria?”, El Comercio, 21/5/2018).
Com a crise cambial do peso argentino colocando o governo Macri sob intensa pressão popular, Caputo deixa o ministério e assume a presidência do BRCA em julho de 2018. Agora à frente da política monetária, Caputo elevou a taxa básica de juros do país a mais de 60% ao ano, a mais alta do mundo (“’Fantasma del default’, ‘tasa más alta del mundo’ y comparaciones con 2001: el mundo sobre la crisis de Macri”, Política Argentina, 30/8/2018). Em total alinhamento com os interesses dos piratas das finanças mundiais, as medidas adotadas pelo BRCA sob seu comando, levaram o peso argentino a se desvalorizar em mais de 25% em relação ao dólar em apenas dois dias (idem). Rapidamente, o país começou a reviver a grande crise de 2001, com protestos e panelaços explodindo por toda a Argentina, o que terminaria levando à queda de Caputo em setembro.
Com o neoliberalismo radical praticado por Caputo à frente da pasta da Economia, colocando a Argentina na iminência de uma convulsão social, a exemplo do que se verificou em outros países do subcontinente. A severidade da crise produzida pela política do economista acabou levando-o a ser demitido de todos os cargos que ocupou na gestão Macri e também, inviabilizou a reeleição do então presidente.
É de se esperar que, com Milei, Caputo volte à cena para dar continuidade à sua obra macabra, responsável por empobrecer o povo argentino em proporções ainda não vistas enquanto atende os tubarões da especulação financeira. A questão é acompanhar para ver o quanto da política imperialista para a nação vizinha ele conseguirá implementar, sob o risco de criar uma turbulência em um povo já esmagado pela miséria produzida pela passagem anterior e ainda longe de superada.